Para a criançada que teve o privilégio de ter acesso à televisão a cabo nos anos 90 — me incluo nesses felizardos —, a Nickelodeon trazia desenhos tão divertidos e criativos quanto os da então concorrente Cartoon Network. Naturalmente, surgiram os fandoms de cada emissora. Eu mesmo curtia as duas sem culpa alguma.
Lógico que, com a migração de personagens carismáticos para diversas mídias, esse pessoal todo logo estaria reunido em algum jogo. Após a tentativa de mudar os ares dessa convenção cheia de gosma verde e laranja para um campo de batalha com Nickelodeon All-Star Brawl, chegou a hora dos Nicktoons voltarem para as pistas com Nickelodeon Kart Racers 3: Slime Speedway.
Desenvolvimento: Bamtang Games
Distribuição: GameMill Entertainment
Jogadores: 1-4 (local) e 1-12 (online)
Gênero: Corrida
Classificação: Livre
Português: Não
Plataforma: PC, PS4, PS5, Switch, Xbox One, Xbox Series X/S
Duração: Sem Registro
Vai ter grana para todo mundo?
Slime Speedway investiu pesado e trouxe um elenco de 42 corredores, com celebridades de diversas eras da Nickelodeon. Estão presentes personagens de Hey Arnold!, Ren e Stimpy, Rugrats, Bob Esponja, A Vida Moderna de Rocko e Avatar. Além deles, as aquisições licenciadas da Viacom, dona da marca, também foram representadas e com justiça. Logo, temos as quatro Tartarugas Ninjas em seu esplendoroso visual clássico — nada contra o look de 2012, mas nada supera as dos anos 80 — e a inclusão de Garfield e Odie.
Com tantos nomes de peso, uma das maiores mancadas dos jogos anteriores da franquia foi corrigida: agora temos vozes! Sim: todos os nicktoons ganharam frases icônicas, que são ditas sempre que acertam alguém com algum power-up, estão esperando na tela de seleção ou ganham uma corrida. Essa parte fez muita falta, pois sempre queremos escutar nosso escolhido dizendo as mesmas coisas que naquele episódio X.
As referências não param por aí, pois agora também é possível escolher o kart do nosso piloto, além da pintura, roda, turbinas e equipe de assistência, composta por um chefe e dois ajudantes. E é nessa variedade que surge um dos problemas mais chatos do jogo: o grind (repetição para conquistar algo) pesadíssimo.
Geralmente conseguimos um total de 10 moedas por corrida. Os itens da loja tem custos que variam entre 20, para os cosméticos, e 200, no caso do personagem mais caro. O problema é que não há nenhum bônus e se ocorrer de sermos acertados na corrida, perdemos nossa moeda e a vitória por si só não nos garante quantia alguma. Nos níveis mais difíceis, é uma tarefa árdua manter seus tokens intactos até o final.
Outro ponto é que nem todos os desbloqueáveis estão na loja e só são obtidos através de desafios ou ganhando corridas em rede. Aqui temos mais um problema crônico, que é o fato do online estar praticamente morto, o que é uma pena, já que as poucas corridas que consegui fazer durante o período deste review foram muito satisfatórias.
Essa necessidade de repetição deixa o ato de liberar todo mundo muito arrastado, e isso é o principal fator replay do jogo.
Meleca pra todo lado
Como já mencionado, Kart Racers 3 não poupa esforços para trazer o melhor de todo o universo do seu elenco, e as 36 pistas claramente cumprem com esse papel. Desde os corredores do P.S. 118 até a Fazenda Arbuckle e os telhados dos prédios de Nova York, cada cenário traz ótimas representações e alguns deles com direito a remixes dos temas de abertura. Em contrapartida, mesmo elogiando o carinho dado à ambientação dos circuitos, estruturalmente eles são idênticos, salvo uns 3 ou 4 que utilizam elementos como rampas e bifurcações.
Esse aspecto faz um bom dueto com a jogabilidade, que é um clichê do gênero, mas não decepciona. Inclusive, vale citar que é possível ligar um “piloto automático”, para só ficarmos à cargo de esterçar a direção, o que também pode ser feito movimentando o controle como um volante.
Mas de novo a diversão toma um corte brusco, agora durantes as corridas. Em diversos momentos, há uma queda brusca de performance, principalmente quando entramos em um tobogã de gosma rosa e logo na largada, que é o momento em que a tela está mais abarrotada de gente. Além disso, os constantes efeitos de gosma prejudicam a visão em pontos críticos de cada circuito, pois simplesmente poluem muito o centro da tela.
A questão mais crítica está em um item específico, que abre um buraco no meio do caminho e suga todos à sua volta. Essa armadilha poderia ser só um artifício, mas ela acaba “quebrando” o design de algumas pistas, causando um loopque nos obriga a reiniciar a prova por inteiro, pois não conseguimos mais retomar nossa posição e fazer uma relargada.
Maior não é melhor
Nickelodeon Kart Racers 3: Slime Speedway com certeza é o melhor da trilogia, só que isso não significa um grande avanço. O elenco elástico e a introdução das vozes de todos os 42 personagens é uma das coisas mais acertadas possível. O funcionamento do online, com corridas estáveis, também é um ótimo agrado.
O problema é que coisas muito básicas trouxeram falhas. O jogo não é “injogável”, mas é impossível não cansar com as sensações de repetição trazida pela necessidade de juntar moedas e a de se estar sempre na mesma pista, só que com uma cara diferente.
Cópia de PS4 cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong
Nickelodeon Kart Racers 3: Slime Speedway
Prós
- Grande número de personagens e pistas
- Inclusão das vozes dos personagens
- Tartarugas Ninjas com visual original
- Bons remixes na trilha sonora
Contras
- Os circuitos são estruturalmente idênticos
- Problemas de performance em diversos momentos da corrida
- Um item específico nos obriga a reiniciar a partida
- Grinding excessivo para liberar tudo
- Online abandonado