Em meio a tantos jogos indies atualmente, é complicado encontrar algum que faça bem feito, e não somente isso, mas também que saiba vender seu peixe através de um marketing com bom planejamento e execução. Georifters é um daqueles games independentes sobre o qual eu nunca tinha ouvido falar, visto vídeos ou qualquer campanha promocional por aí. Foi um completo tiro no escuro, apostando apenas nos trailers que pude conferir e alguns elogios soltos na internet. Meu aprendizado depois disso é o seguinte: dê uma chance aos títulos independentes.
Desenvolvimento: Busy Toaster
Distribuição: Busy Toaster Games
Jogadores: 1-4 (local e online)
Gênero: Puzzle, Multiplayer, Plataforma
Classificação: 10 anos
Português: Legendas e interface
Plataforma: PC, Xbox One, PS4 e Switch
Duração: Sem registros
Ideias interessantes
Georifters é um jogo curioso feito em Unreal Engine 4, com personagens de feições humanas que causam uma certa estranheza por causa de seus designs e movimentos bizarros. Já ouviu falar no Vale da Estranheza? Vale a pena ler mais sobre esse assunto e entender a origem desse efeito que, basicamente, diz que “quando réplicas humanas se comportam de forma muito parecida — mas não idêntica — a seres humanos reais, provocam repulsa entre observadores humanos”, e o jogo se enquadra nisso.
A história é bastante bobinha, assim como os diálogos que, em sua maioria, são um pouco vergonhosos e forçados demais, tentando ser engraçados constantemente. O enredo trata de uma invasão que está havendo no mundo dos personagens, em que Chief, Candy e todo o elenco desse universo completamente maluco “lutam” para coletar cristais, derrotar ameaças e chegar até o final da fase – que são separadas em seções. Tratando-se de carisma e história, de fato, Georifters não tem muito o que oferecer e até decepciona por causa da forçação de barra, mas as mecânicas sim são a parte central e seu maior chamariz.
Todos os personagens possuem um golpe de soco padrão que consome uma pequena bateria que é preenchida novamente depois de poucos segundos. Este soco permite que blocos sejam empurrados em linha reta a uma certa distância, dependendo da força aplicada. Através do golpe podemos empurrar quase qualquer bloco em até 4 direções, na horizontal e vertical. Fora seus punhos, existem itens passíveis de interação no ambiente, como blocos que teleportam, mudam a direção da gravidade, e até itens que podem ser usados contra inimigos, como mísseis e granadas.
Porém, o mais divertido certamente fica por conta das habilidades únicas de cada personagem. Como o mundo de Georifters de divide em blocos, a habilidade de cada personagem tem o papel de mexer no posicionamento dos elementos da fase. Chief, por exemplo, consegue fazer com que uma razoável quantidade de blocos em uma área quadrada se movimente verticalmente, Candy consegue lançar uma garra que puxa objetos em linha reta para si, Dr Schnoz pode criar caminhos entre blocos, já que sua habilidade cria separações verticais entre eles, e por aí vai. Muitos inimigos também podem ser eliminados se blocos forem lançados ou posicionados contra eles, o que também fica valendo como um movimento de ataque.
Fácil demais, ou ferramentas demais?
Além de tudo, o que facilita mais ainda é a outra habilidade geral. Com ela é possível restaurar o posicionamento de todos os objetos do cenário para suas posições originais. Dessa forma se torna um pouco mais fácil fazer qualquer movimento sem muitos riscos e nem mesmo ter a chance de ter que reiniciar a fase. Porém, você não é obrigado a usar este “macete”, mas de qualquer forma seria interessante ter atrelado ao fato de não o utilizar a um tipo de recompensa maior.
Mesmo assim, a quantidade de obstáculos ao longo da campanha vai aumentando e novos blocos que podem eliminar o personagem passam a surgir fase a fase. Além dos espinhos iniciais que simplesmente tiram pontos de saúde, também há os vermelhos compostos por uma espécie de lava que te fazem perder um ponto de vida por completo. Não só isso, existem blocos azuis que transitam entre o estado ligado e desligado constantemente que podem servir como plataformas, mas também podem eliminar seu personagem caso ele fique posicionado em meio a um bloco que apareceu.
Todos os movimentos combinados fazem com que terminar uma fase seja um processo bastante tranquilo, entretanto, coletar todos os cristais do cenário demanda um esforço maior e um tempo mais extenso. Certamente o que vai expandir o tempo de gameplay em Georifters é a busca pela maior quantidade possível de cristais, já que estes permitem adquirir novas skins para os personagens na lojinha do menu principal.
Não só de cristais o jogador vive por aqui, mas também uma quantia em moedas é recebida a cada fase terminada. Com isso, podemos comprar upgrades para equipar em cards de equipamento no menu principal, que concedem vantagens como pulo mais alto e outros atributos que modificam levemente a forma de jogar (ou até facilitam).
Co-op e modos extras
Apesar de já ser um jogo divertido em uma pessoa, tudo se torna melhor jogando em duas. Georifters amplia seu leque de possibilidades no co-op, já que todas as fases do modo história podem ser jogadas “de dois”. Com isso, as coisas se tornam mais fáceis, porém, o trabalho em equipe com certeza é mais prazeroso e gera movimentos sincronizados. É como jogar Bomberman, que funciona muito bem sozinho, mas que se torna muito mais legal com um amigo que alinha sua estratégia com a dele.
Fora a campanha, há o modo Time Trial – contra o relógio – e Arena, este segundo sendo para até quatro jogadores. As batalhas dão a vitória para aquele que coletar o maior número de cristais dentro do tempo limite, podendo ser usado itens existentes na campanha como mísseis, granadas, bombas, etc. Por último, o modo Challenge apresenta desafios personalizados, como se fossem fases isoladas do modo história mas feitas individualmente sem uma conexão entre mundos que seguem um mesmo padrão.
Um sentimento misto
Georifters é um excelente jogo de puzzle, mas que acaba caindo na repetição em certos momentos. Como a mecânica é usada e abusada, apoiar-se um pouco mais na história teria sido uma boa ideia para destoar um pouco o jogador de tantas tarefas similares. O design de personagens de forma geral é um pouco esquisita, assim como os cenários que passam uma sensação de não “casarem” com os modelos 3D – talvez por serem coloridos demais em tons bem diferentes. A sensação é de que tudo foi feito por várias pessoas e com inspirações distintas, sem falar que alguns objetos como cristais, itens de ataque e cubos de teleporte têm uma aparência bastante genérica.
Exceto essa estranheza toda, a jogabilidade é bem competente e consegue divertir numa boa. O co-op faz um trabalho espetacular, mas fica restrito ao multiplayer local sem muitas justificativas. Ao menos, uma forma de jogar com amigos pela internet cairia muito bem. O maior incentivo, no final, vai ser liberar as skins da loja, apesar de nem todas possuírem uma aparência bacana e possivelmente não vão agradar quase ninguém.
Cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Kiefer Kawkami