O lançamento do Xbox 360, em novembro de 2005, trouxe consigo uma nova funcionalidade que mudaria para sempre a forma de jogar de milhões de jogadores pelo mundo. O sistema de Conquistas e Gamerscore se consolidou na comunidade do console ao oferecer diferentes objetivos a serem cumpridos dentro dos jogos em troca de pontos, estes que por sua vez ficariam registrados nos perfis da Xbox Live, a rede online do Xbox 360. Era uma forma mais clara e direta de recompensar esforços, e permitia que os jogadores exibissem seus feitos e comprovassem suas façanhas junto aos amigos.
Em julho de 2008, a Sony seguiu os passos da Microsoft com um sistema semelhante. A atualização 2.40 do PlayStation 3 implementou o sistema de troféus no console. O sistema de troféus não contava com contagem de pontos como no Xbox, mas oferecia uma “recompensa máxima” por meio do hoje famoso “troféu de platina” que, quando presente na lista de objetivos do jogo no console, podia ser conquistado ao desbloquear todos os outros troféus do conjunto.
Com o passar do tempo, conquistas e troféus se tornaram chamativos principais para jogadores de ambas as plataformas, que adotaram a busca por pontos e platinas como um hobby e, eventualmente, como uma rotina.
Além dos 100%
Nas gerações anteriores de consoles, até a era PS2/XBox/Game Cube, o objetivo máximo praticado por mim era, primariamente, finalizar um jogo do início ao fim. Raros eram os casos em que eu adotava o modo complecionista e buscava fechar 100% do que um jogo oferecia. Embora o tempo disposto por mim quando adolescente fosse vasto, eu não tinha paciência para jogar o mesmo jogo mais de uma vez. A fila precisava andar. Raras exceções podem ser citadas, como God of War, Black e Burnout Dominator.
A busca por troféus não veio antes de 2011, quando Green Lantern: Rise of the Manhunters se tornou meu primeiro troféu de platina. Um novo ciclo se iniciou para mim como jogador, sendo este difícil de ser quebrado e, de certa forma, incômodo em alguns aspectos.
A busca por troféus nunca se tornou incessante e compulsiva, como foi com algumas pessoas que conheci durante meu tempo como “caçador de troféus”. Entretanto, havia sim uma certa “pressão mental” por eles. Alguns títulos de PS3 não os possuem, tendo estes sido lançados, em sua maioria, antes do sistema ser implementado. Houve um período em que eu me recusava a jogar estes títulos que não possuíam troféus, e eu tenho plena certeza de que deixei de jogar excelentes títulos apenas por este motivo besta.
Quando você se propõe a experimentar um jogo, pressupõe-se que algo específico chamou sua atenção: os visuais, a premissa da história, a jogabilidade ou a curiosidade de conhecer uma franquia de sucesso. Conheci pessoas que estudavam listas de troféus para decidir se comprariam ou não algo.
De certa forma, é interessante para algumas desenvolvedoras esse tipo de comportamento. Joguei diversos games “infantis”, baseados em filmes Disney, Pixar e Dreamworks por serem fáceis de platinar. Conheci alguns bons títulos que, se não fossem os troféus, eu ignoraria por não fazer parte do público-alvo. Ao mesmo tempo, há também uma infinidade de games de baixíssima qualidade infestando as lojas dos consoles, simplesmente pelo fato de oferecerem troféus e conquistas de extrema facilidade. Jogos que podem ser completados em 5, 10 ou 15 minutos; que requerem apenas o pressionar de um botão para “cutucar” um vidro de maionese.
Comportamentos diferentes
Conforme o tempo foi passando, minha mente foi se distanciando da mentalidade de “caçador de troféus”. Com 165 platinas registradas, o que é um número bem baixo perto de alguns amigos que possuo em minha lista na PlayStation Network, hoje consigo aproveitar melhor meus jogos sem me preocupar se vou finalizá-los na maior dificuldade possível, com um braço amarrado nas costas, usando apenas a faca e sem tomar dano de nenhum tipo.
Entretanto, é preciso deixar registrado meu fascínio pelos diversos tipos de comportamentos que encontrei durantes os últimos dez anos. Jogadores que fazem o famigerado boost de troféus online em jogos como Friday The 13th, com objetivos absurdos como completar 1000 partidas jogadas como o assassino Jason e 1000 partidas jogadas como um dos sobreviventes.
Há também aqueles que só iniciam um jogo no console se tiverem certeza de que irão completar 100% da lista de troféus/conquistas. Tudo isso para manter a uniformidade de seus perfis. Jogos cuja porcentagem não será de 100% são jogados em outros perfis para que não haja quebra dessa uniformidade mencionada.
É importante frisar que não há um comportamento correto, ou uma maneira ideal de se aproveitar um jogo: é uma questão pessoal. O que importa, de fato, é se há diversão no processo de jogatina.
Revisão: Jason Ming Hong