Cyberpunk 2077 Capa

Review Cyberpunk 2077 (PC) – O que existe além de Night City?

Provavelmente um dos jogos mais aguardados da década foi Cyberpunk 2077. Criado e desenvolvido pela consagrada CD Projekt Red, a mesma que deu vida ao aclamado The Witcher 3, Cyberpunk 2077 é um videogame baseado no RPG de mesa Cyberpunk 2020, escrito por Mike Pondsmith em meados de 1988. Entre muitos devaneios, problemas de gerência e várias promessas não cumpridas, Cyberpunk 2077 foi finalmente lançado em dezembro de 2020, envolto de muitas polêmicas, principalmente por conta das versões para consoles da geração passada (Xbox One e PS4) terem seus detalhes altamente ocultados do público.

Assim como a mídia jornalística em geral, tivemos acesso à versão de PC (GOG) para poder ingressar neste mundo futurístico idealizado pela CDPR, e pudemos conferir se, apesar da grande quantidade de bugs existentes, existe um diamante bruto escondido embaixo de tanta poeira.

Desenvolvimento: CD Projekt Red
Distribuição: CD Projekt Red
Jogadores: 1 (local)
Gênero: RPG, Ação, Tiro, Aventura
Classificação: 18 anos
Português: Legendas e dublagem
Plataformas: PC, PS4, Xbox One
Duração: 21.5 horas (campanha)/99.5 horas (100%)

Olá, Night City

Criação de personagem

Em Cyberpunk 2077, é possível escolher entre três inícios diferentes para seu personagem: Nômade, Corporativo ou Menino de Rua. O primeiro trata-se de um grupo de pessoas que vive mais afastado do centro da cidade, como se fosse a área desértica de GTA V, representados na versão dublada em português do Brasil com um sotaque interiorano pra lá de forçado.

Os corporativos são, justamente, pessoas da alta sociedade, pertencentes ao grupo de empresas que basicamente comandam Night City e têm o poder em suas mãos. Já o Menino de Rua, a “facção” que resolvi escolher, coloca o jogador na pele de um protagonista “das quebradas”, um personagem que teve suas origens formadas por pessoas do baixo clero e excluídos da sociedade padrão.

Rumos de vida

A grande diferença entre estas três escolhas está muito mais relacionada aos diálogos disponíveis em algumas conversas durante o jogo, cada qual possuindo sua abordagem e forma de falar de acordo com sua origem. Além disso, o início também é alterado, apresentando uma trajetória levemente diferente até que, finalmente, o enredo converge para uma mesma trajetória. De qualquer forma, você sempre estará na pele de Vincent ou Valorie, dependendo da escolha do sexo de sua protagonista (cujo elemento está atrelado à escolha de sua voz), comumente referenciado como V.

Logo nos primeiros minutos de Cyberpunk 2077, você conhecerá Jackie Welles, um dos NPCs mais carismáticos e cativantes de todo o jogo, que acaba se tornando seu parceiro durante todo o prólogo, adquirindo junto ao seu personagem a missão de executar um grande golpe contra a megacorporação mais poderosa de Night City, a Arasaka.

Que ano horrível!

Entre trancos e barrancos, V acaba contraindo uma espécie de vírus em seu “sistema” (as pessoas do jogo comumente têm corpos cibernéticos, dotados de um sistema operacional) ao proteger o produto do roubo encaixando-o em uma espécie de “entrada USB” em seu pescoço, considerando que as pessoas neste universo são altamente tecnológicas e possuem implantes e partes cibernéticas em várias partes do corpo.

Logo mais, o protagonista começa a ter alucinações com um homem interpretado por ninguém menos que Keanu Reeves, mas rapidamente percebe que, na verdade, a figura que surge somente em sua visão possui a consciência de um terrorista falecido no ano de 2020: Johnny Silverhand. Apesar de ter escondido vários detalhes e personagens emblemáticos da trama, acredito que passar desse ponto entraria em zona de spoilers, então vou privar o texto disso.

Um mix de Fallout, Watch Dogs e GTA

Gunplay boring
Cyberpunk tenta ser tudo ao mesmo tempo

Entrando agora nos aspectos da jogabilidade, facilmente consigo resumir que trata-se de uma mescla de Fallout, Watch Dogs e a franquia GTA. Podemos coletar armas que inimigos derrubam por aí após serem mortos, desmontá-las para criar novas e também vendê-las. Fora isso, é possível também realizar modificações nos equipamentos, aumentando atributos como dano, defesa concedida, etc. Existe a jogabilidade com armas de fogo, empunhando desde pistolas até armamentos bem mais pesados; e a com armas de ataque corpo-a-corpo, como uma Katana. Infelizmente, ambas passam uma sensação de algo “travado”, com baixa responsividade e de difícil dominância. Nunca senti que estava plenamente no controle da situação nas duas formas de jogar.

