Como um jovem que cresceu jogando videogame nos anos 90, nada mais natural do que ter lembranças felizes de games de plataforma no estilo retrô. Assim, sempre que vejo uma desenvolvedora tentando recriar o clima dessa época tão importante para a história dos jogos digitais, me sinto automaticamente tentado a consumir o conteúdo que estão produzindo.
Dessa forma, quando botei os olhos em Panzer Paladin, senti que seria amor à primeira jogada. Contudo, criando uma distância entre a memória afetiva e o que o jogo entrega, será que ele consegue cumprir o objetivo ao qual se propõe?
Desenvolvimento: Tribute Games
Distribuição: Tribute Games
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação
Classificação indicativa: 10 anos
Português: Não
Plataformas: PC e Switch
Duração: 7 horas (campanha)/ 7 horas (100%)
Uma dupla improvável
Sem qualquer aviso prévio, armas brancas de todos os tipos começam a cair do espaço. ‘A organização’ logo descobre que elas emitem uma energia maligna capaz de não apenas invocar criaturas místicas, mas também corromper qualquer humano que as toque. O pior? Somente as armas que criaram estes seres são capazes de destruí-los! Fica a questão: como os humanos podem enfrentá-los sem cair em corrupção?
É então que surgem os nossos protagonistas: Flame e Grit. Flame é uma ciborgue de resgate que não possui a constituição necessária para enfrentar inimigos perigosos, ainda que domine o uso do chicote para o combate e tenha um coração cheio de coragem. Enquanto isso, o melhor amigo da moça de cabelos azuis, Grit, é um mecha gigante dotado de inteligência artificial. Única esperança da humanidade, a dupla decide, então, juntar forças para proteger a Terra das influência sombria do oculto.
Com esta premissa, começamos nossa jornada. Muito embora seja ridiculamente surreal, Panzer Paladin alia tecnologia à magia, criando uma combinação que funciona e diverte. É uma proposta bem simples, mas jogos no estilo plataforma dificilmente carregam histórias densas. O negócio é mergulhar de cabeça nessa fantasia futurista e aproveitar a gameplay sem esperar por respostas ou desenvolvimento da trama.
Os monstros ao redor do globo
Se os gráficos e a trilha sonora de Panzer Paladin automaticamente não te transportarem para outra época, a campanha certamente o fará. Assim que a cutscene inicial é concluída, o mapa mundi aparece na tela e em cada ponto marcado há um grande inimigo a ser derrotado a fim de salvar aquela região – no melhor estilo Megaman. O jogo conta com mais de dez fases e nelas encontramos diversos monstros do imaginário mitológico de algumas partes do planeta – como Lilith, Medusa, Baba Yaga, Anubis, etc.
Como já foi dito, este é um jogo de plataforma e nosso objetivo é atravessar os níveis de cada fase até chegar ao ponto final, onde enfrentaremos os chefes – que, por sinal, são incríveis. Isso, obviamente, não é uma tarefa tão fácil quanto pode parecer. Bastante desafiador, em vários momentos, o jogo exige que você pense de forma inteligente e execute as ações de maneira ágil. Um dano que você toma pode parecer irrelevante em um primeiro momento, mas depois faz toda a diferença; especialmente porque os recursos são limitados: temos poucas vidas, assim como uma quantidade limitada de pontos de cura e checkpoint – que exige uma arma em mãos para pôr no altar em troca do save.
Ainda que o desafio seja bem bacana e nos estimule a continuar, preciso dizer que me incomodou um pouco o quanto as fases possuem dificuldades completamente desproporcionais. Em algumas, passamos rápido e sem muito sofrimento, enquanto em outras há uma quantidade tão grande de inimigos abarrotados que é difícil fazer os reflexos atuarem de maneira correta. Além disso, conforme você é obrigado a repetir as fases por ter morrido sem salvar, a experiência pode se tornar cansativa. Pelo menos podemos selecionar o nível de dificuldade, se a frustração for maior do que o esperado.
