Cardeais, exorcistas, espíritos, vampiros, traição, pecados, reviravoltas e muitas outras coisas te esperam na ilha de Halloween. Tem a fé o suficiente para poder enfrentar todos os demônios? Bom, eu te desejo uma boa sorte, porque você vai precisar.
Desenvolvimento: Asmodev
Distribuição: Art Games Studio S.A., Ultimate Games S.A.
Jogadores: 1-2 (Local)
Gênero: RPG, Ação, Aventura
Classificação: 12 anos
Português: Interface e Legendas
Plataforma: PC e Switch
Duração: 5 horas (campanha)
Uma usina à base de… quê?
Você é o cardeal Godspeed que, nomes idiotas à parte, foi mandado até uma ilha em chamas para exorcizar todos os demônios que nela estão. Com o tempo, personagens estranhos aparecem na trama, se deparam com alguns inimigos no meio do caminho e é descoberta a origem do fogo – que aparentemente, é da explosão de uma usina à base de… almas do inferno? Bem, ao mesmo tempo que a história desse jogo é completamente maluca, provavelmente é o ponto mais forte dele.
Muitos dos diálogos que li eram realmente bem escritos, traziam profundidade, reflexões e conflitos bem reais, uma mistura estranha mas interessante de humor com terror psicológico. Além da história principal, cada personagem ali tem um mini plot sobre o porquê ele foi parar na ilha, possuindo algumas influências de Call of Cthulhu de H. P. Lovecraft, do incidente em Chernobyl, de killer7 pelas bizarrices, e até da lore de Doom 2016 e Eternal – no caso, da parte da usina. De qualquer forma, foi colocado um certo esforço nos diálogos e no conceito geral do game, algo que sinceramente me impressionou.
Com a fé em dia
Infernal Radiation funciona de forma bem simples, o cardeal possui “bolas de fé” que mais ou menos determina o quanto de poder ele tem e a facilidade para exorcizar. Ao se encontrar com um demônio, existe um sistema de ritmo que se baseia em atacar a “benção” e se defender dos “pecados” dentro da hora certa. Errar o tempo para essas ações faz com que você fique atordoado, assim ficando exposto e consequentemente perdendo ainda mais o ritmo.Também existe um bônus se manter a sequência das ações, pois o ataque aumenta exponencialmente e os pecados refletidos enfraquecem o inimigo, fazendo ele receber mais dano.
O layout do combate lembra muito um RPG de turno padrão, mas possui essas peculiaridades relacionadas ao ritmo que citei antes. Existem formas de melhorar as características do cardeal, pontos de habilidade, incensos que funcionam como buffs permanentes – que são comprados com ouro que se encontra espalhado pela ilha –, e orações que ativam de forma aleatória nas batalhas, essas que podem desde curar a sua vida até fazer com que seu ataque envenene o inimigo. Mesmo com essas coisas, pode se dizer que a parte mais importante da gameplay ainda sim é a habilidade do jogador, já que alguns chefes não facilitam nada, e errar a sequência de ataques pode ser definitivo. Não que isso seja a sacada mais genial de todas, outros jogos como a série Mario & Luigi e Sekiro já trouxeram esse aspecto de ritmo para o gênero RPG. Aliás, Infernal Radiation é consideravelmente mais simples que esses outros títulos que citei.
Escuridão, trevas e depressão
A estética segue muito bem em conjunto com a proposta. Tudo acontece à noite, com uma mistura de referências tanto ao catolicismo quanto ao satanismo e, ironicamente, os personagens são cartunescos e até meio bobos. Os cenários são consideravelmente variados, geralmente em um jogo indie desse calibre eu esperaria uma falta de detalhes, como ambientes mais vazios, mas é exatamente o contrário que Infernal Radiation faz.
Parte da história é contada através de monólogos do cardeal, em caixas de texto em estilo de HQ, com uma pegada Noir. Os demônios são particularmente esquisitos e se mexem de forma estranha, alguns são aleatórios e não estão ligados a nenhum personagem ou de alguma forma fazem parte da trama principal, já outros são muito bem escritos e o design é diretamente relacionado com o seu background.
A música é um caso complexo, a principal que toca durante maior parte do tempo monta muito bem o clima, mas em certas batalhas algumas são bem genéricas, e o compositor não consegue manter uma coesão na produção já que certas trilhas destoam do resto.
Só Jesus na causa
Bom, até agora pode se dizer que Infernal Radiation é no mínimo interessante, mas ainda faltam alguns certos detalhes para comentar. Primeiramente, o jogo é bem mal otimizado, queda de frames constante, mesmo com a qualidade no mínimo ele tem dificuldade de rodar acima de 60 fps, o poder que os gráficos pedem é desproporcional ao que realmente ele oferece, isso até não seria um problema tão grande se toda a gameplay não fosse baseada em ritmo e atacar no momento certo – a instabilidade da performance aumenta um pouco a dificuldade das batalhas.
De fato houve uma falha na hora de polir, e isso é um problema conhecido pelos desenvolvedores, e no caso eu estou jogando uma versão atualizada (houve um período de early access, cerca de 4 meses antes do lançamento oficial) que diz que corrige alguns desses problemas – provavelmente estava pior antes. E esse é apenas o fator mais alarmante, a gameplay é bem monótona e com o tempo só o aumento da velocidade dos ataques dos inimigos não é o bastante para manter o jogo interessante.
A perspectiva da câmera não ajuda também, é bem difícil, por exemplo, acertar uma porta, se localizar no cenário ou entender onde avançar na história, sendo que explorar o mapa não é tão recompensador. No geral, é um game simples e eu completei em 5 horas, mas tem quem consiga completar em 4 ou até menos. Ele possui problemas tanto críticos quanto de refinamento, que infelizmente acabam fazendo ele cair um pouco de categoria.
Amém
Eu estaria mentindo se dissesse que não me diverti com Infernal Radiation, no geral não decepciona. É o primeiro título da desenvolvedora Asmodev, que aparentemente também busca expandir esse universo com outros jogos com essa temática religiosa. Infelizmente, os pontos positivos não conseguem sustentar o bastante para que ele tenha uma nota mediana, mas vale a pena pela história e pelo curioso sistema de batalha, mesmo que simples.
Aliás, existe um cooperativo local, que infelizmente não cheguei a testar, então não posso dizer muito sobre mas parece ser interessante. E, bem, o game está localizado para o português do Brasil, aproveitar aquilo que ele oferece de melhor não será um problema para a maioria das pessoas.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong