El Hijo: A Wild West Tale é uma divertida combinação de stealth game com uma história infantil (no melhor sentido da palavra), que presta homenagem aos clássicos e macarrônicos filmes do Velho Oeste americano. O resultado é um jogo envolvente e não-violento, em que é preciso furtividade e capacidade de solução de problemas para atravessar desertos, minas, acampamentos e construções.
Desenvolvimento: Honig Studios, Quantumfrog
Distribuição: Handy Games
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura, Estratégia
Classificação: Livre
Português: Legendas e interface
Plataformas: Switch, PC
Duração: 4.5 horas (campanha)
Era uma vez no oeste
El Hijo, uma criança de 6 anos de idade que veste um poncho e anda descalça, aparece na porta de sua casa quando a mãe o chama. Eles vivem em uma área rural, em meio a uma vegetação escassa, poeira alaranjada e aquelas formações rochosas típicas dos desertos do Velho Oeste. A criança corre em direção à mãe, em uma perseguição ingênua e divertida. Quando param, na frente de um túmulo, cada um coloca uma flor, em uma cena melancólica que mostra ao jogador que aqueles dois só têm um ao outro. Para eles, entretanto, o momento de seriedade se transforma muito naturalmente em brincadeira de novo, com a leveza de uma criança tão pequena.
Nesses momentos iniciais de El Hijo, é estabelecida a cena da qual partem os personagens principais: conhecemos sua relação e a forma como encaram a vida. Após um breve tutorial, ocorre um evento que muda tudo: bandidos montados a cavalo colocam fogo na choupana e El Hijo e sua mãe partem como retirantes, carregando poucas posses até alcançar um monastério. Lá, a mãe deixa o filho, na esperança de protegê-lo.
O jogo se desenrola a partir daí. Nosso pequeno protagonista não se adapta a uma vida regrada, escura e infeliz e, com espírito aventureiro e brincalhão, inicia uma fuga na esperança de se encontrar novamente com sua mãe. Ao longo de 30 fases, acompanhamos o herói por cenários que dialogam com os clichês do velho oeste sem que pareçam forçados. A perspectiva isométrica acompanha um traço que parece de desenho animado, o que ajuda a lembrar sempre quem é (e qual a idade) do herói.
A ambientação sonora é especial, principalmente para quem tem carinho por trilhas clássicas. Ainda que a composição seja original, traz timbres familiares que remetem imediatamente aos filmes de bang-bang. Para os ouvidos mais atentos, há até mesmo citações discretas da trilha sonora escrita por Ennio Morricone para Três Homens em Conflito: aquele assovio de vento que precede qualquer duelo e se tornou quase um clichê do gênero.
O condor
A jogabilidade de El Hijo é simples: é preciso atravessar o cenário de cada fase escapando dos olhares dos personagens adultos e interagindo com diversos elementos de cada ambiente. O menino faz tudo como uma brincadeira: anda meio desengonçado, corre num susto, atira pedras. Ao longo da história, ele adquire novas habilidades, ganha acesso a certos brinquedos e elementos que podem ser usados para distrair os malvados; calça sapatos que aumentam um pouco sua capacidade de correr antes de se cansar; e encontra um estilingue para arremessar com mais potência seu estoque infinito de pedras.
Ainda no tutorial, a mãe lhe apresenta um passarinho que se torna seu companheiro. Essa é a justificativa para, ao toque de um botão, interromper a ação do personagem e fazer um literal vôo de pássaro pelo cenário, elucidando as áreas que cada adulto consegue enxergar. A partir daí, cabe ao jogador contornar esses campos de visão, modificá-los com distrações ou esgueirar-se pelas sombras e por trás de objetos.
É com esse espírito que El Hijo passa pelas fases sem ser percebidos por monges sisudos, bandidos malvados e milicianos perigosos. Cada ambiente progressivamente inclui novos desafios e novas formas de interação. Ainda que haja um trajeto mais ou menos bem definido em cada fase, há múltiplas formas de lidar com os problemas. Os pontos de salvamento são bem generosos e permitem que as estratégias sejam experimentadas sem grandes percalços.
As pistolas não discutem
El Hijo não é exatamente fácil, principalmente pelo tamanho e quantidade de fases, mas também não pode ser considerado particularmente difícil. Em diálogo com outros stealth games, sua proposta mais infantil e não-violenta também se manifesta na experiência do jogador. Muitas vezes, é preciso exagerar na suspensão da descrença para aceitar a visão limitada dos inimigos e sua dificuldade de perceber o que ocorre ao seu redor.
Por mais que as fases mudem os cenários e os inimigos, em alguns momentos o velho oeste pode cansar: o tom amarelado raramente dá lugar a outras cores, e a progressão da dificuldade não cresce como se poderia esperar em um jogo surpreendentemente longo.
Há, entretanto, alguns elementos que merecem um destaque positivo por modificarem a dinâmica: em algumas fases, pode-se controlar a Mãe, em uma história paralela à do personagem principal. Também merece destaque a inclusão de mecânicas inesperadas (mesmo que em uma porção reduzida da experiência de jogo) como tempestades de areia e o controle de carrinhos de mina. El Hijo também possui um sistema interno de conquistas e permite a coleção de artes conceituais através de um objetivo adorável: encontrar outras crianças em cada fase e inspirá-las a se voltar contra as autoridades que as exploram.
Um destaque negativo fica com a adaptação do jogo para o hardware do Nintendo Switch. Ainda que os gráficos sejam muito bonitos, há uma demora acima do normal para carregar cada fase. Também é importante salientar que, na ausência de um controle de luminosidades, as fases mais escuras são um obstáculo muito grande para quem joga no modo portátil.
A marca de El Hijo
El Hijo: A Wild West Tale traz uma história adorável que se apresenta sem palavras e oferece uma experiência no geral leve e prazerosa. Trata-se de uma feliz abordagem de um gênero e de uma estética marcados por temas bélicos. El Hijo é evidentemente uma obra infantil, mas não por ser destinada apenas para crianças, longe disso… é uma perspectiva de uma criança que enxerga o mundo a partir de suas capacidades e de seus interesses. Fundamentalmente, não importam os adultos e suas disputas: são todos inimigos, obstáculos que dificultam o reencontro do menino com sua mãe. Também são os adultos que não sabem brincar. E, talvez por isso mesmo, acompanhar El Hijo em suas traquinagens e provocar homens armados com estilingues e soldadinhos de corda seja tão prazeroso.
Cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong
El Hijo: A Wild West Tale
Prós
- A perspectiva de uma criança em um jogo não necessariamente infantil
- Referências ao cinema clássico sobre o Velho Oeste
- Muitas fases e objetivos secundários que mantêm o interesse elevado
Contras
- Não parece perfeitamente adaptado ao Switch
- Quem acompanha o gênero pode considerá-lo mais simples e fácil do que gostaria