No comecinho dos anos 2000, o GameCube foi lançado com Luigi’s Mansion como título de estreia, em uma jogada ao mesmo tempo empolgante e estranha. Luigi recebeu pela primeira vez as luzes de um holofote e ganhou a chance de viver sua própria aventura como protagonista. Até então, o segundo encanador mais famoso do mundo já havia dado alguns pequenos passos para ser algo além de uma simples coloração alternativa de Mario: nas duas sequências do Super Mario Bros original, Luigi já tinha algumas diferenças de controle, mais escorregadio e com um salto mais alto que seu irmão. Mas foi com Luigi’s Mansion que o personagem passou a desenvolver uma personalidade muito particular. Em um jogo em que é responsável por enfrentar fantasmas utilizando um aspirador portátil, interagindo com um ambiente hostil e inquietante, ele se mostra medroso, inseguro e um pouco preguiçoso. Não é a toa a profusão de memes e desafios que o mostram vencendo ”sem fazer nada”, bastante populares nos últimos anos.
Com o lançamento do terceiro jogo da série, realizado no dia das bruxas de 2019 para o Nintendo Switch, sua personalidade já está estabelecida. Ele não é um herói orgulhoso de seu poder ou de suas habilidades, mas sim resignado, que suspira a cada vez que vê a necessidade de caminhar um pouco mais antes de alcançar seu objetivo e, quando tudo acaba, senta em uma poltrona e tira uma merecidíssima soneca.
Desenvolvimento: Next Level Games
Distribuição: Nintendo
Jogadores: 1-2 (local) e 1-8 (online)
Gênero: Aventura, Ação
Classificação: Livre
Português: Não
Plataformas: Switch
Duração: 13 horas (campanha)/21.5 horas (100%)
A jornada pelo hotel
Em Luigi’s Mansion 3, Luigi é o centro de tudo; vivemos a aventura sob seu ponto de vista e o de mais ninguém. O medo que ele sente não é o nosso (bom, admito que em um ou outro momento talvez tenha sido), a alegria que sentimos ao alcançar os objetivos é por ele. Vencer os desafios que qualquer jogo oferece faz os próprios jogadores se sentirem bem, mas nesse caso, essa alegria é somada a um sentimento de orgulho. Somos nós que jogamos, mas é ele quem está enfrentando tudo isso. Que bom, Luigi. Você também merece vencer.
No terceiro jogo da série, Luigi, seu cachorro-fantasma Polterpup, Mario, a princesa Peach e uma comitiva de Toads visitam um hotel, esperando aproveitar alguns dias de descanso. No luxuoso saguão, nós, os jogadores, parecemos ser os únicos a perceber os claros sinais de que aquilo era uma cilada: funcionários flutuantes com máscaras humanas, um elevador estranhamente fora de serviço e o próprio nome do local, The Last Resort (O Último Hotel). Durante a primeira noite, Luigi ouve um grito da princesa Peach e começa a explorar o hotel, já completamente modificado como se a fachada banhada a ouro tivesse sido retirada, deixando à mostra sujeira, ratos e caveiras decorativas. Enquanto o hotel se apresenta em sua forma mais grotesca, também somos apresentados aos principais antagonistas do jogo: Hellen Gravely, a fantasmagórica dona do hotel, e King Boo, que volta dos jogos anteriores prometendo vingança contra o herói. Após escapar desse primeiro encontro, o protagonista começa a explorar o hotel em busca de seus amigos, presos como pinturas em quadros.
É a partir daí que o jogo se desenrola em uma progressão bastante linear. Luigi encontra seu aspirador, conhece as melhorias feitas pelo Prof. E. Gadd e segue de andar em andar em direção à cobertura do edifício. Cada um dos andares pode ser entendido como uma fase a ser explorada para descobrir as joias colecionáveis e o chefe final, que – geralmente – é quem tem a posse do botão do elevador que dará acesso ao andar seguinte. A linearidade, embora tenha sido um ponto frustrante do segundo jogo da série, neste caso é menos incômoda, muito pela magnitude e criatividade dos ambientes deste jogo.
