Em meio à corrida espacial e as incertezas que a Guerra Fria suscitava, a indústria cultural – através de obras de ficção científica – passou a imaginar um futuro em que paz e tecnologia reinavam. Não foram poucas as obras que exploravam a ideia de uma verdadeira epopeia espacial, em que os seres humanos, apesar de toda limitação e problemas sociais, conseguiam ter a capacidade inventiva de nos levar a explorar o espaço.
Antes disso, diante do avanço da ciência ao longo do século XIX e das contradições de uma sociedade que crescia sob a égide do consumo irresponsável, os romances imaginavam a existência de seres de outros mundos com uma tecnologia mais avançada que buscavam nos subjugar. Nesse sentido, obras como The War of the Worlds, de Herbert George Wells, publicada em 1897, são icônicas.
É seguro dizer que os primeiros videogames surgiram à luz dessas temáticas sci-fi, seja o pai dos jogos eletrônicos, Spacewar!, ou o famoso Space Invaders – que popularizou as máquinas de fliperama no final dos anos 70 -, os Shmup (ou jogo de “navinha”, para os mais íntimos) eram presença cativa nos arcades e, posteriormente, passaram a figurar também na casa das pessoas, quando a Atari estabeleceu os termos do que viria a ser um console caseiro.
Com o estrondoso sucesso do gênero, os Shmup foram acompanhando a evolução tecnológica dos arcades e consoles de mesa. Com a popularização dos games num mundo tridimensional, os joguinhos de pixel simples e de progressão bidimensional foram ficando para trás. Coube aos estúdios independentes resgatar um pouco da mística desses jogos. Assim, chegamos a Binarystar Infinity, um game desenvolvido pela Ricci Cedric Design e publicado pela Forever Entertainment, no dia 04 de fevereiro, para o Nintendo Switch e PC.
Desenvolvimento: Ricci Cedric Design
Distribuição: Forever Entertainment
Jogadores: 1-2 (local)
Gênero: Ação, Arcade, Tiro
Classificação: 10 anos
Português: Não
Plataformas: PC e Switch
Duração: Sem registros
Visual quase monocromático
Na data estelar 2258.42, a maior lua do sistema, Talios, foi destruída por uma nave desconhecida. Como membro da força especial Binarystar, nossa missão é investigar e conter a ameaça inimiga. Para todos os efeitos, Binarystar Infinity é um típico arcade. Um game homenagem, na verdade, que busca trazer um pouco da experiência dos primeiros Shmup tanto para uma nova geração quanto para aqueles que cresceram curtindo esses jogos.
Mesmo apresentando uma pequena e simples introdução ao mundo de Binarystar Infinity, não há a necessidade de um roteiro elaborado, nem nada do tipo. Nesse sentido, a lore está misturada na origem do próprio gênero e na bagagem que ele carrega. A busca pelo maior score, avançar pelos níveis e chefões, a gameplay e os controles simples são tudo o que você precisa para desfrutar do game.
O visual, apesar de simples, é sensacional, com charmosos gráficos em pixel-art que remetem aos áureos tempos dos 1-bit Shoot ’em Up espaciais dos primeiros arcades. A paleta de cores, nesse sentido, é quase monocromática, apresentando apenas tons de preto, vermelho e branco. Particularmente, achei incrível o design retro do jogo: um misto de nostalgia e inovação. As melodias em chiptunes também são muito boas e casam perfeitamente com o estilo do game, divertindo ao longo das oito fases que temos que desbravar.
Existem duas formas de progressão: a padrão é a horizontal, como a que vemos em jogos como R-Type e Thunder Force, por exemplo; mas, podemos optar pela progressão na vertical, como em 1942 e o maravilhoso Tiger Heli. Eu optei por jogar o game todo com progressão horizontal. Achei um pouco mais difícil dessa forma e o meu masoquismo interior acabou falando mais alto. Ao experimentar a progressão vertical tive mais facilidade em desviar dos ataques inimigos. Sinceramente, não sei se foi apenas uma impressão. Mas, de toda forma, as duas formas são super divertidas.
Experiência purista
Esse jogo, mais do que qualquer outro que tenha jogado nos últimos tempos, me fez ter uma vontade danada de adquirir um controle estilo arcade para me aventurar. Acredito que essa seja a forma ideal de se apreciar Binarystar Infinity. Não que a gente não possa curti-lo com os Joy-con ou o Pro-controller, mas parte da experiência do game está em emular as mecânicas dos antigos shooters dos arcades.
