No final dos anos 80 a Nintendo já havia se consolidado dentro da indústria de games. O carismático encanador bigodudo, Mario, já era associado à empresa e se transformou no mascote da gigante japonesa. Nessa época, outra grande empresa japonesa, diante do declínio da indústria de arcades, iniciava a produção de seu próprio console. E assim, em 1985, a SEGA lançava o Master System, popularizado em nosso país por conta da parceria com a saudosa Tec Toy.
Jogos de ação e aventura de plataforma 2D representavam o grosso dos lançamentos da época. Mesmo diante da diversidade de títulos desenvolvidos, o game de um personagem em específico teve uma aceitação tão boa quanto Super Mario Bros. Trata-se de Alex Kidd. Numa era pré-Sonic, se aproveitando do sucesso de Alex Kidd in Miracle World, de 1986, a SEGA transformou o herói em seu mascote oficial.
Passados 35 anos, uma adaptação do clássico chegou aos consoles e PC, no dia 22 de junho. Desenvolvido e publicado pela Merge Games, Alex Kidd in Miracle World DX veio para aquecer os corações daqueles que cresceram se aventurando no mundo do carismático personagem e para uma nova geração que acha tudo “cringe”.
Desenvolvimento: Merge Games, Jankenteam
Distribuição: Merge Games
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Plataforma, Ação, Arcade
Classificação: Livre
Português: Legendas e interface
Plataformas: PC, PS4, Switch e Xbox One
Duração: 4 horas (campanha)/5 horas (100%)
O início do reino de terror de Janken, o Grande
A história de Alex Kidd in Miracle World DX se passa no reino de Radaxian e apresenta Alex Kidd, um jovem que passou anos no Monte Eterno estudando com o mestre Nurari uma antiga arte marcial, que dava grande força às pessoas, chamada Shellcore. Enquanto Alex treinava, Radaxian estava sendo invadida por Janken, o Grande, dando início a um reino de terror. Caberá ao jovem Alex Kidd, com suas ações heróicas, restabelecer a paz novamente na região.
Alex Kidd in Miracle World segue o exemplo de boa parte dos jogos até meados dos anos 90, quando as histórias não eram muito originais e consistiam apenas em dar um elemento motivador que justificasse minimamente a existência da aventura. Ainda assim, mesmo com toda a simplicidade, o game estabelece um roteiro coeso e que instiga a curiosidade do jogador entregando algumas surpresas e plots pelo caminho.
Os títulos da geração Nintendinho e Master System guardam muito da dobradinha “pontuação e dificuldade” para prolongar a nossa experiência com os jogos. Essa tendência foi diminuindo ao longo da quarta geração de consoles, onde as narrativas começaram a ganhar um pouco mais de complexidade e relevância naquele mundo em pixel-art. Como fruto desse período, Alex Kidd in Miracle World é uma experiência curtinha, mas que se apoia na dificuldade para prolongar a sua gameplay.
A mesma aventura com uma nova roupagem
A adaptação feita pela Merge Games seguiu o modelo “um por um”. Salvo a questão dos salvamentos automáticos a cada avançar de fase (que abranda demais a dificuldade), a possibilidade de jogarmos com vidas infinitas – sem o auxílio iniciamos sempre com três vidas. Morreu? Faz a fase novamente -, as composições em chiptunes reinterpretadas e o visual repaginado num belíssimo pixel-art, toda a mecânica, controles, level design e estrutura de gameplay permanecem as mesmas. Para todos os efeitos, temos a mesma aventura com uma nova roupagem.
Essa escolha permitiu que a transição em tempo real entre o visual 8-bit e o novo possa acontecer ao apertar de um único botão no controle. Mas, também permitiu que alguns problemas existentes no jogo original retornassem nessa versão deluxe. O pulo e a hit box, por exemplo, são imprecisos e frustrantes vez ou outra. Não serão poucas as vezes que você irá morrer e mentalizar “maior mentira isso aí, a máquina está roubando”. Essas são situações correntes nas primeiras gerações de console e que foram mantidas nesse remake.
Uma coisa é você mexer desnecessariamente em algo que já estava bom, como a horrorosa mudança na física do episódio 1 de Sonic 4, por exemplo. Em Alex Kidd, no entanto, os controles eram problemáticos na época e continuam sendo na nova velha aventura. Mas, é certo que o fator nostalgia diminui o nosso rage diante desse problema. Outro elemento do jogo original mantido na nova aventura – com exceção de uma fase ou outra – é o travar de tela após a progressão pelos cenários. Isso quer dizer que conforme vamos avançando, a tela nos acompanha e não nos permite mais voltar para trás. Então, se esqueceu de coletar algum item, você deverá refazer a fase. Mas, isso tem que ser feito naquele momento, porque não há a possibilidade de revisitar as fases individualmente depois que avançamos por elas.
Referências ao popular jogo japonês
As fases são bem diversificadas. Montanhas, fundo do mar, vales, florestas, vilarejos, cavernas vulcânicas, castelos e até mesmo o céu pode ser explorado. A riqueza dos detalhes saltam à vista e tornam-se ainda mais belos por podermos compará-los ao design do original a qualquer momento. É impressionante e digno de nota o trabalho da equipe de desenvolvedores em dar vida a esses cenários. Tudo é muito colorido e o pixel-art é tão suave quanto um desenho animado. Alex Kidd nunca foi tão bonito quanto agora. Os chefes de fases também foram todos redesenhados, e a animação da dinâmica de papel-pedra-tesoura (Janken, no Japão) das batalhas, ficou lindíssima!
Para quem não sabe ou não fez ainda a associação, toda a história de Alex Kidd in Miracle World brinca com o popular jogo japonês. Os chefes de fase, por exemplo, possuem um design de uma mão fazendo papel, pedra ou tesoura. O próprio nome do vilão do jogo, Janken, já entrega a brincadeira. Alex Kidd in Miracle World DX possui mecânicas simples que consistem basicamente em pular e socar tudo que aparecer pela frente. Nas fases, a gente ainda consegue obter itens provisórios (como um super soco e invencibilidade temporária) ou permanentes (como o amuleto que mostra a mão do boss no papel-pedra-tesoura) que nos auxiliam na jornada.
Os itens provisórios são possíveis de serem comprados também nas lojas que aparecem no início das fases em que batalhamos contra um boss. Eles podem ser de grande utilidade se ativados no momento correto. Principalmente, se a aventura for apreciada sem fazer uso das facilidades que a nova aventura proporciona, como as vidas infinitas. O problema é que no modo tradicional, após o game over, retornamos para o início da fase, sem nenhuma quantia do dinheiro que acumulamos na aventura até então. E como você irá morrer muito, isso acrescenta um grau de dificuldade ainda maior ao jogo.
O mais puro suco de nostalgia
Após zerar a curta campanha, dois novos modos são ativados: o clássico e o desafio dos chefões. No primeiro, a Merge Games buscou recriar de forma purista o clássico da SEGA. Já no segundo, podemos reviver as lutas contra os chefões existentes. A decisão de manter os controles o mais próximo possível do original tem seus prós e seus contras. Longe da rivalidade envolvendo Millennials e a Geração Z, o game possui elementos capazes de agradar a ambos e prova que um clássico nunca será cringe. Em linhas gerais, Alex Kidd in Miracle World DX é o mais puro suco de nostalgia e um presente para os fãs do jogo original do Master System.
Cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong
Alex Kidd in Miracle World DX
Prós
- Visual belíssimo
- Forte fator nostalgia
- Transição entre o visual 8-bit e o novo
- Fases diversificadas
- Localização PT-BR
Contras
- Controle impreciso
- Hit box problemático
