No comecinho dos anos 2000, o GameCube foi lançado com Luigi’s Mansion como título de estreia, em uma jogada ao mesmo tempo empolgante e estranha. Luigi recebeu pela primeira vez as luzes de um holofote e ganhou a chance de viver sua própria aventura como protagonista. Até então, o segundo encanador mais famoso do mundo já havia dado alguns pequenos passos para ser algo além de uma simples coloração alternativa de Mario: nas duas sequências do Super Mario Bros original, Luigi já tinha algumas diferenças de controle, mais escorregadio e com um salto mais alto que seu irmão. Mas foi com Luigi’s Mansion que o personagem passou a desenvolver uma personalidade muito particular. Em um jogo em que é responsável por enfrentar fantasmas utilizando um aspirador portátil, interagindo com um ambiente hostil e inquietante, ele se mostra medroso, inseguro e um pouco preguiçoso. Não é a toa a profusão de memes e desafios que o mostram vencendo ”sem fazer nada”, bastante populares nos últimos anos.
Com o lançamento do terceiro jogo da série, realizado no dia das bruxas de 2019 para o Nintendo Switch, sua personalidade já está estabelecida. Ele não é um herói orgulhoso de seu poder ou de suas habilidades, mas sim resignado, que suspira a cada vez que vê a necessidade de caminhar um pouco mais antes de alcançar seu objetivo e, quando tudo acaba, senta em uma poltrona e tira uma merecidíssima soneca.
Desenvolvimento: Next Level Games
Distribuição: Nintendo
Jogadores: 1-2 (local) e 1-8 (online)
Gênero: Aventura, Ação
Classificação: Livre
Português: Não
Plataformas: Switch
Duração: 13 horas (campanha)/21.5 horas (100%)
A jornada pelo hotel
![Luigi se espreguiça com o cachorro Polterpup dormindo no seu colo.](https://jogandocasualmente.com.br/wp-content/uploads/2020/11/review-luigismansion3-3-1024x576.jpg)
Em Luigi’s Mansion 3, Luigi é o centro de tudo; vivemos a aventura sob seu ponto de vista e o de mais ninguém. O medo que ele sente não é o nosso (bom, admito que em um ou outro momento talvez tenha sido), a alegria que sentimos ao alcançar os objetivos é por ele. Vencer os desafios que qualquer jogo oferece faz os próprios jogadores se sentirem bem, mas nesse caso, essa alegria é somada a um sentimento de orgulho. Somos nós que jogamos, mas é ele quem está enfrentando tudo isso. Que bom, Luigi. Você também merece vencer.
No terceiro jogo da série, Luigi, seu cachorro-fantasma Polterpup, Mario, a princesa Peach e uma comitiva de Toads visitam um hotel, esperando aproveitar alguns dias de descanso. No luxuoso saguão, nós, os jogadores, parecemos ser os únicos a perceber os claros sinais de que aquilo era uma cilada: funcionários flutuantes com máscaras humanas, um elevador estranhamente fora de serviço e o próprio nome do local, The Last Resort (O Último Hotel). Durante a primeira noite, Luigi ouve um grito da princesa Peach e começa a explorar o hotel, já completamente modificado como se a fachada banhada a ouro tivesse sido retirada, deixando à mostra sujeira, ratos e caveiras decorativas. Enquanto o hotel se apresenta em sua forma mais grotesca, também somos apresentados aos principais antagonistas do jogo: Hellen Gravely, a fantasmagórica dona do hotel, e King Boo, que volta dos jogos anteriores prometendo vingança contra o herói. Após escapar desse primeiro encontro, o protagonista começa a explorar o hotel em busca de seus amigos, presos como pinturas em quadros.
É a partir daí que o jogo se desenrola em uma progressão bastante linear. Luigi encontra seu aspirador, conhece as melhorias feitas pelo Prof. E. Gadd e segue de andar em andar em direção à cobertura do edifício. Cada um dos andares pode ser entendido como uma fase a ser explorada para descobrir as joias colecionáveis e o chefe final, que – geralmente – é quem tem a posse do botão do elevador que dará acesso ao andar seguinte. A linearidade, embora tenha sido um ponto frustrante do segundo jogo da série, neste caso é menos incômoda, muito pela magnitude e criatividade dos ambientes deste jogo.
