Esquadrão 51 Contra os Discos Voadores é um brilhante e curto shoot’em up brasileiro, capaz de viciar nos primeiros minutos. Padronizado na estética de mídias da metade do século XX, ele mistura uma agradabilíssima jogabilidade à moda Cuphead com narrativas politicamente muito conscientes e corajosas.
Desenvolvimento: Loomiarts, Fehorama Filmes
Distribuição: Whisper Games, Assemble Entertainment
Jogadores: 1-2 (local)
Gênero: Ação, Arcade
Classificação: 10 anos
Português: Áudio, Interface e Legendas
Plataformas: PC
Duração: Sem registros
Dominação alienígena
Ao iniciar o jogo, uma imagem preto e branca e uma música poderosa militarista se impõem aos sentidos humanos de uma forma mágica e potente. É possível admirar demais sua escolha artística e, nas cutscenes, sua incrível direção de arte quase que nos primeiros segundos de jogo. É como se você fosse transportado imediatamente aos anos 50 de qualquer sociedade urbana da América. Eis que temos uma trama de ficção científica muito bem escrita e cinematicamente bem construída, de forma a encherem os olhos.
Quem diria que o encontro com raças interplanetárias não seria pacífica? Após negociações políticas, Zarog, o líder alienígena chega à Terra com seu povo e exército com o intuito claramente colonialista, adotando posturas e atitudes autoritárias. O que não era esperado é que essa sua ideia entrasse 100% em concordância com alguns políticos daqui, além da grande mídia. Estão dadas as cartas da exploração pelos extraterrestres.
O Esquadrão 51, então, nasce como uma última resistência humana armada, travando batalhas épicas nos céus de cenários muito característicos do Brasil (Amazônia e São Paulo, por exemplo). Esse corajoso grupo de corajosos(as) aviadores(as) representarão o descontentamento, portanto, da grande maioria do povo terrestre, que é belamente representado nas imagens.
Mais que um shoot’em up
Além de ser incrivelmente competente em toda sua proposta de jogabilidade, seus cenários em 2.5D são genialmente produzidos e dirigidos. Esquadrão 51 é uma obra que carrega muito mais significado. Sua crítica, assim como as cenas que enchem os olhos, é essencial para os dias de hoje e passa uma mensagem capaz de fazer professores de História e Geopolítica sorrirem do início ao final.
Ao apresentar um alienígena autoritário e dominante para com a geopolítica de certa nação, o jogo remete diretamente a episódios imperialistas do mundo real que tiveram resistência popular. Talvez o exemplo mais próximo de nós esteja nos dias atuais, sob um governo muito divergente da vontade comum e distante de comprometimentos políticos para com os direitos humanos e as vias progressistas. Mas, aos moldes estéticos, é possível pensar também na própria Ditadura no Brasil.
Nesse período histórico, houveram uma série de focos de resistência – armadas, inclusive – e um descontentamento muito grande com políticas voltadas ao exclusivismo militar e a cortes de direitos e conquistas sociais. Pode-se dizer que o jogo também faz uma forte alusão aos EUA com suas políticas internacionais de Big Stick no mesmo período histórico, inclusive (posso explicar em outro momento).
Com opressões tão duras e vindas de uma força sem precedentes, ou seja, do Estado, a resistência nasce (eis o Esquadrão 51) e o afronta com todas as suas forças. Seja inspirado por uma famigerada marca de cachaça ou do DDD gaúcho, o objetivo do esquadrão é derrotar Zarog, custe o que custar, representando o povo trabalhador do planeta Terra.
Aquele rage-combustível
É importante ressaltar o quão agradável e satisfatória é a jogabilidade. Esquadrão 51 lembra muito Cuphead ao impor uma dificuldade acentuada logo no início, mas de perfeita aperfeiçoação por meio de memorização e habilidades. Trata-se de uma dificuldade viciante, pois coloca o jogador em posição de constante aperfeiçoamento diante dos desafios com recompensas rápidas, entre carregamentos e checkpoints muito rápidos.
Raramente se passam mais de 10 minutos por checkpoint ou fase, por exemplo. Por isso, há certo prazer na insistência e em cada micro conquista alcançada durante as tentativas de se sair melhor em pontuações finais ou até em acertos de décimos de milésimos daquele frame que fez a diferença na run anterior.
O jogo faz isso com maestria e entrega muito prazer pelas suas mecânicas tão simples, repletas de buffs e nerfs que te ajudarão e/ou perturbarão em determinados momentos. É fácil e muito bom até mesmo experienciá-lo de uma só vez.
Pela esperança
Esquadrão 51 é uma obra-prima brasileira que toda pessoa jogadora deveria experimentar. Ele é muito mais que uma jogabilidade incrível e viciante, além de ser bem curtinho. Pois trata de assuntos importantes na política e tem muita coragem de evidenciar fatos e riscos, em mensagens livres de formas criptográficas, que acontecem de verdade e sempre estarão à espreita da nossa realidade diária.
É muito mágico, realmente, poder assistir às cutscenes e ter tanto orgulho de vivenciar uma produção brasileira com tanto refinamento excelente. O jogo é muito bem fechado em si, cumpre com tudo o que se propõe a fazer e não apresenta nenhum defeito na jogabilidade ou em audiovisual, desafiando o tempo inteiro e tornando uma experiência muito única e prazerosa. Certamente é um dos maiores destaques de 2022 e recomendo fortemente!
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Ailton Bueno