Por conta disso, os controles são deliciosamente simples. Sério! Daria para jogá-lo usando aquele joystick com manete e um botão do Atari (seria fantástico, aliás). Basicamente temos dois comandos: com o analógico (ou D-pad) controlamos nossa nave de forma livre, e com qualquer outro botão (A, B, X e Y) atiramos. Nada de dash, troca de armas, especiais ou coisas do tipo. Binarystar traz um experiência bem purista e passa longe da complexidade dos shooters espaciais mais recentes.
No menu de opções podemos alternar o modo de tiro para automático ou manual. No primeiro nos livramos de uma tendinite ao final do jogo, mas os disparos são muito lentos. E isso requer uma maior destreza para desviar e atacar os inimigos em tela, fazendo com que Binarystar Infinity fique mais desafiador do que de fato é. No modo de tiro manual podemos cadenciar melhor os disparos, mas, jogando nos controles comuns, o ato de esmagar os botões para abater os inimigos cansa muito rapidamente. Geralmente, eu colocava o controle no meu colo para não cansar tanto – fiquei velho, gente, acontece!
Ainda falando sobre os controles, uma possibilidade me chamou atenção positivamente. Como disse mais acima, no game temos a opção de jogar com progressão horizontal ou vertical. Com o Switch no modo portátil, quando optamos pela progressão vertical, temos que jogar com o console em pé. Nesse sentido, os comandos do Joy-con se adaptam como se estivéssemos numa mini máquina de arcade. No caso, passamos a utilizar apenas o Joy-con esquerdo, usando o analógico para movimentar a nossa nave e os pequenos botões direcionais (qualquer um deles) para atirar nos inimigos.
Gameplay agradável
Com uma gameplay extremamente agradável, iniciamos o jogo sempre com três vidas. Conforme avançamos pela fase, podemos obter power ups que nos concedem vidas extras, aumentam a velocidade da nave, dão orbes de proteção (como em Thunder Force) e três tipos de armas que possuem eficácias diferentes nas batalhas. Essas armas, no entanto, não são acumulativas. Ou seja, só podemos carregar uma por vez. Porém, o seu poder de fogo pode sim ser acumulado e ampliado, com o disparo tomando quase que a tela toda quando no máximo.
O jogo conta com oito missões, com level design ligeiramente diferente um do outro. Em Binarystar Infinity temos uma boa variedade de inimigos: cerca de vinte. Ao final de cada fase enfrentamos um boss. Uma crítica que faço fica por conta da falta de criatividade na construção dos chefes de fase, pois apresentam poucas mudanças de design e na estratégia de combate que devemos traçar para derrotá-los.
Como nos clássicos Shmup a dificuldade é um pouco elevada e requer que memorizemos o padrão de movimento das naves inimigas em tela. Se perdermos todas as vidas, falhamos em nossa missão e somos jogados de volta para a tela do título. E acredite: isso irá acontecer muitas vezes! Mas, diferente do que víamos nos jogos mais clássicos – e seguindo uma tendência mais próxima das experiências e dificuldades dos atuais – ao conseguirmos passar pelo chefão não há a necessidade de completar a fase novamente quando a tela de game over aparece.
Além do clássico modo Arcade, temos mais dois modos de jogos que só são desbloqueados quando fechamos o modo Arcade pela primeira vez: Survival e Boss Rush. No modo Survival temos que sobreviver o maior tempo possível. Já no Boss Rush (como o próprio nome sugere) batalhamos contra os chefões do jogo. Em todos esses modos há a opção de jogarmos com um amigo, num cooperativo local. Porém, infelizmente, Binarystar não conta com um multiplayer online.
Reviva os clássicos arcades
Apesar de parecer um pouco repetitivo, Binarystar Infinity recria a estrutura, visual, controles e dinâmicas dos 1-bit Shoot ’em Up dos clássicos arcades com maestria. Uma pena o jogo ser curto demais e não ter a possibilidade de curti-lo online com os amigos. Ainda sim vale muito a pena dar uma conferida.
Encaro Binarystar Infinity como uma homenagem, uma obra que possui carisma e competência suficientes para agradar jogadores de todas as idades. Por fim, sua estrutura de fases permite apreciá-lo aos poucos, o que é ótimo para aliviar o estresse do dia a dia. Saudosista ou não, Binarystar Infinity é um prato cheio para qualquer um que ame videogames.
Cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Kiefer Kawakami