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Review Dreamscaper (Switch) – Escapando de sonhos reais

Já é de praxe no Roguelike a criação procedural de ambientes onde tudo muda em cada nova tentativa. Nesse subgênero já tivemos de tudo: mineradores atrás de tesouros antigos, um semideus querendo sair do quinto dos infernos, um prisioneiro com uma frigideira e até um pequeno esqueleto querendo matar heróis. Ou seja, muitas temáticas foram exploradas e, no final, todos querem escapar de algo. Porém, nenhum abordou o inescapável: os sonhos.

Desenvolvimento: Afterburner Studios

Distribuição: Freedom Games

Jogadores: 1 (local) 

Gênero: Ação, RPG, Aventura, Simulação

Classificação: 10 anos

Português: Não

Plataformas: PC, Switch

Duração: 12 horas (campanha)/29 horas (100%)

Uma junção fora do comum

Cassidy se preparando para mergulhar em batalhas.

Dreamscaper tem tudo que já foi visto em um Roguelike, no entanto, diferente dos demais, ele não se aprofunda em cavernas antigas ou no submundo, mas sim, no inconsciente de Cassidy. A cada noite que a garota vai dormir, tormentos de seu passado são apresentados e, quanto mais fundo vamos, mais descobrimos sobre ele. Portanto, durante a noite sonhamos e lutamos com inimigos oníricos, revelando experiências antigas de Cassidy, tanto boas quanto ruins.

O grande foco em si fica no mistério do que aconteceu com Cassidy e porque seu passado mexe tanto com ela. É difícil dizer muito mais, pois os descobrimentos que ocorrem no decorrer de toda experiência são a grande motivação em volta de Dreamscaper. Fora que, alguns aspectos como os chefes, por exemplo, são símbolos interpretativos. Então, a partir de lapsos de memórias descobertos durante os sonhos, algumas dicas podem ser captadas e com elas tudo vai se encaixando, como um grande quebra-cabeça.

Um pesadelo de uma morte querida.

A narrativa é o maior foco de Dreamscaper, sem dúvidas, tanto é que, durante o dia, o game vai de um Roguelike para uma aventura narrativa, permitindo com que visitemos locais da cidade de Redhaven e conheçamos novas pessoas. Assim, essas ações trazem maiores informações sobre Cassidy, como seu trabalho, seu estilo de música favorito e seus jogos preferidos. Consequentemente, tudo isso acaba influenciando em seus sonhos de alguma maneira.

Influências positivas

O início do mapa de Redhaven.

Normalmente, é impossível escolher com o que sonhamos. Às vezes, aquela(e) ex-namorada(o) desagrádavel que não víamos há anos aparece, ou melhor, uma saudosa situação de infância é mostrada em seu subconsciente. Enfim, tudo é possível, e não temos controle sobre as situações apresentadas, mas relações e atividades diárias possuem suas influências.

Para conseguir lidar com seu passado e superar os tormentos encontrados em seus sonhos, Cassidy passa seus dias fortalecendo sua mente, seja meditando em um parque para fazer melhorias em sua vida ou em sua lucidez, a qual serve para utilizar poderes e armas de fogo. Ou, ela vai até mesmo em uma cafeteria local para fazer rascunhos de habilidades e armas vistas em sua infância, desbloqueando-as nos sonhos. Esses adicionais não são perdidos ao acordar, portanto, facilitam permanentemente a escapatória.

Assim como as atividades, os laços de amizade que Cassidy faz com que as pessoas da Redhaven atribuam status contínuos no mundo onírico. São um total de 8 pessoas que podem ser conhecidas, com cada uma delas influenciando a garota de forma única. Os status podem ser ampliados consonante a afinidade de Cassidy com cada um deles. Para isso, presentes devem ser construídos utilizando inspiração, uma moeda apenas adquirida nos sonhos. Essas amizades fluem muito bem, mas só é possível selecionar uma delas para auxiliar na escapatória.

Muita conversa, mas e a ação?

Dreamscaper não sai do padrão já estabelecido no mercado quando se trata de Roguelike. Os sonhos são divididos em salas feitas proceduralmente e, entre elas, algumas possuem diferenças como lojas, puzzles, forjas para melhorar equipamentos ou santuários para se curar. Em casos específicos, para passar de uma sala para outra, pode ser requisitada uma chave para entrar. Conforme mais fundo Cassidy está em seus sonhos, maiores são as fases, por isso, há um fast travel disponibilizado desde o início. 

Por essa viagem rápida disponível, Dreamscaper pode parecer muito dinâmico, pois outros Roguelike não permitem facilmente essa liberdade. Porém, é muito distante disso, já que o mundo onírico não é tão ameaçador. É normal desse subgênero uma ação frenética, em que é preciso ter muito reflexo, mas aqui não. A quantidade de inimigos e a velocidade de Cassidy são bem limitados, sendo preciso apenas ter calma e perspicácia para vencer desafios. Essa falta de rapidez transforma ligeiramente os sonhos em algo monótono, sendo o pior contra que um Roguelike poderia ter.

Sonhos pincelados

Os devaneios de Cassidy são locais que representam partes marcantes do seu passado. Por se tratar de uma mente artística, esses lugares são parecidos com pinturas, tanto é que gotas de tinta podem ser escutadas ao mergulhar no sono profundo. Na maior parte do tempo, tudo é bem bonito e expressivo, mas é perceptível em poucos momentos alguns borrados bem esquisitos, principalmente em ambientes mais detalhados.

Em contrapartida, as músicas e sons são peças chaves para exemplificar os momentos de socialização e aprendizado durante o dia, mas, por outro lado, também pontuam bem as descobertas e as memórias marcantes nos sonhos. Por mais que sejam poucos, os chefes são facilmente esquecíveis. Fora os símbolos e suas representações que denotam a narrativa, é notável que a falta de boas ambientações os transformaram em apenas mais um inimigo qualquer. Isso se afirma de forma mais evidente quando se torna possível pular cada um deles.

Acertou bem, mas escorregou no principal

Dreamscaper é um bom jogo que se atentou a fatores que normalmente outros Roguelike pecam: história. Ao apresentar momentos de aventura narrativa, o game consegue trabalhar bem um enredo mais denso e melancólico em que Cassidy é humana. Lutar contra problemas do passado é algo natural, pois todos temos demônios. Por mais que isso nos faça mergulhar nos sonhos com vontade de decifrar essa garota, é no crucial que Dreamscaper erra. 

O combate mais lento do que comum e os poucos desafios enfrentados em cada sala fazem da ação algo monótono, e é nesse abismo que todo Roguelike sonha em não cair. A grande diferença é que aqui ocorre de forma muito mais rápida. Portanto, se busca algo frenético e divertido, passe longe, mas bem longe mesmo de Dreamscaper. Agora, se por outro lado, aventuras narrativas com pitadas de ação é o que procura, você encontrou o que tanto sonhava.

Cópia de Switch cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

Dreamscaper

7

Nota final

7.0/10

Prós

  • Narrativa misteriosa e tocante
  • Personagem principal humanizada
  • Visuais pincelados
  • Mistura interessante de subgêneros

Contras

  • Combate lento e pouco desafiador
  • Inimigos e chefes imemoráveis.