Anos atrás, recebíamos a notícia de que o primeiro jogo da saga Abe, da Oddworld, receberia um remake intitulado New ‘N’ Tasty, o que capturou minha atenção na hora visto que minha infância foi marcada pelo simpático Mudokon escravo da Rapture Farms. Para minha tristeza, o game foi exclusivo por algum tempo de PC e PS4, até que finalmente pude colocar minhas mãos nele na plataforma que tinha na época. A experiência foi incrível, e certamente pude reviver minha infância através dessa versão revitalizada do primeiro título, que aliás você consegue encontrar meu texto sobre a versão de Switch aqui.
Tempos mais tarde, para minha surpresa, a Oddworld anunciou que estava produzindo um remake também de Oddworld Abe’s Exoddus, que é a continuação de Abe’s Oddyssey. Novamente, a espera foi grande e, quase um ano depois, Oddworld Soulstorm dá as caras também nas plataformas Microsoft, para a alegria de todos.
Desenvolvimento: Oddworld Inhabitants
Distribuição: Oddworld Inhabitants
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Plataforma, Puzzle, Ação, Aventura
Classificação: 12 anos
Português: Legendas e interface
Plataformas: PC, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X/S
Duração: 15 horas (campanha)
Nova roupagem
Ao contrário do que Oddworld New ‘N’ Tasty propôs na época, de trazer uma experiência bastante fiel ao título original, Oddworld Soulstorm vai por um caminho completamente diferente. O remake de Abe’s Exoddus traz consigo um título totalmente novo, basicamente contando a história de Exoddus de uma maneira 100% diferente. Por isso, cabe mais chamá-lo de um reboot em vez de um remake. Tendo isso em mente, começamos aqui a história tendo um trem descarrilhado, ao contrário do início original do jogo dos anos 90 que mostrava Abe e seus companheiros recém libertos da fábrica caindo na besteira de beber um líquido criado pela própria Rapture.
O título original buscava aprimorar tudo aquilo que havia sido feito em Oddyssey, colocando em Abe habilidades de chamar mais de um Mudokon por vez, além de especialmente dar ordens a seus companheiros para que realizassem tarefas como puxar alavancar, girar registros e afins. Em Soulstorm, porém, o foco agora é muito mais no próprio protagonista e diferentes mecânicas envolvendo furtividade e crafting do que em comandos de voz aos seus semelhantes.
A parte positiva de tanta mudança é que a fórmula estava um pouco cansada, de fato, causando um pouco de repetição ao longo da jornada de Abe em busca de salvar a todos do seu povo que estavam sendo escravizados em Rapture Farms. Com isso, Abe agora é bem mais ágil, e consegue até mesmo dar um pulo duplo no ar (algo que eu nunca esperaria do personagem) e correr bastante rápido, como também pode lançar garrafas de líquidos inflamáveis e usar de furtividade para desnortear e amarrar guardas Sligs – os guardas com cara de sapo.
A parte ruim é que claramente o progresso possui um foco um pouco mais alto em ação e agilidade, ao contrário dos títulos originais que traziam a essência de puzzle acima de tudo. Isso não vai incomodar a todos, mas vale dizer que é sim algo inesperado para a volta da franquia. Mesmo assim, a nova experiência consegue cativar através de suas novas mecânicas, sem deixar de lado ou ignorar tudo aquilo pelo que a franquia de Abe sempre foi amada, fora que sabe variar bem entre momentos de tensão e paciência.
Momentos de possessão de inimigos também estão bastante presentes, e na maioria das vezes servem para que eliminemos os outros inimigos da tela com a arma de um Slig, por exemplo. Os cães também voltam à cena e exigem com que caminhemos silenciosamente através deles sem chamar atenção, ao mesmo tempo que levamos um grupo enorme de Mudokons e tememos pela vida de todos.
Outra novidade é a procura de objetos, que podem estar por todo o canto. Seja dentro de barris ou armários, vale a pena dar uma averiguada em cada elemento do cenário, já que as chances de encontrar algo valioso ou materiais para construir alguma coisa são grandes. Isso expande bastante as possibilidades, pois agora Abe pode criar armadilhas e utensílios para auxiliá-lo em sua jornada. Frascos de água também são um elemento inédito, e servem para apagarmos as chamas de alguns cenários para abrir caminho, além do frasco com o líquido verde inflamável que pode ser usado para atrair o fogo aos corpos de inimigos para fazê-los queimar, como também sinalizadores para enxergarmos em locais escuros e vários outros itens novos.
Caros Mudokons da velha guarda
Como não podia faltar, o segundo jogo da duologia Abe é bastante focado na ajuda que o protagonista recebe de seus companheiros Mudokons para realizar tarefas e ativar mecanismos. Ao contrário de Abe’s Oddyssey e até mesmo Exoddus, Soulstorm implementa uma inteligência artificial nos NPC de forma que eles agora podem ativar alavancas, girar registros e afins. Em Soulstorm, exclusivamente, os personagens até mesmo seguem Abe em tudo quanto é canto, mesmo em locais que exigem saltos, escaladas e várias outras acrobacias que apenas Abe era capaz de executar no passado. Em termos de IA, essa nova roupagem é um escândalo de tão bom.
Por outro lado, alguns elementos deixam a desejar no jogo atual. Uma das partes com as quais mais sofri foi em botões que ativam portas que saem do chão. Essas portas podem eliminar Abe e seus amigos, caso ela se feche em seu corpo estando acima. Isso me deixou com uma raiva absoluta, já que acabei perdendo a vida várias vezes por causa dessa mecânica. O problema é que não parece algo proposital, mas sim um objeto não polido da jogabilidade, resultando em uma espécie de bug.
Outro fator irritante é a remoção do salvamento e carregamento rápido, o que vinha bastante a calhar no passado. Isso reduzia bastante o esforço excessivo em alguns trechos mais dificultosos, e poupava meu coração de tanta ansiedade de ter que refazer um monte de passos novamente por causa de uma seção específica. Agora o jeito é voltar ao último checkpoint.
Fora isso, algumas fases se mostram longas demais, dando a sensação de que o cenário nunca varia ou que estamos passando tempo demais ali. Tudo bem que existem áreas secretas e tudo mais para serem exploradas, mas, mesmo assim, apesar de ter tentado ser o mais r´ápido possível para ver todo o conteúdo que o jogo tinha a oferecer, não foram raras as vezes em que me senti entediado por falta de variação.
Saldo positivo demais
Fico incrivelmente feliz por, depois de tantos anos, ter visto a segunda jornada de Abe renascer das cinzas e voltar em grande estilo com gráficos e jogabilidade aprimorados. Mesmo com algumas mudanças que podem desagradar fãs de longa data, Soulstorm ainda mantém a essência do que eram as primeiras aventuras do simpático Mudokon lá nos anos 90.
Apesar da ação e elementos de plataformas estarem bem mais presentes do que o puzzle, a missão de resgatar seus companheiros e levá-los a portais com pássaros – além de usá-los como ajuda para resolver situações diversas – é uma das coisas mais legais de se fazer por aqui. A inteligência artificial aprimorada dos Mudokons também é sensacional, e torna tudo bem mais “realista” em termos de possibilidades, coisa que antigamente não era possível devido a limitações técnicas da época. Por fim, Oddworld Soulstorm é muito bem-vindo, e com certeza conquistou meu coração e me fez retornar a este universo com muita alegria.
Cópia de Xbox Series X/S cedida pelos produtores