A sobrevivência sempre foi o pilar e o objetivo principal dos seres humanos desde seu surgimento. Em situações extremas, a única maneira de permanecer vivo é garantindo oxigênio, água e comida, que são os três itens fundamentais para o bom funcionamento do corpo. Você consegue se imaginar num cenário onde faltam dois desses três elementos ao mesmo tempo em que precisa lidar com animais selvagens e tribos indígenas desconhecidas portando apenas um rádio e um relógio? Se sim, parabéns e bem-vindo(a) ao Green Hell!
Desenvolvimento: Creepy Jar
Distribuição: Creepy Jar
Jogadores: 1 (local) e 1-4 (online)
Gênero: Ação, Aventura, Simulação
Classificação: 14 anos
Português: Interface e Legendas
Plataformas: PC, Switch
Duração: 16.5 horas (campanha)/34.5 horas (100%)
Welcome to the jungle
Na história do jogo, controlamos o personagem principal chamado Jake Higgins em uma expedição com sua esposa, Mia Higgins, à Amazônia para estudar a perdida tribo indígena Yabahuaca. Após pouco mais de um mês de excursão, algumas coisas fogem do controle e ele acaba por se perder na densa floresta chuvosa, não restando escolha a não ser explorar os arredores e procurar por ajuda.
Aqui, a sequência narrativa se dá através de diversos meios. Por exemplo, toda a comunicação do Jake com a Mia é feita através de walkie-talkies, com opções de diálogos que, apesar de não impactarem na história, desbloqueiam falas adicionais. Além disso, cadernos com anotações, imagens e diagramas encontrados pelo mapa nos situam no período de tempo e dá mais detalhes sobre a trama. Inclusive, o tutorial de Green Hell não serve somente para introduzir as mecânicas do título, mas apresenta justamente o início do enredo, sendo obrigatória sua finalização para poder começar a campanha singleplayer – ou multiplayer, caso prefira.
It gets worse here everyday
No quesito jogabilidade, vários são os aspectos que contribuem positivamente para a atmosfera da floresta amazônica e a imersão no gênero survival. Em relação a interface, informações importantes sobre o personagem são exibidas na tela: uma barra de vida, que representa a saúde do Jake; duas barras de energia, uma maior e outra menor, que representam seu nível de cansaço e a stamina atual, respectivamente; e o grau de sanidade, medido pelo preenchimento do ícone circular ao lado das barras. A sobrevivência gira em torno de manter todos esses medidores cheios ou, pelo menos, evitando que algum deles chegue a zero.
Um smartwatch também faz parte dos itens essenciais do protagonista. Nele, além de ver a data e hora atual, o dispositivo também possui uma bússola com dados de latitude e longitude e indicadores de nutrientes do corpo, incluindo gordura, carboidrato e proteína, e o nível de hidratação. Nas horas de jogo pré-review, notei que a barrinha azul da água diminui muito mais rápido que as demais, ou seja, Jake fica com sede muitas vezes ao longo do dia. Considerando que um ser humano, na vida real, não vive por mais de três dias sem água, talvez essa escolha não seja tão infundamentada, mas a frequência que isso ocorre é exagerada, mesmo para a dificuldade moderada.
Fora o mapa da região – que é atualizado automaticamente a cada novo lugar descoberto na exploração – os demais objetos utilizados por Jake em sua jornada devem ser todos construídos pelo próprio. Desde simples facas e machados de pedra improvisados até estruturas de madeira como abrigos e camas de folhas, as instruções sobre como fazer se encontram todas no caderno e podem ser executadas na workstation, sendo ambas as opções acessíveis no menu circular segurando a tecla C (por padrão).
Com as ferramentas em mãos, é hora de trabalhar. Machados de pedra podem ser utilizados para caçar pequenos animais como ratos, cobras e até porcos selvagens, a fim de extrair sua carne, fonte de proteínas. Gordura e carboidratos são provenientes de frutos e cogumelos, então fique bem atento ao seu redor para não deixar nada passar. Uma boa dica é assar as carnes numa fogueira para evitar doenças por parasitas, mas cuidado: o fogo pode chamar a atenção de criaturas selvagens, como onças. Então é recomendável a construção de um abrigo, cujas instruções estão todas no caderno. Sobre a obtenção de água potável, você pode coletar diretamente da chuva com o auxílio de uma tigela ou ferver um pouco do rio. Garantir a sobrevivência em si deve ser o primeiro passo tomado antes de prosseguir com a história.
Aqui, um ponto negativo é a falta de informação no crafting de itens cruciais. Por exemplo, a agulha de osso que serve para remover vermes parasitas da pele só aparece disponível no caderno ao fazê-la a primeira vez, usando o método de tentativa e erro com diversos objetos diferentes na aba de confecção (até você descobrir que bastava clicar em “coletar” no osso dentro do inventário).
You learn to live like an animal
Visualmente falando, Green Hell não deixa a desejar. Os cenários e a paisagem são bem trabalhados com todas as características que esperamos da nossa Amazônia: uma vegetação bastante diversificada, com quilômetros de mata fechada e enormes árvores que dificultam o trânsito pela floresta. A fauna local também é variada com treze espécies diferentes de animais terrestres e seis aquáticos, além de pássaros, anfíbios e invertebrados. Quase tudo que se mexe é venenoso e/ou hostil, então encontrar comida será realmente um desafio.
A qualidade sonora acompanha os gráficos quando aposta na fidelidade e semelhança aos originais. Com isso, quero dizer que não existe som “solto”, ou seja, caso você tenha a impressão de ter ouvido o chocalho de uma cascavel bem ao seus pés, pode ter certeza que não é somente coisa da sua imaginação. Contudo, a trilha sonora – a famosa música de fundo – pode ser um pouco repetitiva e entediante, salvo em algumas cutscenes pontuais.
In the jungle were we play
Finalmente, Green Hell é tudo aquilo que se espera de um jogo de sobrevivência: atmosférico, desafiador e com uma jogabilidade aceitável. Infelizmente, sérios problemas de desempenho, ao menos nessa versão de PC, o impedem de ser um dos melhores da categoria.
Telas de carregamento demoradas, travamentos ao abrir menus ou realizar ações com o mouse e quedas de frames mesmo em um computador com os requisitos acima dos recomendados quebram a experiência final. Sem mencionar um bug com plataformas e paredes invisíveis num determinado local do mapa que me impediu de prosseguir na campanha, não me deixando alternativa a não ser pular de um penhasco para morrer e renascer no acampamento, perdendo boa parte dos meus equipamentos.
Enfim, não é nada que alguns patchs de correção não resolvam, mas até lá, o potencial do jogo está desperdiçado.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Kiefer Kawakami