Oddworld Soulstorm Capa

Review Oddworld: Soulstorm (PC) – O êxodo de Abe

A franquia Oddworld conta a história de um mundo estranho e alienígena, mas com relações sociais extremamente próximas às nossas. Seus jogos sempre abordaram temas críticos com vários paralelos, trazendo – ou tentando trazer – uma jogabilidade rica sem deixar de lado sua história e suas origens. O remake de seu primeiro jogo mostrou aos desenvolvedores o lugar de fala da série e, sabendo disso, eles trouxeram Oddworld: Soulstorm para nós. 

Desenvolvimento: Oddworld Inhabitants

Distribuição: Oddworld Inhabitants

Jogadores: 1 (local)

Gênero: Plataforma, Puzzle

Classificação: 12 anos

Português: Legendas e interface

Plataformas: PC, PS4 e PS5

Duração: 15 horas (campanha)

Um passado sombrio e um futuro brilhante

A fuga em Rupture virou notícia nos jornais.

Oddworld: Soulstorm se passa logo depois dos acontecimentos de Oddworld: New ‘n’ Tasty!, o remake de Oddworld: Abe’s Oddysee. Depois da fuga milagrosa para os Mudokon, mas catastrófica para a Rupture Farms, Abe e os refugiados conseguem abrigo em uma floresta. Lá, enquanto alguns Mudokon bebem a Soulstorm e conversam sobre o ocorrido e seu salvador, Abe passa por uma situação diferente.

Ele conversa com uma anciã do grupo, quase uma sacerdotisa, e tem algumas crises sobre seu passado, pois ela afirma que Abe precisa se livrar das amarras que o prendem: as fitas costuradas em sua boca. Nesse instante a floresta é invadida por uma legião de Sligs voadores, incendiando tudo e obrigando todos a fugir.

Indo um pouco mais para trás na história da franquia, em um momento de muita dificuldade e perseguição, a mãe de Abe costurou algumas fitas em sua boca para que seu constante choro não chamasse a atenção dos inimigos. Desde então, o herói utiliza-as como lembrança de um passado de escravidão e sofrimento. 

Abe permanece preso em seu passado.

Usando e abusando das tecnologias atuais, os desenvolvedores foram capazes de dar muito mais personalidade a Abe, Alf, e até para os antagonistas, como Molluck e os Sligs. Isso ajuda na sensação de ambientação com o universo da franquia e na empatia para com o sofrimento que os Mudokon passam.

Ocorrendo em 15 fases, a história é contada por meio CGIs maravilhosas e cheias de sentimentos, e alguns diálogos durante o jogo. Ambos servem para dar um norte e uma sensação de urgência ao que está acontecendo. No fim das contas, Oddworld: Soulstorm, sendo um remake expansivo de Oddworld: Abe’s Exoddus, trata não somente de uma fuga, mas sim do êxodo dos Mudokon para um lugar em que eles não seriam mais explorados.

Evolução natural

Os Sligs fazem com que a floresta fique em chamas.

Uma das coisas que New ‘n’ Tasty mostrou a Oddworld Inhabitants foi em qual tipo de jogabilidade eles brilham: plataforma com quebra-cabeças. E essa é a base principal de Soulstorm, com alguns acréscimos aqui e ali. Ele possui uma movimentação em 2.5D que abusa da verticalidade, criando mapas extensos e muitos momentos em que é necessário descer ou subir bastante. 

Abe e seus amigos Mudokons são extremamente frágeis. Poucos tiros são capazes de matá-los, assim como o fogo e explosões próximas. Dessa forma, é necessário ser furtivo na maioria do tempo. Existem também formas de se esconder, na fumaça, em armários ou caçambas, e até mesmo um item que cria uma pequena e temporária neblina, muito útil em momentos de desespero.

Apesar do foco do jogo ser a furtividade, isso não diminui a forma de eliminar os inimigos.  Inclusive, considerando seu antecessor, existem novas maneiras de se fazer isso.

Os Mudokons acompanham Abe, mesmo quando precisam ser furtivos.

Além da possibilidade de utilizar mecanismos como alavancas que abrem um alçapão e o canto para derrotar os guardas, Abe recebeu algumas ótimas novas possibilidades. Ele agora pode enrolar os Sligs com fita quando estão dormindo ou atordoados, arremessar balas duras para derrubá-los, encharcá-los com bebida inflamável para depois fazê-los pegar fogo e muitas outras formas de ofensiva. Mas a maneira mais divertida continua sendo a tradicional: dominar um Slig e metralhar seus companheiros. 

Abe precisa cantar para salvar seus companheiros.

Por falar nos Sligs, agora eles possuem novos armamentos, o que faz com que o jogador tenha que prestar atenção a esse fator para planejar algumas fugas, ao mesmo tempo que se torna mais divertido ainda dominá-los com seu canto. Existem muitos momentos de ação furtiva, em que é necessário eliminar todos os inimigos para conseguir avançar.