É possível subir de nível conforme algumas atividades são executadas, como finalizar missões, matar inimigos ou descobrir áreas. Quando V sobe um nível, o jogador pode distribuir um ponto em um atributo e em uma habilidade. Elas, por sua vez, fazem parte de uma complexa árvore de aptidões, separadas em categorias diferentes para cada atributo, que também podem ser evoluídas conforme a prática e repetição.

Hacking

Já entrando no âmbito de Watch Dogs, existe uma jogabilidade de hacking em Cyberpunk 2077 que lembra bastante a franquia da Ubisoft. Há um menu que exige o uso de itens específicos para causar, por exemplo, “panes” nos inimigos, fazendo com que eles se enfraqueçam ou fiquem com sua visão prejudicada por alguns minutos. Isso ajuda bastante quem prefere mais uma abordagem stealth/furtiva, assim fica mais fácil chegar sorrateiramente nos inimigos. Tudo isso é passível de upgrade, permitindo melhorias como eficácia e duração dos efeitos causados.

Agora, em relação a Grand Theft Auto, o GTA, existe um mundo bem grande a ser explorado em Night City, com várias estruturas verticais como prédios e construções de grande escala, prostíbulos e tudo que você possa imaginar na “cidade do pecado”. Carros andam por aqui e ali o tempo todo, o espaço aberto é incrivelmente bonito e inspirador e você realmente se sente num local futurista.

Ambientação é o que salva

A ambientação de Cyberpunk 2077 é simplesmente de cair o queixo e tudo fica mais bonito ainda à noite, através das iluminações espetaculares que provavelmente seriam ainda mais lindas se experienciadas em realidade virtual. Admito que em poucos jogos vi uma cidade tão bem construída, com tantos detalhes menores bem trabalhados e um clima bastante futurista.Porém, tudo cai por terra quando você percebe que Night City é uma cidade que aparenta estar viva, mas que possui NPCs completamente mortos.

Por fim, de forma um pouco mais secundária, existem os relacionamentos amorosos com alguns personagens chaves da história e alguns outros secundários. De forma bastante sutil, podemos capturar pequenos sinais de qual NPC “aceita” se relacionar conosco, já que, por exemplo, um dos requisitos é ter um corpo e voz feminina para conquistar uma das personagens principais. O resultado disso é nada além de algumas cenas íntimas com conteúdo sexual, com a exigência de ter completado algumas missões secundárias para fazer isso acontecer.

Os problemas começam a surgir aqui

Que negócio é esse?!
O senhor tá bem?

Os personagens não jogáveis de toda Night City são meros bonecos andando de um lugar para o outro, sem uma rotina existente como, por exemplo, em GTA V, que não reagem de forma natural às atitudes de V ou de qualquer outra situação de perigo. Também é bem comum falar com qualquer um deles e receber linhas de diálogos completamente sem nexo e muitas vezes que nem mesmo condizem com a expressão do rosto.

A localização em português brasileiro também parece ter exagerado na quantidade de palavrões e memes da cultura de nosso país ao fazer a adaptação, e chega a cansar de ouvir inimigos repetindo tanto “Ié Ié, Salci Fufu, Bilu Tetéia”, etc. Entendo que isso traz um senso de representatividade para nosso país, mas o resultado final é de algo mais vergonhoso do que qualquer outra coisa.

Agora, falando de elementos da cidade, temos os carros. Podemos roubar veículos diversos nos centros urbanos caso V tenha pontos no atributo exigido, ou ter seus próprios veículos que podem ser chamados, assim como em Watch Dogs, mas provavelmente sua experiência em dirigi-los será a mesma que a minha: devastadora. Em Cyberpunk 2077, parece que os carros não respondem corretamente aos seus comandos, aparentando ser “duros”, e a coisa mais fácil do mundo é colidir com a parede ou pessoas.

Compraram a CNH onde? No MercadoLivre?
Isso que dá comprar a CNH no MercadoLivre

E por falar em veículos, a polícia local também possui uma viatura, mas quem disse que eles a usam? Agentes da lei simplesmente brotam em suas costas assim que seu nível de procurado começa a subir, uma técnica que evita qualquer tipo de perseguição mais detalhada do nível GTA. No máximo, drones são enviados para te abater. Mas, relaxa, para despistar a polícia é bem simples: esconda em algum canto e basta alguns segundos para esquecerem que você existe. Também pode acontecer de passarmos bem embaixo do nariz de um policial com o nível de procurado ativo, e ele não mexer um dedo sequer.

