Imagina você vagando perdido em plena floresta amazônica? Certamente, suas chances de ter um final triste seriam bem grandes. Felizmente, nunca precisei passar por nada do tipo, mas Green Hell consegue com maestria transmitir um pouco dessa sensação desconfortante que eu teria na realidade. Green Hell foi originalmente lançado para PC, depois recebeu um port (suado) para Switch e, finalmente, para PS4 e Xbox One. Como um grande fã de games de sobrevivência, sua premissa é perfeita para fisgar meu interesse.
Desenvolvimento: Creepy Jar
Distribuição: Creepy Jar
Jogadores: 1 (local) e 1-4 (online)
Gênero: Ação, Aventura, Simulação
Classificação: 16 anos
Português: Legendas e interface
Plataformas: Switch, PC, Xbox One, PS4
Duração: 15.5 horas (campanha)/27 horas (100%)
Welcome to the Jungle
Aqui, somos o Doutor Jake Higgins, que chega à Amazônia junto com sua namorada e assistente, Mia. Higgins é um famoso e renomado antropologista, e possui até mesmo um livro de seus estudos publicados, mas mesmo assim continua pesquisando os mistérios existentes nessa região tropical para obter mais conhecimento. O Modo História introduz o jogador, logo nos primeiros minutos, ao tutorial para aprender o básico do sistema de sobrevivência e crafting, enquanto vai mostrando os eventos de Jake e Mia em sua aventura com fins de pesquisa local.
Tudo parece bastante calmo e fácil, até que a jogabilidade de verdade finalmente tem início. A partir do momento em que Jake cai no sono, Mia parte em busca de uma tribo nativa para realizar seus próprios estudos e pesquisas – uma ideia bem estúpida, diga-se de passagem -,, resultando em seu desaparecimento. Higgins, desesperado, começa a gritar por seu nome, até que encontra o walkie-talkie deixado em sua tenda. Ao pegá-lo, consegue comunicar-se com a namorada, recebendo a notícia de que está tudo bem, aparentemente. Porém, a assistente pede a ajuda de seu namorado minutos depois, com um tom de voz estranho. Com isso, precisamos ir atrás de Mia, e a tarefa, que parecia fácil, acaba se tornando um verdadeiro inferno… verde.
Green Hell é um game de sobrevivência com diversos aspectos que procuram se espelhar na realidade e transmitir aflição. Jake utiliza seu relógio digital para acompanhar constantemente seus níveis de proteína, sede e outras necessidades fisiológicas. Além disso, existe um nível de sanidade, fôlego e saúde. Precisamos sempre manter todos estes atributos bem balanceados, caso contrário Jake morrerá em questão de horas. O nível de proteína é elevado quando consumimos alimentos saudáveis para o corpo humano, livres de qualquer fungo ou veneno; a sede pode ser sanada ao bebermos água potável, já que ao ingerir água de riachos pode fazer com que parasitas entrem em seu estômago; a saúde precisa ser mantida com o corpo de Jake sem danos físicos, ou vermes e sanguessugas que tentam entrar em sua pele ou por meio de machucados abertos; enquanto a sanidade exige com que tenhamos uma boa noite de sono e comamos alimentos, novamente, saudáveis e nutritivos, senão o protagonista começa a ter alucinações.
Crafting, um trabalho exigente e recompensador
É preciso sempre pensar à frente, estando preparado para o que pode vir para cima do personagem. Além de todos os perigos fisiológicos por falta de manutenção em seu corpo, Jake também pode ser atacado por predadores locais, além de ser picado por insetos e morto por nativos. O ponto mais alto e divertido de Green Hell, sem dúvidas, é seu sistema de crafting que exige um nível relativamente alto de trabalho manual, porém, sem comprometer a jogabilidade.
Um exemplo perfeito é como fazer fogo: é necessário posicionar todos os gravetos e galhos em uma posição específica, depois utilizar pedras, um outro graveto e folhas secas para criar fagulhas que se transformarão em chamas ao terem contato com o restante dos materiais. Porém, não ache que tudo será as mil maravilhas, pois a natureza pode arruinar seus planos enviando uma chuva, que acabará com sua recém criação em questão de segundos. Com isso, temos que criar tudo novamente.
A mesma coisa serve para equipamentos como arco e flecha, e também ferramentas diversas que servirão para cortar folhas grossas e caçar animais, como uma picareta feita de pedra e um machado criado a partir de plantas e pequenas rochas pontiagudas. O charme de Green Hell é especialmente esse conjunto de coisas, mas os desenvolvedores entenderam que sua principal característica poderia frustrar os menos experientes e colocaram diversos níveis de dificuldade.
