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Review Flat Kingdom Paper’s Cut Edition (Switch) – Jogabilidade achatada

Flat Kingdom Paper’s Cut Edition (2016) é um jogo de produção mexicana que chegou ao Brasil em 2016 para PC e, agora em 2022, para os consoles da nova geração e da passada. O que uma arte de papéis e desafios de plataforma podem alcançar num ano em que já vimos de tudo nos games (ou quase tudo)? 

Talvez ele chegou tarde demais para um gênero que já é muito rico em seu mercado, talvez as expectativas devam estar alinhadas com mecânicas e narrativas bem simples (ou talvez ele só seja mal construído). A seguir, falo um pouco de como foi a minha experiência no Reino Plano, um local repleto de personagens carismáticos, inimigos perigosos e… chefes tediosos.

Desenvolvimento: Fat Panda Games

Distribuição: Games Starter

Jogadores: 1 (local) 

Gênero: Plataforma, Ação, Aventura

Classificação: Livre

Português: Legendas e interface

Plataformas: PC, Switch, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X/S

Duração: 4.5 horas (campanha)/9 horas (100%)

Artes de papel sem conteúdo

O visual de Flat Kingdom é construído totalmente em papéis animados, ou seja, seus cenários e personagens são inteiramente feitos de papel, como se fossem origami, e possuem uma animação bastante limitada por isso, o que não tira a beleza singular de cada personagem e lugar. Esse é o principal ponto positivo do jogo, pois dá para perceber no detalhe que tiveram carinho no seu design.

Screenshot de Flat Kingdom Paper's Cut Edition - Os cenários de Flat Kingdom são bem bonitos artisticamente. Pena serem muito extensos às vezes e estarem reféns da repetição imposta pelo jogo.

Logo de início, é possível admirar a criatividade dos diferentes ambientes e os personagens um pouco caricatos que são apresentados, entretanto, Flat Kingdom carece de animações mais interessantes e que demonstrem ações mais convincentes de chefes, inimigos e até do personagem principal jogável, o Flat. Além disso, em diversos momentos mais escuros ou nos mapas com profundidade aquática, os contrastes de cores não ajudam nem um pouco na identificação de plataformas e de inimigos, estejam eles escondidos ou não. 

Fato é que essas pequenas frustrações ou descuidos de produção não ficam apenas na superfície. Isso acontece na história e na jogabilidade, o que torna a experiência um tanto maçante.

A história e a jogabilidade – falhas

Claramente, Flat Kingdom é baseado em side-scrollers clássicos. Porém, alcançar uma qualidade de desafios de plataforma e de ação é outro nível a ser superado, além de uma história minimamente cativante.

Vivenciamos aqui a história de Flat, um corajoso cavaleiro do Rei Quadrado, do início ao fim. De repente, a princesa Tri é raptada por Hex, o vilão dessa história, e logo é solicitado a Flat pelo próprio rei que o persiga e resgate a princesa. Ao longo da jogatina, percebe-se que Hex persegue as grandes Jóias do Reino Plano, que regem o poder da natureza de cada um dos mapas (ou fases) desse lugar. Uma história bem clichê, não?

Screenshot de Flat Kingdom Paper's Cut Edition - No log do jogo, podemos ver mais informações sobre os personagens, as Jóias e de cada capítulo.

Do início ao fim, a narrativa parece um tanto acelerada e desajeitada. Não há nada mágico nela que possa interessar, sequer buscar mais sobre. Suas inspirações em mitologia nórdica, asteca e até grega demonstram certo critério artístico, mas só ficam numa superfície sem graça e fatigante.

Flat, por sua vez, é capaz de se transformar em 3 formas geométricas – triângulo, quadrado e círculo -, acionadas pelos botões Y, X e A, do Switch. Tais formas se relacionam completamente com os cenários e inimigos, que se combinam para causar oposição, ou seja, para serem destruídos ou derrotados. A “decoreba” dessas combinações demora um pouco para acontecer, mas sempre há uma opção ali no menu de pausa para explicar essa mecânica, o que ajuda muito.

Dá para contar nos dedos alguns momentos em que me frustrei com o fato de que não há recompensa alguma por derrotar inimigos. Depois de certo tempo, eles passam a ser apenas evitados pulando ou usando os especiais de cada forma geométrica de Flat, o que cansou demais só de apertar tanto o B, uma vez que Flat Kingdom tem desafios de plataforma como ponto focal. Dá para coletar moedas e completar pequenas quests de outros personagens ao percorrer o cenário, comprando ou ganhando mais pontos de vida a Flat mais tarde, única recompensa possível atrelada ao protagonista. 

Já a plataforma, possui um nível de desafio OK para o nível normal, sendo este no qual joguei (no início é possível selecionar os níveis fácil, normal e difícil). Porém, existem pequenos desafios “exagerados” em determinados pontos dos mapas em que fazem do cansaço do jogador uma feature, seja por um canto pouco polido onde parece quase impossível subir com as capacidades do momento de Flat, ou pelos tantos cenários pouco diversos e desnecessariamente extensos.

