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Review Panzer Dragoon: Remake (Xbox One) – Nas asas do dragão azul

Quando lançado em 1994, o Sega Saturn (console pouco popular no Brasil) tinha como missão dar continuidade ao legado do Mega Drive. A passagem do 16 bits para os 32 bits trouxe novas possibilidades para a SEGA no desenvolvimento dos seus jogos. Uma das ideias era transportar seus populares arcades para as casas das pessoas. O problema era que o Saturn, apesar de permitir a criação de impressionantes jogos bidimensionais, tinha muita dificuldade em entregar uma boa experiência 3D para os jogadores. Em contrapartida, a iniciante na indústria de games Sony, com seu PlayStation, conseguia impressionar renderizando jogos em mundos tridimensionais com muito mais facilidade.

Para provar que o novo console era capaz de se equiparar à concorrência e gerar gráficos tridimensionais tão bons quanto os do console da Sony, o grupo de desenvolvedores da Team Andromeda buscou levar ao limite o hardware do 32 bits da SEGA. Assim, em 1995, foi lançado um shooter on-rails com belos gráficos 3D, uma magnífica trilha sonora e excelente performance. O jogo em questão era Panzer Dragoon. Uma das grandes marcas da oitava geração de consoles foi a popularização de remasters e remakes de jogos renomados. Dessa forma, a MegaPixel Studios assumiu para si a responsabilidade de fazer um revival do clássico jogo da SEGA. Assim Panzer Dragoon: Remake nasceu, chegando esse ano para PC, PS4 e Nintendo Switch e, agora no dia 11 de novembro, chegou também para o Xbox One.

Desenvolvimento: MegaPixel Studios
Distribuição: Forever Entertainment
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação, Aventura, Tiro
Classificação: 10 anos
Português: Não
Plataformas: PC, PS4, Switch e Xbox one
Duração: 1 horas (campanha)/2 horas (100%)

Muito saudosismo, pouca ousadia

Reviva o clássico.

Quando falamos em remake atualmente, é inevitável não pensarmos nas experiências extremamente positivas que a Capcom e Square-Enix tiveram com Resident Evil 2 e Final Fantasy VII, respectivamente. Esses jogos foram sucesso de críticas, vendas e arrebataram muitos prêmios mundo afora. Ambos buscaram reimaginar os jogos originais que lhes serviram de inspiração para trazer uma experiência verdadeiramente nova. Há, nesse sentido, uma harmonia quase que perfeita entre nostalgia e inventividade, possível graças ao poder dos hardwares dos consoles atuais.

Panzer Dragoon: Remake, vai na contramão dessa tendência. Ao respeitar em demasia a obra original, a equipe de desenvolvedores – talvez até por uma questão orçamentária – não se permitiu transformar a experiência do clássico em algo mais alinhado aos jogos e jogadores dos tempos atuais. A ousadia que podemos ver nos remakes que citei acima, simplesmente não existe em Panzer Dragoon: Remake. Para o bem ou para o mal temos, em todos os aspectos, algo muito fiel ao jogo de vinte e cinco anos atrás. Tirando o “tapa” visual que os gráficos em alta definição permitiram, algumas pequenas melhorias e novidades, temos exatamente o mesmo jogo de 1995. O novo game, portanto, foca demais no saudosismo e perde a chance de trazer novidades que seriam muito bem-vindas.

As asas do dragão azul

Voe nas asas do dragão azul.

A história de Panzer Dragoon mescla fantasia e tecnologia, num mundo onde homens, dragões e máquinas de todos os tipos andam lado a lado. No jogo somos apresentados a um futuro pós-apocalíptico onde a raça humana quase encontrou a sua destruição. Sem esperança de um mundo melhor, as pessoas buscam respostas para seus problemas no passado. Escavações trazem à luz uma tecnologia antiga que permitiu a formação de um poderoso arsenal. Os poucos humanos sobreviventes passam a travar uma guerra cibernética, disputando terras e recursos. No centro de toda a maldade e conflito que assola a humanidade, está a facção The Empire e o Dark Dragon. Em meio a essas disputas, controlamos o jovem caçador Keil Fluge que, por obra do destino, é apresentado ao dragão azul Solo Wing. Iniciando juntos uma jornada épica, os dois acabam se tornando a única esperança para trazer paz de volta ao mundo.

