Bebendo da fonte de Papers, Please, um excelente jogo que deixou sua marca na indústria, Lil’ Guardsman pega aquilo que fez da obra um grande sucesso e trata a temática com uma leveza muito maior, até de forma boba em alguns momentos, mas, sempre de uma maneira muito divertida.
Então, em meio a tantos lançamentos neste ano de 2024, por que deveríamos separar algumas horinhas do nosso tempo para acompanhar a jornada de uma garotinha de 12 anos lidando com as responsabilidades de vários adultos irresponsáveis? Tentarei responder essa pergunta ao longo desta análise.
Desenvolvimento: Hilltop Studios
Distribuição: Versus Evil
Jogadores: 1 (local)
Gênero: RPG
Classificação: 12 anos
Português: Não
Plataformas: PC, PS4, PS5, Switch, Xbox One, Xbox Series X|S
Duração: 7 horas (campanha)/8 horas (100%)
Uma garotinha de 12 anos
Lil’ Guardsman se passa em um mundo medieval fantasioso e nos permite acompanhar a pequena Lil, filha de um guarda da cidade de Sprawl. O trabalho dele é decidir quem pode entrar na cidade e quem não pode. Porém, como um bom pai nem um pouco responsável, em uma bela manhã ele pede que Lil o cubra durante seu turno para que ele possa passar o dia assistindo e apostando em GoblinBall, o esporte que faz sucesso nesse mundo.
E então, Lil, como se não tivesse nada melhor para fazer, como, por exemplo, viver sua infância como todas as outras crianças do reino, aceita fazer o trabalho do seu pai, ficando responsável por decidir quem deve entrar ou não em Sprawl, podendo colocar o futuro de todos os habitantes em perigo a partir de uma simples decisão.
Papers, Please?
Não é surpresa alguma que Lil’ Guardsman se inspire em Papers, Please, até porque os desenvolvedores sequer tentam esconder isso. Mas, a forma como eles trabalharam aquilo que faz de Papers, Please um ótimo jogo dá uma identidade própria de muita qualidade para Lil’ Guardsman, ao invés de parecer apenas uma cópia.
E assim como na obra em que se inspira, aqui os jogadores também ficam responsáveis por decidir quais viajantes vão entrar na cidade de Sprawl. Deixar alguém de má índole entrar pode causar danos irreversíveis à população. Como, por exemplo, ao deixar uma sociopata violenta que canta como as princesas da Disney entrar, ela vai tocar fogo na cidade, levando muitos habitantes à morte. E sim, a obra tem um humor bem sádico em alguns momentos.
Mas, como podemos descobrir se devemos deixar ou não alguém passar pela nossa guarita que guarda uma das entradas da cidade? Para isso, devemos utilizar algumas das várias ferramentas para conversar e interrogar essas figuras.
Mecânicas e ferramentas
Cada fase equivale a um dia de trabalho como guarda na cidade, e somos pagos de acordo com o ranking que atingirmos ao fim do dia, sendo possível atingir uma pontuação de 4 estrelas. Essas estrelas são obtidas ao conseguirmos julgar aqueles que desejam entrar na cidade da forma correta.
Cada dia possui um determinado número de transeuntes que irão passar pela nossa guarita, e podemos executar até três ações com cada um deles. As ações variam desde conversar, ligar para um dos conselheiros da cidade para pedir dicas ou até utilizar algumas das nossas ferramentas, sendo elas:
- Anel decodificador: decodifica mensagens criptografadas.
- Raio-x: para investigarmos se as pessoas estão carregando algo suspeito.
- Detector de metais: funciona de forma semelhante ao raio-x, mas com foco em objetos de metal, como facas, por exemplo.
- Spray da verdade: ao borrifarmos nos viajantes, eles irão nos falar a verdade.
- Chicote: para situações mais extremas.
Porém, precisamos de cristais de energia para usar cada uma dessas ferramentas, os quais podemos comprar com o dinheiro que recebemos após cada dia de trabalho – ou podemos vender os itens que confiscarmos de forma legal (ou não tão legal assim).
E por último, mas não menos importante, também podemos voltar no tempo algumas vezes por dia, porque sim, uma cientista achou uma boa ideia dar uma ampulheta mágica em fase de testes que faz o tempo retroceder para uma criança de 12 anos.
Estilo artístico e trilha sonora
Possuindo um estilo de arte lindíssimo, Lil’ Guardsman entrega belos cenários e personagens com estilos únicos, nos fazendo lembrar até mesmo de animações como Desencanto e Gravity Falls. Além deles serem bem desenhados, também são bem escritos, o que faz a maioria deles serem marcante durante nossa jornada.
A trilha sonora da obra também não fica muito atrás de sua bela arte em termos de qualidade. Entregando ótimas faixas de som que agregam valor a toda a experiência que os jogadores vão encontrar, se adequando aos momentos tranquilos e de tensão com os quais iremos nos deparar.
Uma aventura leve e divertida
Lil’ Guardsman capturou meu interesse desde o momento em que foi anunciado, e finalmente poder jogá-lo e perceber que ele é tão bom quanto eu esperava que fosse é algo bastante gratificante. Ao contrário do jogo em que se inspira, ele entrega uma aventura mais leve e descompromissada, e embora coloque o futuro do reino em nossas mãos, as consequências dos nossos atos conseguem ser cômicas mesmo em meio a tantas tragédias.
A verdadeira tragédia de Lil’ Guardsman é a falta de uma tradução para o nosso idioma. Com o diálogo sendo um dos pontos mais fortes da obra, a ausência de uma localização impacta diretamente na quantidade de jogadores que vão dar uma chance a ela. Até mesmo os jogadores que têm um domínio básico de inglês podem acabar deixando algumas pistas passarem despercebidas.
Porém, o recomendo fortemente a todos aqueles que estiverem à procura de um bom jogo com uma aventura cativante. Lil’ Guardsman vai prender sua atenção algumas boas horas, fazendo valer cada centavo gasto nele – que, aliás, está custando R$74,95 no seu lançamento.
Cópia de Xbox Series X|S cedida pelos produtores
Revisão: Júlio Pinheiro