São níveis e mais níveis de andares praticamente idênticos e checkpoints espaçados, uns com armadilhas e outros repletos de inimigos igualmente repetidos, transformando completamente os desafios em apenas recorrências pífias. Logo, constantemente o tempo do jogador é desrespeitado, uma vez que determinados contextos o fazem passar pelos mesmos trajetos novamente.

Screenshot de Flat Kingdom Paper's Cut Edition - No menu de pausa, podemos encontrar um log de inimigos encontrados pelos cenários também, onde há uma boa descrição e a fraqueza de cada um.

Além disso tudo, a repetição e certa pobreza criativa são encontradas na trilha sonora e no sound design. As músicas são poucas e curtas e estão em looping e desarmonia com o que está acontecendo com o restante. Os sons de inimigos e efeitos sonoros ambientes carecem muito de equalização e qualidade, desastre ainda maior para o jogo independente.

Flat Kingdom não se faz atraente em nada que tenta fazer de legal, infelizmente. Naquilo que ele poderia brilhar, na história e/ou na jogabilidade, justamente, ele desliza de um jeito tão desprezível que chega a irritar e querer afastá-lo para bem longe do pensamento. A menos que o jogo seja declaradamente para um público infantil ou uma mera distração rápida, não dá para elogiar de forma alguma esses seus fatores. E a “cereja do bolo” ainda nem foi mencionada…

Chefes tediosos

Todos os chefes são baseados em timing, desafiando a capacidade de memorização e de acertar os momentos certos de ação do jogador. Nada eles têm de difícil nesses desafios, salvos 2 ou pouco mais deles que exigem um pouco mais. O ponto fraco aqui é que absolutamente todos esses chefes são um pouco lentos e têm um script de movimentos e ataques tão repetidos e demorados (e por vezes imprevisíveis) que fazem você esperar uma eternidade para uma única oportunidade de ataque, e pobre dele se perder sua janela de ação. 

Ao fracassar e obter um Game Over, todo esse processo demorado, passivo e extremamente tedioso precisa ser repetido até a derrota do boss. Sem contar que essas oportunidades de ataques não são nada claras e podem confundir pelo ponto fraco do chefe com formas losangulares. 

Screenshot de Flat Kingdom Paper's Cut Edition - Hex, o vilão do jogo, rouba as Jóias o reino uma a uma, se tornando cada vez mais poderoso.

No processo de chefe após chefe, eu buscava algo especial, mesmo que procurando significados dos seus nomes em relação ao contexto da história, fortemente inspirados em deuses astecas e nórdicos. Busquei qualquer motivo de empolgação nesses inimigos mais fortes e difíceis para prosseguir, mas ledo engano. Novamente, Flat Kingdom me trouxe mais tristeza e decepção com tudo o que via.

Esse é outro ponto em que Flat Kingdom poderia ganhar destaque, mas nem nisso ele parece ter um mínimo esforço incutido. Com o tempo, até mesmo a experiência entre chefes acabou sendo tediosa também e a luz de esperança para com ele foi se apagando gradualmente.

Veredito

Para quem está atrás de um passatempo rápido de plataforma e de mecânicas de memorização, Flat Kingdom é uma boa recomendação, além de ser rápido (pode ser zerado em 4 ou 5 horas, facilmente). Mas para quem busca uma jogabilidade refinada, mecânicas mais interessantes e uma experiência diferenciada, sobretudo em comparação à Nintendo eShop como um todo, Flat Kingdom Paper’s Cut Edition não chega nem perto de ser uma boa opção.

Talvez o porte para os consoles não tenha sido dos melhores, mas fato é que ele não consegue se destacar em nada a que se propõe fazer (o que é de cortar o coração por ter sido desenvolvido por um time independente). Uma pena perceber isso ao jogar, pois os seus trailers o vendem de uma forma instigante. Sua repetição constante e sem escaladas consideráveis de dificuldade deixam o jogo bem desinteressante e insosso, além de todos os outros fatores malfeitos e de pouca qualidade anteriormente citados. 
Ao iniciar, jamais imaginei me deparar com os piores chefes com quem pude lutar, que são pouco intuitivos e que exigem mais tempo de dedicação do que deveriam. Muito disso talvez tenha sido apenas expectativas frustradas, mas não retiro de jeito algum o descontentamento e as más experiências escritas nessa review e que podem muito proporcionar e potencializar gameplay adentro.

Cópia de Switch cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

Flat Kingdom Paper’s Cut Edition

2

Nota final

2.0/10

Prós

  • Artes dos cenários e personagens
  • Simplicidade em desafios

Contras

  • História ruim
  • Jogabilidade ultrapassada e defeituosa
  • Chefes tediosos
  • Repetição é constante
  • Áudios e músicas péssimas