Um remake comedido

Acho que “comedido” seria a palavra que melhor define Panzer Dragoon: Remake, e isso fica evidente na própria apresentação do jogo. A sequência de abertura é a mesma do original. A CGI, apesar de obviamente mais bela que a que víamos no Sega Saturn, é vintage demais e acaba passando a impressão de se tratar de algo datado. E isso se estende para os menus e modo de jogo (no singular mesmo). O game para todos os efeitos é o típico arcade. Dessa forma, passar pelos sete níveis atirando numa horda de inimigos por um caminho pré-determinado é a única forma de experimentá-lo. Ao final de cada fase enfrentamos um boss e bola pra frente.

Não há sequer um multiplayer local ou online. Em jogos arcade, o gameplay é focado muito mais na pontuação que podemos obter do que com o roteiro em si. Assim, somos incentivados à repetição apenas para melhorar nosso score ou tentar atravessar pelas fases numa dificuldade maior. Essas são as principais motivações para revisitar o game e termos uma experiência mais longeva. Porém, em menos de duas horas conseguimos derrotar Dark Dragon e fechar o jogo. Isso era comum nos anos 90? Sim! Mas, o jogo é de 2020. Deveria haver um equilíbrio.

Tecnicamente belo

O jogo apresenta cenários variados.

Ao menos tecnicamente Panzer Dragoon: Remake não faz feio. Os gráficos, apesar de simples e passarem pra gente a impressão de estarmos jogando algo antigo, são bonitos e bem definidos. Somos apresentados a cenários coloridos e diversificados. Em termos de ambientação, cada uma das sete fases são bem diferentes uma das outras. O jogo também é bem rápido e fluido, rodando em 60 fps. De igual forma, a trilha sonora – tal qual o clássico – é impecável. A compositora Saori Kobayashi trouxe uma reimaginação orquestrada das músicas do original. Então, aproveite e jogue o game no volume máximo!

A MegaPixel Studios buscou trazer algumas novidades ao Panzer Dragoon: Remake. Uma delas é o Modo Fotografia, que nos possibilita usar livremente a câmera para captar imagens bem bacanas do Keil Fluge e Solo Wing. Outra novidade é a implementação de uma nova configuração dos controles, numa tentativa de adaptar nossa experiência para algo mais próximo do que vemos em shooters atuais. Os controles, na verdade, foram uma das minhas maiores decepções. Não é que sejam ruins, mas assim como todo o resto do jogo, eles pouco acrescentam. A nova configuração do controle não foi bem implementada e acabou não me agradando. Por ele podemos atirar com o gatilho direito (RT) e usar o analógico direito para movimentar a mira nos inimigos em tela. A câmera, assim como o clássico, é fixa e o máximo que podemos fazer é rotacioná-la (LB e RB) para focar nos inimigos que estão nas laterais e atrás de nosso personagem. No fim das contas acabei optando por jogar o game inteiro com os controles clássicos.

Em Panzer Dragoon existem duas formas de jogar: esmagando os botões de forma repetida até ganhar uma tendinite (não há uma opção “turbo”, por exemplo) ou atacando com rajadas, segurando o comando de tiro e mirando em vários adversários na tela ao mesmo tempo. O game exige – seja lá qual direção você levar sua forma de jogá-lo – precisão, agilidade e atenção. O desafio é alto até mesmo na dificuldade normal. Os inimigos vêm e vão com muita rapidez e podem facilmente acabar com nossa barra de energia. Isso é algo ao qual devemos ficar atentos, pois não há durante a gameplay qualquer power up ou item de regeneração de energia.

Poderia ser mais

O jogo é bom. Mas, poderia ser melhor!

As poucas horas que passamos pelos desafios de Panzer Dragoon: Remake são divertidas, e o jogo ainda guarda algumas surpresas ao completarmos a jornada. Por ser essencialmente arcade, podemos experimentá-lo de forma casual. Talvez completando uma fase ou outra para quebrar o ritmo de algum jogo que estejamos curtindo. De toda forma, esperava um pouco mais. Como já disse, faltou ousadia nesse remake. A SEGA, ao terceirizar o desenvolvimento do jogo, perdeu uma boa oportunidade de reviver um clássico, expandindo-o sem desrespeitar o material original. Em meio a tantas imaginações de games do passado, a timidez vista em Panzer Dragoon: Remake esvaziou as possibilidades de torná-lo memorável.

Esta review foi feita com uma cópia de Xbox One cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

Panzer Dragoon Remake

7

Nota final

7.0/10

Prós

  • Cenários coloridos e diversificados
  • Gameplay fluido
  • Trilha sonora impecável
  • Modo fotografia

Contras

  • Gráficos simples
  • Sem multiplayer local ou online
  • Muito curto
  • Sem legendas em PT-BR