A diversidade de ambientes e materiais com os quais é possível interagir faz com que esse seja o título mais ambicioso da série. É absolutamente maravilhoso passar por cavernas piratas, pirâmides egípcias, estufas, museus, estúdios de cinema, academias de ginástica, discotecas, entre outras ideias colocadas na tela com uma qualidade gráfica impressionante. Luigi’s Mansion 3 talvez seja o mais esteticamente bonito não apenas da trilogia mas de toda a galeria de jogos disponíveis no Nintendo Switch. A música é original e orquestrada, com muitos timbres diferentes que ajudam a ambientar cada andar, e ajudar a guiar o sentimento dos jogadores à medida em que atravessam cada situação. A trilha sonora é um excelente exemplo de como o terror é trabalhado em Luigi’s Mansion 3: a tensão está presente e é levada a sério, mas é cartunesca e dialoga com o humor o tempo inteiro, na história, no visual e na música.
Poltergust nas costas, controle na mão
Na série, a principal mecânica é a utilização do Poltergust, aspirador portátil que o herói carrega nas costas. O equipamento é o que confere a Luigi a habilidade de sugar fantasmas (e elementos do cenário), soprar ar e utilizar suas lanternas. No caso deste jogo, algumas modificações foram feitas, adicionando outras habilidades. Ao contrário dos títulos anteriores, agora é possível pular, ou ao menos impulsionar-se para cima com a ajuda do Poltergust.
Não se trata de um pulo capaz de tornar o jogo mais próximo de um estilo plataforma tradicional, mas serve como uma opção a mais para os momentos de combate, já que o salto também afasta qualquer objeto ou fantasma que estiver próximo. Outra mecânica interessante é o uso de uma espécie de desentupidor, que pode ser mirada, atirada e servir para puxar e arremessar objetos mais pesados.
Por fim, a nova dinâmica que muda mais drasticamente a forma de se jogar é Gooigi, um duplo do herói feito inteiramente da mesma matéria gelatinosa que forma os fantasmas. Gooigi possui as mesmas habilidades de Luigi, mas é capaz de passar por espaços apertados como grades e canos, acessando áreas exclusivas. Por outro lado, Gooigi possui poucos pontos de vida e é muito vulnerável a água. Sua adição permite que a história principal possa ser jogada por dois jogadores simultaneamente. Quando isso não ocorre, o mesmo jogador pode, pressionando um botão, chamar Gooigi e controlar cada um deles para resolver problemas que demandam as habilidades de ambos.
O sistema de batalha consiste em paralisar os fantasmas com a lanterna e sugá-los, capturando-os dentro do Poltergust. Desta vez, Luigi pode também arremessá-los contra o chão, as paredes, ou outros fantasmas, acelerando o combate. Se cada andar é distinto entre si, são sempre os mesmos fantasmas que se repetem, algumas vezes com uma vestimenta temática que promove certa variedade durante as batalhas.
Isso pode ser visto como um ponto negativo, mas também ajuda a conferir alguma homogeneidade aos ambientes tão heterogêneos. É nos chefes de cada andar que a criatividade realmente aparece, com mecânicas e personagens tão cativantes que, em mais de uma ocasião, eu simplesmente não queria progredir, ou me percebia com a boca aberta, sinceramente encantado pelo jogo.
Os controles são mais livres que Luigi’s Mansion 2, mas isso fez com que a minha experiência fosse um pouco mais difícil. Demorei a me acostumar em controlar ao mesmo tempo o movimento do personagem (joystick esquerdo), sua direção (joystick direito ou controles de movimento) e cada um dos diferentes botões de ação. Embora o jogo ofereça algumas opções de customização, nenhuma delas me pareceu perfeita. A beleza e nível de detalhes faz com que o jogo no modo TV seja o mais interessante.
Assustadoramente divertido
Luigi’s Mansion 3 é um jogo muito cativante e a temática de terror não é um impeditivo para quem quer que seja, já que é tratada de maneira leve e bem humorada. Sugar fantasmas e interagir com o ambiente utilizando o Poltergust é muito satisfatório e uma mecânica ainda bastante incomum e que se mantém original. Certamente é um dos principais jogos do catálogo do Nintendo Switch e serve para consolidar e levar a mais jogadores o agradável e único estilo de jogo da série.
Esta review foi feita com uma cópia de Switch adquirida pelo autor
Revisão: Jason Ming Hong