A diversidade de ambientes e materiais com os quais é possível interagir faz com que esse seja o título mais ambicioso da série. É absolutamente maravilhoso passar por cavernas piratas, pirâmides egípcias, estufas, museus, estúdios de cinema, academias de ginástica, discotecas, entre outras ideias colocadas na tela com uma qualidade gráfica impressionante. Luigi’s Mansion 3 talvez seja o mais esteticamente bonito não apenas da trilogia mas de toda a galeria de jogos disponíveis no Nintendo Switch. A música é original e orquestrada, com muitos timbres diferentes que ajudam a ambientar cada andar, e ajudar a guiar o sentimento dos jogadores à medida em que atravessam cada situação. A trilha sonora é um excelente exemplo de como o terror é trabalhado em Luigi’s Mansion 3: a tensão está presente e é levada a sério, mas é cartunesca e dialoga com o humor o tempo inteiro, na história, no visual e na música.
Poltergust nas costas, controle na mão
![Luigi, Por. E. Gadd e Polterpup animados com o que veem.](https://jogandocasualmente.com.br/wp-content/uploads/2020/11/review-luigismansion3-2-1-1024x576.jpg)
Na série, a principal mecânica é a utilização do Poltergust, aspirador portátil que o herói carrega nas costas. O equipamento é o que confere a Luigi a habilidade de sugar fantasmas (e elementos do cenário), soprar ar e utilizar suas lanternas. No caso deste jogo, algumas modificações foram feitas, adicionando outras habilidades. Ao contrário dos títulos anteriores, agora é possível pular, ou ao menos impulsionar-se para cima com a ajuda do Poltergust.
Não se trata de um pulo capaz de tornar o jogo mais próximo de um estilo plataforma tradicional, mas serve como uma opção a mais para os momentos de combate, já que o salto também afasta qualquer objeto ou fantasma que estiver próximo. Outra mecânica interessante é o uso de uma espécie de desentupidor, que pode ser mirada, atirada e servir para puxar e arremessar objetos mais pesados.
![Luigi batendo inimigos contra o chão](https://jogandocasualmente.com.br/wp-content/uploads/2020/11/review-luigismansion3-3-switch.jpg)
Por fim, a nova dinâmica que muda mais drasticamente a forma de se jogar é Gooigi, um duplo do herói feito inteiramente da mesma matéria gelatinosa que forma os fantasmas. Gooigi possui as mesmas habilidades de Luigi, mas é capaz de passar por espaços apertados como grades e canos, acessando áreas exclusivas. Por outro lado, Gooigi possui poucos pontos de vida e é muito vulnerável a água. Sua adição permite que a história principal possa ser jogada por dois jogadores simultaneamente. Quando isso não ocorre, o mesmo jogador pode, pressionando um botão, chamar Gooigi e controlar cada um deles para resolver problemas que demandam as habilidades de ambos.
O sistema de batalha consiste em paralisar os fantasmas com a lanterna e sugá-los, capturando-os dentro do Poltergust. Desta vez, Luigi pode também arremessá-los contra o chão, as paredes, ou outros fantasmas, acelerando o combate. Se cada andar é distinto entre si, são sempre os mesmos fantasmas que se repetem, algumas vezes com uma vestimenta temática que promove certa variedade durante as batalhas.
![](https://jogandocasualmente.com.br/wp-content/uploads/2020/11/review-luigismansion3-1-2-1024x576.jpg)
Isso pode ser visto como um ponto negativo, mas também ajuda a conferir alguma homogeneidade aos ambientes tão heterogêneos. É nos chefes de cada andar que a criatividade realmente aparece, com mecânicas e personagens tão cativantes que, em mais de uma ocasião, eu simplesmente não queria progredir, ou me percebia com a boca aberta, sinceramente encantado pelo jogo.
Os controles são mais livres que Luigi’s Mansion 2, mas isso fez com que a minha experiência fosse um pouco mais difícil. Demorei a me acostumar em controlar ao mesmo tempo o movimento do personagem (joystick esquerdo), sua direção (joystick direito ou controles de movimento) e cada um dos diferentes botões de ação. Embora o jogo ofereça algumas opções de customização, nenhuma delas me pareceu perfeita. A beleza e nível de detalhes faz com que o jogo no modo TV seja o mais interessante.
Assustadoramente divertido
Luigi’s Mansion 3 é um jogo muito cativante e a temática de terror não é um impeditivo para quem quer que seja, já que é tratada de maneira leve e bem humorada. Sugar fantasmas e interagir com o ambiente utilizando o Poltergust é muito satisfatório e uma mecânica ainda bastante incomum e que se mantém original. Certamente é um dos principais jogos do catálogo do Nintendo Switch e serve para consolidar e levar a mais jogadores o agradável e único estilo de jogo da série.
Esta review foi feita com uma cópia de Switch adquirida pelo autor
Revisão: Jason Ming Hong