Loop Hero é um Roguelike desenvolvido pelo estúdio russo Four Quarters e publicado pela famigerada Devolver Digital. O jogo não é só um Roguelike normal, pois traz uma “mistureba” de subgêneros que, em um primeiro momento, parecem não se encaixar em nada. No entanto, o game ficou muito famoso, conseguindo vender 500 mil cópias na sua primeira semana de lançamento, e isso só na Steam. Portanto, a questão é: como essa mistura fora do comum fez tanto sucesso?
Desenvolvimento: Four Quarters
Distribuição: Devolver Digital
Jogadores: 1 (local)
Gênero: RPG, Estratégia
Classificação: Livre
Português: Interface e legendas
Plataformas: PC
Duração: 28 horas (campanha)/59 horas (100%)
O mundo em um ciclo sem fim
Lich, um ser maligno, começa a corromper o mundo e afogá-lo em completa escuridão. A humanidade não percebeu, mas seu fim já estava sendo feito desde que as estrelas foram desaparecendo do céu. O herói foi até o princípio de todo esse caos e enfrentou Lich, com a intenção de salvar a humanidade. Durante essa batalha, o terrível inimigo conclui seu plano e aprisionou a Terra em um ciclo atemporal sem fim. Consequentemente, sempre que um ciclo se acaba, todos os habitantes da Terra perdem suas memórias.
Após esse final trágico, o herói acorda em um caminho sem nada à sua volta, apenas a obscuridade. Ele começa a andar de imediato, quando monstros surgem à sua frente e o relembram do mundo antes de todo caos. Dias se passam, e com isso o ciclo termina, então ele tem a brilhante ideia de voltar para o acampamento. Surpreendentemente, ao chegar, o herói descobre que ainda há um vestígio de humanidade e, assim, os humanos pretendem ajudá-lo a acabar com os planos do Lich.
A história de Loop Hero é dividida em capítulos e, quando um ciclo é vencido, outro capítulo é liberado. Muitas informações da história são apresentadas antes de batalhas ou ao fazer upgrades no acampamento. Os chefes possuem linhas de diálogos diferentes para cada encontro, então, mesmo que não os vença, sempre receberá um pouco de conhecimento sobre a trama. Esta que é muito boa e conjunta com a ideia de um Roguelike, sendo um ótimo ponto positivo.
Girando, girando, girando pro lado
Loop Hero arrisca misturar Roguelike, deck building (construção de baralhos), estratégia em tempo real e um pouco de idle game (jogos que demandam ações simples do jogador). Explicando melhor este último, são jogos semelhantes aos de celular, em que você precisa apenas clicar algumas vezes na tela para conseguir pontos ou moedas. Então, é uma fórmula bem inusitada, mas, acredite, funciona muito bem.
Levando em consideração que Lich deletou todas as coisas do mundo e agora só reina o vazio completo, você precisa reconstruir tudo do zero. O herói anda sempre por um caminho de pedra gerado proceduralmente. Conforme ele o faz, os dias vão se passando e novos monstros surgem. Consequentemente, ao derrotar os inimigos na estrada, cartas e equipamentos são ganhos.
As cartas permitem reconstruir o mapa em volta da estrada. Como resultado, os locais posicionados podem atribuir status bônus ao herói, dar recursos para melhorar o acampamento ou criar monstros mais fortes que aumentam as chances de recebimento de melhores equipamentos. Antes de iniciar qualquer expedição, é possível modificar o baralho podendo escolher quais cartas você quer que apareça. Recursos são utilizados para construir novos locais no acampamento, fazendo com que novas cartas sejam desbloqueadas.
Há duas barras no canto superior esquerdo que indicam quanto do dia e do ciclo se passou. O tempo passa conforme o herói anda pela estrada, e não há nenhuma forma de diminuir a sua passagem, mas apenas de acelerar com certas cartas. Ao chegar na fogueira, ele é curado e o nível dos monstros aumenta, ampliando o dano e a vida máxima deles. Já a barra do ciclo é preenchida conforme locais são posicionados no mapa e, quando completa, o chefe daquele capítulo aparece na fogueira do herói.
Como o herói não pode ser controlado e até as batalhas são automáticas, a única coisa que o jogador precisa fazer é mudar os equipamentos e colocar novas construções no mapa. Para conseguir fazer essas mudanças a tempo, Loop Hero disponibiliza um modo de planejamento em que tudo fica parado, permitindo que o jogador tenha tempo para posicionar as construções onde quiser.
Em um certo momento, a quantidade de coisas a serem feitas é mínima, uma vez que é normal deixar o jogo agir sozinho – e é justamente nessa ideia que mora o vício. Loop Hero se torna viciante por essa simplicidade de ações em que você se sente um deus controlando o que acontece com aquele mundo. Porém, se torna da mesma forma cansativo pelo grinding excessivo, sendo preciso repetir inúmeras expedições para conseguir materiais suficientes e melhorar o acampamento, liberando melhores status e cartas que facilitam o ciclo. Ainda que seja possível desbloquear outras duas classes com novas construções do acampamento, tudo se mantém repetitivo, mas também difícil de largar.
Um mundo de caos
Loop Hero conta com um belo visual em pixel art detalhista. Durante a expedição tudo parece bem simples, mas, assim que entramos em batalha ou até nas conversas, é perceptível o nível de detalhismo no visual dos personagens. Os sprites conseguem representar bem a movimentação, principalmente dos inimigos, e cada ataque ou habilidade possuem sprites diversificados e bem trabalhados.
Os efeitos sonoros de Loop Hero são incríveis e são bem diferentes do que se costuma ver na indústria. Os desenvolvedores fizeram uma mixagem entre 8bits e sons reais. Ao clicar em cima das construções do acampamento, um som é exprimido representando aquele local. Já nas expedições, há uma quantidade enorme de diferentes deles, dependendo da quantidade de locais posicionados no mapa. Sempre que o dia termina, um galo canta e todos os monstros são gerados, cada qual com um som diferente. Essa quantidade grande de efeitos sonoros na expedição causa um problema, pois em certos momentos é impossível distinguir de onde aquele som surgiu e o que há de novo na tela, havendo uma pequena confusão.
Uma mistureba íntegra
Loop Hero consegue misturar diferentes subgêneros, cada um com sua importância para o jogo. De início, pode parecer complexa todas as essas junções inesperadas, entretanto, conforme ocorre o avanço, tudo se torna simples e fácil por ser quase automático. O sucesso se dá exatamente por isso, já que é possível fazer uma atividade enquanto o herói roda pela estrada de pedra sem fim, visto que ele permanece parado sempre que chega a fogueira. No entanto, isso não remove a necessidade da quantidade absurda de expedições necessárias para conseguir avançar na história. Vale ressaltar que você vai querer olhar e prestar atenção em cada som ou visual do mapa, fato é que o audiovisual é uma das melhores coisas do jogo.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong