Marsupilami: Hoobadventures para Nintendo Switch

Review Marsupilami: Hoobadventures (Switch) – Palombia é o meu país

Marsupilami: Hoobadventures é um jogo de plataforma que traz à vida os Marsupilami, personagens clássicos do quadrinista belga André Franquin, os quais são pouco conhecidos no Brasil. Com movimentos fluidos e rápidos, a aventura se passa na terra fantástica de Palombia e se inspira em jogos de plataforma modernos como Yooka-Laylee and The Impossible Lair e Donkey Kong Country Returns.

Desenvolvimento: Ocellus Studio
Distribuição: Microid
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Plataforma, Aventura
Classificação: Livre
Português: Não
Plataformas: Switch, PC
Duração: 2 horas (campanha)

O exótico 

Marsupilami e sua cauda de oito metros.

Aqui no Brasil, o termo Marsupilami remete mais diretamente a um programa da Disney que fez sucesso ali pela virada do século e que era transmitido em TV aberta pelo SBT. Mas esse é apenas um aspecto (relativamente pequeno e bastante controverso) da história do personagem. O programa foi descontinuado rapidamente e gerou um longo processo judicial, cujo resultado atestou que a série animada não fazia jus ao quadrinho original e nem recebia a atenção prometida pela empresa.

Criado pelo quadrinista belga André Franquin na década de 1950, Marsupilami integrava as histórias de Spirou e Fantasio, que faziam bastante sucesso em toda a Europa, especialmente nos países de língua francesa. O personagem é descrito como um marsupial amarelo com características absurdas: é um mamífero que nasce de ovos, capaz de respirar sob a água e que possui uma cauda de 8 metros capaz de ser utilizada para as mais diferentes atividades. O nome mistura o termo marsupial (uma classe de animais com admirável presença em histórias de humor), o termo francês para “amigo” e ainda faz referência a um antigo personagem do desenho animado Popeye, que em inglês se chamava Eugene The Jeep, mas na língua de Franquin era chamado de Pilou-Pilou.

A Bélgica é conhecida por ter contribuído imensamente para o gênero das histórias em quadrinhos, a ponto da capital Bruxelas manter pelas ruas da cidade uma rota de grafite representando personagens clássicos. O principal nome, bastante conhecido por aqui, é o de Hergé, que décadas antes da estreia de Marsupilami criou o personagem Tintim. As aventuras de Tintim também apresentou uma temática que foi aproveitada por Franquim: o mundo que se abria aos olhos (e bolsos) dos europeus e as aventuras que guardavam. Quadrinhos, games e qualquer obra cultural são filhos de seu tempo, reflexo dos modos de pensar de sua sociedade. No caso da Europa em meados do século XX, eram comuns temas como as Grandes Guerras e o Neocolonialismo. Nessa época, o resto do mundo era visto assim mesmo: como “resto”, lar de seres e culturas exóticas, que iam do diferente ao bizarro. 

As HQs de Franquin não chegam perto de reproduzir as ideologias colonialistas de Tintim, mas mantêm o interesse pelo “exótico”: Marsupilami habita a América do Sul, misturando realidade e fantasia em um país chamado Palombia. Incapaz de se comunicar além de repetir a interjeição “Houba!”, o animal vive em um ambiente formado por selva amazônica, cidades com arquitetura mexicana e vulcões; e precisa lidar com piranhas, onças, cobras, caçadores e garimpeiros, da mesma forma que lida com seres fantásticos e povos indígenas inventados pelo autor.

O familiar

Palombia é formada por florestas, cidades e templos.

O jogo Marsupilami: Hoobadventures não carrega explicitamente toda a carga dos personagens de Franquin. A aventura é bem direta na verdade: os três marsupiais estão descansando na praia quando encontram uma espécie de sarcófago amaldiçoado. O fantasma que sai de lá possui todos os seres vivos de Palombia, que se tornam inimigos do trio de heróis. Sem falas, mas cheio de “houbas”, o jogo vai direto ao ponto, oferecendo o mínimo necessário para saber afinal por que estamos atravessando cada uma das fases. 

Para quem é familiarizado com títulos de plataforma, especialmente os mais recentes e que utilizam a técnica conhecida como 2.5D (movimento plano com modelos tridimensionais), a jogabilidade é muito natural. Marsupilami anda, pula e quica nas paredes. Usando sua cauda fantástica, consegue ainda golpear quem está à sua frente, prender-se a ganchos especiais espalhados pelas fases, atacar o chão quebrando obstáculos e correr por aí. Talvez o mais preciso não seja correr, mas rodar: seu rabo se enrola ao redor do corpo funcionando como uma espécie de roda que lhe permite se movimentar mais rapidamente. 