Novamente, sobre os carros, não parece que existe uma inteligência artificial por ali. Se você resolver criar um engarrafamento, pode acreditar que é a coisa mais fácil do mundo. Basta parar em uma rodovia movimentada e observar o trânsito se formando na sua traseira, sem qualquer tipo de ação como uma simples ultrapassagem.

Em termos de localização, fato é que muitas falas estão dubladas em nosso idioma. Mesmo assim, pode esperar encontrar diversas vezes alguém falando em inglês por aí. Ou, então, ainda pior: diálogos sem contexto ou completamente deslocados com a emoção representada no rosto do NPC. Além disso, vozes repetidas são ouvidas por todos os cantos, pessoas da cidade andando sem um destino ou atividade real e personagens com a pose padrão de modelagem 3D em “T” são coisas extremamente comuns em Cyberpunk 2077.

Morreu, mas não passa bem não

O combate em si também é maçante e lembra os inimigos de esponja em The Division. Não importa se você dá um tiro de pistola ou de escopeta na face de qualquer NPC, ele jamais morrerá com um disparo. Sim, as habilidades estão ali para aumentar o dano de suas armas e outras firulas, mas nada que realmente faça diferença, nem no modo mais fácil disponível. É possível justificar que as pessoas em Cyberpunk têm resistência maior a tiros devido suas partes cibernéticas, mas não acho uma desculpa tão louvável assim.

Acho que não preciso ir muito além disso, mas posso citar, em um formato de lista, sobre mais alguns problemas do jogo de forma geral:

  • Texturas carregando em tempo real;
  • Escolhas sem impactos verdadeiros;
  • Problemas de colisão;
  • Vários NPCs repetidos em um mesmo ambiente;
  • Espelho com bug de luz estourada;
  • Muitas Missões repetitivas;
  • Não existem minigames mesmo que hajam máquinas de arcade;
  • Olhar no espelho, com chapéu, pode te deixar careca (risos);
  • Personalização de personagem fraquíssima;
  • Crashes e muitos bugs;
  • Loading demorado;

Cyberpunk vale a pena?

Grande Judy!

Essa é uma pergunta complicadíssima de responder, e talvez meus mais sinceros sentimentos consigam expressar melhor minha conclusão: eu estava experienciando Cyberpunk 2007 querendo jogar outra coisa em 80% do tempo – pelo menos depois do prólogo. Fiquei adiando por muito tempo minha volta para ele, já que não conseguia sentir a mínima vontade de entrar novamente naquele mundo. Engraçado que o início me fisgou com bastante intensidade, mas tudo isso graças aos personagens bem construídos e vontade de saber onde tudo aquilo vai dar. Depois que as primeiras missões se encerram, parece que a história de V desmorona completamente e deixa cair sua máscara e revelar sua superficialidade.

O que temos aqui não é nada revolucionário como seu marketing fez parecer durante todos esses anos. A CD Projekt Red conseguiu entregar algo “ok” e até muito abaixo do esperado, deixando várias mecânicas (como a de compra de imóveis e corrida na parede) de lado, promessas que jogadas ao vento, entre outros pontos negativos. Cyberpunk 2077 é um produto que pega inspirações de muitas outras franquias sem fazer nada com excelência, mesmo que o nível do aceitável, muitas vezes, fosse até bem óbvio – como o combate.

O game da CDPR vale a pena ser conferido sim, se você for alguém que se empolga com a temática futurista, uma trilha sonora de peso, algumas críticas sociais aqui e ali e, principalmente, uma prévia de um futuro que nem está tão distante assim de se tornar realidade em nossa sociedade atual: pessoas dependentes de tecnologia, que modificam seus corpos, vendem-se por dinheiro, traficam seus ideais e tem uma vida rodeada de sexo, drogas e violência. Porém, não vá esperando grandes coisas como muitas pessoas estavam aguardando todos estes anos. Eu mesmo, que não tinha expectativas nenhuma para Cyberpunk 2077, me decepcionei.

Para encerrar, a CD Projekt Red prometeu continuar corrigindo o jogo constantemente ao longo do tempo. Além disso, foi prometido um modo multiplayer e DLCs gratuitos daqui a alguns anos. Portanto, adquirir Cyberpunk 2077 a essa altura é, basicamente, comprar mais um pacote de promessas que podem não ser cumpridas. Ao menos, fica a seguinte lição: cuidado ao fazer pré-compras.

Cópia de PC cedida pelos produtores

Revisão: Kiefer Kawakami

Cyberpunk 2077

5

Nota final

5.0/10

Prós

  • História cativante
  • Ambientação
  • Personagens carismáticos
  • Dublagem acima da média
  • Trilha sonora excelente

Contras

  • Muitos bugs
  • Promessas não cumpridas
  • Combate não responsivo
  • Inteligência artificial deplorável
  • Missões repetitivas e maçantes