Podemos iniciar o jogo através do Modo Turista, em que todos os elementos de sobrevivência são desativados. A única coisa que precisamos fazer é nos preocupar com o crafting, já que sanidade, fome e afins não decaíram com o passar das horas, tornando tudo um verdadeiro passeio na floresta. Mesmo assim, certos pontos essenciais da gameplay continuarão existindo, carregando ainda consigo um relativo nível de dificuldade. O mapa, por exemplo, serve apenas para você ter uma base ao se localizar, já que ele não aponta sua posição exata. Portanto, não espere que o jogo te carregue pela mão e te aponto o que deve ser feito com clareza.
Green Hell é punitivo e bastante exigente quando jogado em sua dificuldade padrão, requerendo bastante planejamento, insistência e dedicação. Parte de sua tensão é o fato de podermos salvar o progresso apenas em cabanas que construímos, porém, não dá para sair da partida a qualquer momento sem se preocupar com o que foi feito até então. E não para por aí: ainda é necessário se preocupar com o espaço na mochila, para não lotar de itens desnecessários. Achou pouco? Há cogumelos espalhados pela selva, cujos efeitos (como envenenamento) são desconhecidos e precisam ser experimentados para que suas informações sejam anotadas no caderno de Jake. Caderno este que serve também para recapitular o que houve até então no enredo e mostrar os próximos objetivos – alguns bem subjetivos, pro meu gosto.
Apesar de tantos momentos catastróficos e sem qualquer tipo de misericórdia, Green Hell é incrivelmente contagiante e possui uma história intrigante, com finais diferentes que tocam no coração do jogador fazendo-o questionar o que realmente aconteceu. Tudo colabora para criar esse tom extra de emoção, e isso inclui os efeitos sonoros, o som ambiente da selva, grunhidos de fundo dos animais selvagens, entre vários elementos de som que trabalham para deixar a ambientação ainda mais intensa – sem falar de seus belos visuais.
Modos extras, performance e multiplayer
Fora o Modo História, existem também o Survival, Challenge e o multiplayer online. O Survival é basicamente uma forma de jogo livre, em que temos que, justamente, sobreviver o máximo que pudermos. O Challenge nos apresenta situações específicas para que sejam resolvidas, em conjunto com um temporizador para apressar ainda mais as coisas.
O multiplayer online permite a criação de uma sessão ou o ingresso em uma existente, sendo possível jogar o Modo História juntos (sem qualquer tipo de enredo criado para duas ou mais pessoas) ou o Survival. Em grupo, podemos reanimar os companheiros caídos e trazê-los de volta à “ação”, além de remover sanguessugas do corpo do outro. Porém, curar feridas alheias não é permitido. Ao morrer, o jogador volta ao ponto de salvamento anterior (ou o último local em que utilizou a função de dormir), deixando seu corpo no local da morte, perdendo alguns itens da mochila. O único nível de dificuldade não disponível no online é o com Perma Death (morte permanente).
A versão para Xbox One é bem satisfatória, e roda em 30 fps quase sempre estáveis. É um port bastante competente, que consegue fazer frente à versão de PC, e superar bastante a de Nintendo Switch – a qual é bastante borrada e tem uma resolução baixíssima. A única crítica continua sendo a navegação na mochila que, apesar de compreender a escolha, não me agrada tanto assim ter um cursor virtual para mover itens e realizar ações, já que não transmite tanta a sensação de ser natural. Os 30 fps também não ajudam, por causa da falta de fluidez.
Um dos melhores jogos de sobrevivência, mas vá preparado
Green Hell é uma excelente adição à biblioteca do Xbox, e certamente posso considerá-lo um dos melhores jogos de sobrevivência com os quais já tive contato até hoje. Sua história é cativante, e as diversas opções de dificuldade até que conseguem atender a todos os tipos de público.
Os modos extras são realmente “extras”, e não agregam tanto assim ao fator replay, porém, é bom que existam. O mesmo serve para o multiplayer cooperativo, que podia ter tido um pouco mais de carinho com algo criado especialmente para experiências em conjunto. Mesmo assim, se você for fã do gênero e tiver paciência e persistência, Green Hell será uma jornada divertida em meio aos perigos que a Amazônia reserva, além de seu exigente, porém, recompensador sistema de crafting quase manual.
Cópia de Xbox One cedida pelos produtores