Algumas mecânicas dos movimentos parecem simplificadas em relação a jogos como os da série Donkey Kong Country Returns e Yooka-Laylee and the Impossible Lair. Os pulos secundários após quicar em um inimigo ou em uma parede têm uma altura fixa e não há mecânicas para corrigir o movimento no ar. Por outro lado, há recursos que hoje parecem ter se tornado essenciais para jogos de plataforma, como o Coyote Time e o salto após rolar para fora de uma plataforma. Essa combinação torna o movimento agradável, simples e que permite pequenas imprecisões. A experiência é acessível para jogadores mais novatos e para os mais experientes.

Marsupilami: Hoobadventures tende mais ao pólo fácil do espectro de dificuldade. As fases se dividem em 3 mundos, cada um dos quais apresenta um salto considerável de dificuldade em relação ao anterior. Há alternativas de nível de dificuldade, que podem ser mudadas dentro de um único save file, sendo que a mais simples é um modo invencível, provavelmente destinado a crianças; já as duas outras alteram a quantidade de dano que Marsupilami pode receber – três no modo normal e duas no difícil. Ainda assim, as fases estão repletas de frutas e, a cada 100, o jogador recebe uma nova vida. Mesmo no modo mais difícil, as vidas são abundantes, diminuindo a chance de um game over.

Palombia é aqui

Marsupilami: Hoobadventure é feito a partir das referências dos quadrinhos originais de Franquin.

Marsupilami: Hoobadventures se inspira nos quadrinhos e em referências estéticas da América Latina para desenhar seus cenários. As cidades de Palombia, exploradas no primeiro mundo, parecem uma mistura de favelas brasileiras com cores e arquitetura de vilas mexicanas. No segundo, uma floresta idílica traz elementos tropicais e amazônicos. A aventura termina em uma espécie de templo antigo com grafismos astecas, onde pela última vez o vilão do jogo será enfrentado.

Embora seja possível escolher três marsupiais únicos, sua diferença é apenas a cor e os efeitos sonoros, de modo que o recurso é facilmente esquecível.

Além das frutas, há outros colecionáveis espalhados pelo mundo: 5 penas multicoloridas em cada fase tradicional e um emblema para quem encontra e vence o nível bônus. Esses níveis, que mostram apenas a silhueta dos personagens, são usados para testar o jogador e treiná-lo nos movimentos dos personagens. As penas coloridas servem para liberar uma fase extra em cada mundo. Já os emblemas liberam artes dos personagens e dos cenários. 

Não falta personalidade aos personagens de Marsupilami.

Cada fase também permite um modo contra o relógio, para alegria dos jogadores mais propensos ao speedrun. São esses desafios extras que tornam Marsupilami: Hoobadventures particularmente interessante para os mais experientes.

Há quatro tipos de fases espalhadas pelos mundos: além das tradicionais, aquelas chamadas Dojo oferecem desafios semelhantes aos bônus com a vantagem de ainda permitir o modo Time Trial. Níveis extras podem ser experimentados com os Tickets recebidos nos bônus e funcionam como fases comemorativas, repletas de frutas e poucos inimigos. Por fim, as fases finais de cada mundo trazem um desafio de plataforma em que é necessário perseguir o chefão até alcançá-lo e nocauteá-lo.

Houba!

No contexto de Marsupilami, o jogo do estúdio Ocellus é apenas mais um de uma série de produções de mídia voltada aos personagens criados por Franquin. Lançado em 2021, este é o mais recente produto depois de um filme live-action produzido em 2012. Para os brasileiros, entretanto, ele oferece uma nova chance para um personagem que ocupa apenas de forma distorcida um espaço no nosso imaginário. Se Marsupilami: Hoobadventures não oferece nada particularmente inovador ou criativo em termos de jogabilidade, ainda pode ser bastante divertido.

Traz consigo duas facetas  que podem ser muito bem aproveitadas: por um lado é um tipo de jogo ao qual se está familiarizado – uma sólida experiência de plataforma em 2.5D com movimento agradável; por outro lado apresenta uma personagem exótica, que, sem muito esforço, ganha nossa simpatia. Nem todo game precisa ser o jogo de uma vida ou constar no topo de rankings – é simplesmente gostoso jogar Marsupilami Hoobadventures. Se não bastasse isso, ele ainda abre uma janela para ir atrás e conhecer os quadrinhos de Franquin. Que mais posso querer? Houba!

Cópia de Switch cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

Marsupilami: Hoobadventures

8

Nota Final

8.0/10

Prós

  • Movimento preciso e divertido
  • Palombia e os Marsupilami são muito carismáticos
  • Há opções de conteúdo para jogadores de níveis diferentes

Contras

  • Mesmo com alguns desafios é um jogo curto e fácil
  • A história é simples e poderia dar mais espaço para apresentar os quadrinhos