As coisas começam a ficar difíceis, e até um pouco cadenciadas, quando Abe precisa salvar um grupo de Mudokons. Eles seguem e fazem tudo que seu líder pede, inclusive se escondem sem dificuldade, mas em alguns momentos Abe é acompanhado por muitos deles, gerando alguns ótimos momentos de atenção.

É necessário atenção para seus companheiros não morrerem.

Outra nova possibilidade é a construção de itens, semelhante a The Last of Us, por exemplo. Abe coleta alguns itens em caçambas de lixo, armários ou até mesmo de inimigos que estão dormindo ou atordoados, para construir novos produtos que podem ajudar sua jornada.

Entretanto, isso não é feito de uma forma tão boa e demora muitas fases para que se torne relevante e o jogador tenha que pensar em qual item deverá fazer com os recursos que coletou. Essa possibilidade ficaria melhor caso existissem uma quantidade maior de receitas que se tornam disponíveis no início da jornada, para criar os itens que são básicos atualmente. Ou talvez tivesse sido melhor simplesmente tirar esse recurso, pois dá a impressão de estar lá apenas para cumprir uma tabela de implementação de novas mecânicas.

Os cenários são variados e belíssimos.

Oddworld: Soulstorm se passa em 15 fases, sendo que a maioria são bem extensas e com muitas áreas secretas. Essas áreas são um desafio à parte para os “complecionistas”, pois é realmente difícil encontrá-las e muitas vezes são nelas que estão aqueles Mudokons que faltam para completar o mínimo exigido de 80% de salvamentos em cada fase. Vale a pena ir em busca disso, pois o final verdadeiro só acontece quando Abe salvou mais de 80% de seus amigos em cada cenário.

Existe um problema nas fases, pois elas são muito extensas e às vezes cansam. Talvez o ideal seria aumentar para 30 fases e dividi-las pela metade. Isso poderia ser facilmente implementado, pois muitas delas possuem alguns cortes para cenas ou diálogos perfeitos que poderiam diminuí-las pela metade.

Existem muitos momentos de fugas verticais.

Uma outra coisa que me frustra é que existem poucos momentos de desafios de plataforma, em que Abe precisa correr contra o tempo para sobreviver, pulando, caindo e rolando. Pra mim estes foram os melhores momentos de New ‘n’ Tasty, mas que foram reduzidos aqui.

Por fim, é importante citar que existem chefes para derrotar. São poucos, mas bem contextuais e extremamente divertidos. Dentre os vários acertos na jogabilidade, com certeza esse foi um dos maiores.

Um belo visual, mas perde na trilha sonora

As fases são muito amplas e muitas cenas mostram um pouco disso.

Um dos quesitos mais caprichados no game com certeza é seu visual. Existem muitas áreas amplas em que Abe pode explorá-las por inteiro. Em alguns momentos tem até binóculos para observar e conhecê-las um pouco melhor, e as coisas ficam mais divertidas quando o jogador sabe que é possível ir até aquela área que aparece ao longe. 

A qualidade da animação dá uma nova roupagem aos personagens, que agora possuem mais feições e expressam melhor seus sentimentos. Somado aos ambientes amplos, cenas maravilhosas são geradas, capazes fazer com que o jogador sinta o que eles estão sentido. Isso sem perder o humor pastelão característico da franquia.

Além disso, a dublagem continua a mesma, ótima com seus exageros cômicos e vozes diferenciadas. Apesar disso, a trilha sonora não é nada demais, e em vários momentos nem parece haver música, somente nas cenas em que os sons causam um impacto maior.

Veredito

Oddworld: Soulstorm pega todos os elementos que deram certo em seu antecessor e amplia, tornando-os melhores ainda. Há algumas tentativas de implementação de novos sistemas, como a já citada criação de itens, mas que não são tão boas – tanto que seria melhor não existirem. 

Apesar de ser necessário acostumar com a jogabilidade, como na aceleração e desaceleração de Abe, não existem maiores problemas que tornem a experiência penosa. Inclusive existem facilitadores, como o pulo duplo.

No geral, além de complementar uma história que não foi muito bem contada devido a pressa no desenvolvimento de Oddworld: Abe’s Exoddus, toda a parte de jogabilidade é agradável para quem gosta do gênero e recompensa bem o jogador que explora.

Recomendo Oddworld: Soulstorm aos amantes dessa maravilhosa franquia, e também para quem gosta de plataformas com quebra-cabeça. Adicionalmente, é uma boa pedida para curiosos que estão acostumados com jogos de ação, pois esse elemento se faz presente em alguns momentos. Mas, não recomendo-o para quem não liga para história em jogos, e/ou para quem não tem paciência para explorar e se esconder.Gosta da franquia? Jogou os anteriores e está curioso? Deixe sua opinião nos comentários.

Cópia de PC cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

Oddworld: Soulstorm

7.5

NOTA FINAL

7.5/10

Prós

  • História impactante
  • Ótimos momentos de ação ou furtividade
  • CGIs fantásticas
  • Divertido sem perder o foco na história

Contras

  • Crafting mal implementado
  • Poucos desafios de plataforma
  • Fases grandes demais
  • Alguns momentos sem precisão na jogabilidade