Os boomer shooters estão em alta. Essa moda consiste em jogos de tiro em primeira pessoa que são inspirados pelos clássicos do gênero, de uma era pré-Call of Duty e sem a homogeneização que seu sucesso resultou na cena dos FPS para um jogador ao longo dos anos. Ion Fury é um dos principais expoentes dessa onda.
Criado pela Voidpoint, o game chegou inicialmente em 2019, em um lançamento marcado por controvérsias homofóbicas que, obviamente, chamaram mais atenção do que o jogo propriamente dito. Agora, quatro anos depois, o título está recebendo Aftershock, um pacote de conteúdo descarregável que aprimora o produto com uma campanha inédita e novos conteúdos.
Desenvolvimento: Voidpoint
Distribuição: 3D Realms
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Tiro
Classificação: 18 anos
Português: Não
Plataformas: PC, PS4, Xbox One, Switch
Duração: 4 horas (campanha)
Uma trama não existente
Ion Fury é uma montanha-russa de ação do início ao seu fim, e sua narrativa passa longe de ser o foco da experiência. As duas campanhas são situadas em um universo futurista com uma estética cyberpunk, com o protagonismo de Shelly “Bombshell” Harrison, uma agente policial que segue a fórmula tradicional de uma femme fatale: é brutal e impiedosa, mas sem nunca abrir mão do estilo.
A personagem principal é muito ágil com bombas e armas de fogo, e tem a tarefa de limpar sua cidade de ameaças após um exército transhumanista instaurar o caos nela. Tanto a campanha quanto a expansão partem dessa mesma premissa, e a DLC ainda inclui a função Arrange, que remixa o modo original com a adição de oponentes inéditos.
O inglês é o único idioma suportado, e de forma incompleta, já que não há sequer legendas presentes em Ion Fury. Shelly tem uma dublagem que dispara bordões toscos a todo momento, o que combina demais com o clima nostálgico. É permitido desativar os comentários dela, embora isso acabe mudando totalmente a identidade da aventura.
Visuais das antigas
Os gráficos de Ion Fury são extremamente fiéis às suas inspirações, já que o game foi construído por meio de uma versão levemente aprimorada da Build Engine, o mesmo motor que foi empregado em Duke Nukem 3D há quase trinta anos. A tecnologia utilizada faz com que o título seja leve, rodando com tranquilidade em qualquer hardware moderno.
A resolução da arte é excelente, o que resulta em visuais bastante aceitáveis para os padrões atuais. Os mapas são completamente feitos em 3D, mas os objetos dos cenários, armas e inimigos são animados em 2D, através de sprites. Essas animações funcionam, mas a imagem em geral poderia ser mais limpa, já que a equipe de desenvolvimento não implementou nenhuma técnica contra serrilhados, que são onipresentes.
Os gráficos são legais, mas o lado sonoro deixa a desejar. O áudio é de baixa qualidade, tendo arquivos excessivamente comprimidos e com um som estourado. A versão para computadores sofre com um problema incomum, porque o layout do teclado é sempre alterado para o inglês americano quando o jogo é executado. Isso gera uma confusão por conta do posicionamento alternativo de algumas teclas, que difere em relação ao padrão brasileiro.
Jogabilidade precisa
Ion Fury logicamente também adota um estilo retrô em sua filosofia de design. Assim como nos clássicos, a gameplay é focada em mecânicas de tiro precisas, além da agilidade e da velocidade. A dificuldade é exageradamente alta e as fases são crípticas e não lineares – o que chega a ser até frustrante em alguns momentos. O shooter não faz questão alguma de guiar o jogador diante de todo o caos, sendo vital explorar todos os cantos para cumprir os objetivos e progredir.
Embora Ion Fury seja focado no tiroteio, a grande diversão do game está em uma parte da expansão Aftershock que transforma o shooter em um jogo de corrida. A missão coloca Shelly numa moto em várias fases nas quais ela precisa correr de ameaças e fugir o mais rápido possível – tudo isso, claro, enquanto extermina seus rivais com suas armas. Essa tarefa é mais divertida do que boa parte da experiência, que vai ficando lentamente desinteressante com o tempo devido ao design de mapas confuso – algo que prejudica até essa parte sensacional.
Uma ode aos clássicos
Ion Fury é um shooter retrô divertido, sendo fiel aos clássicos noventistas ao sofrer dos mesmos pontos positivos e negativos de suas referências. A expansão Aftershock acrescenta ainda mais longevidade para a experiência, que oferece muito conteúdo a um preço acessível. O que realmente ficou faltando no pacote foram melhorias no estado técnico melhor e uma localização para o português, além de dicas mais sutis em relação aos objetivos das duas campanhas.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Ailton Bueno