Tamanho não é documento
Em se tratando das mecânicas propriamente ditas, digo que pode parecer muito simples desenvolver algo que reproduza o estilo de jogabilidade dos anos 80/90. No fim das contas, na época em que esse tipo estava no auge, não haviam realmente tantas mecânicas além de andar, pular e atacar. Panzer Paladin não destoa dessa fórmula clássica, porque, de maneira bem generalista, é o que podemos fazer. Certo? Não exatamente!
A Tribute Games decidiu ousar, inserindo mecânicas atuais em um jogo que deveria seguir uma receita de bolo. Claro que essas inserções não são muitas, mas acho que elas enriquecem de forma bem considerável a experiência. Por exemplo: é possível usar um salto evasivo para trás, atacar para cima ou para baixo, atirar armas e também se balançar em suportes para alcançar plataformas distantes. Parece bobo, mas achei tão interessante que senti a necessidade de destacar essa mistura entre o clássico e o novo.
Como esta não é a aventura de um robô só, é claro que Flame e Grit possuem funções diferentes dentro da aventura. Enquanto Grit é grande, forte e pode enfrentar os inimigos usando as armas malignas, Flame é frágil e não aguenta muitos golpes – por outro lado, ela é mais rápida, salta mais alto e pode entrar em locais que não comportam o tamanho do homem de lata. Logo, o jogador precisa aprender a utilizar as vantagens da dupla ao seu favor.
Outro elemento bem interessante de Panzer Paladin são as armas dropadas pelos inimigos e que nosso mecha pode utilizar em combate. Não estou brincando quando digo que há uma infinidade de opções e cada uma delas possui um determinado número de poder, durabilidade e feitiço. Essas informações, por sinal, podem ser adquiridas no menu de pause, que também mostra seu inventário – te ajudando a decidir qual você deve utilizar. Outra mecânica de jogo bem atual e que eu definitivamente não esperava encontrar aqui, pelo menos não dessa forma.
Minha única decepção neste segmento do jogo é a aba de melhorias, ou melhor, melhoriA – afinal, a única coisa que podemos melhorar em nossos personagens é a vida de Grit. Nesse sentido, Flame é totalmente deixada de lado. Acredito que aqui poderiam ter inserido melhorias de força, resistência e velocidade de ataque para ambos. Se o jogo aplica esses atributos às armas, não há uma justificativa plausível para não fazê-lo com os personagens.
A arte e o som de uma geração
Digo sem hesitar: Panzer Paladin deu um banho um muito jogos no que diz respeito à direção de arte. O game é inteiramente estruturado no estilo pixel art e o faz com muito primor. Como as fases são situadas em diversos locais do globo, encontramos diversos tipos de cenário: templos chineses, centros de operação, florestas africanas, montes nevados, cidades americanas, etc. Ainda que utilize uma estética que pode ser limitante, fico sinceramente impressionado com o nível de detalhamento que consegue manter nítidas as características de cada cultura que encontramos em nossa exploração.
Falando de maneira bem pessoal, sou fissurado em trilhas sonoras de games clássicos e acredito que a desenvolvedora foi muito feliz com as músicas do jogo. O visual é lindo e a jogabilidade é divertida, mas o som eleva ainda mais a experiência. Para tal, Panzer Paladin abraça o clássico estilo chiptune – que, para quem não conhece, é um tipo de música eletrônica sintetizada. Talvez você não conheça por nome, mas se eu pedir que recorde das músicas de jogos como Shovel Knight e Undertale, certamente você descobrirá que chiptune já faz parte do seu repertório. Certamente, me senti em outra época jogando e, mais do que isso, completamente imerso na aventura.
Modos de jogo
Ainda que a campanha principal seja curtíssima, deixando na boca um gostinho de quero mais, Panzer Paladin se esforça para oferecer o fator replay. Logo, o jogo conta com quatro modos adicionais:
– Speed Run: Você deve concluir as fases em menor tempo possível a fim de obter medalhas.
– Tournament: Um tipo de boss rush, no qual o jogador é recompensado por quão rápido derrota os adversários.
– Remixed: As fases são modificadas para que fiquem ridiculamente difíceis.
– Blacksmith: Uma aba onde o jogador cria e customiza suas armas, podendo ainda compartilhar suas invenções com outros jogadores.
Muito embora eu tenha curtido bastante o jogo, com exceção do modo Remixed, não acho que nenhuma destas outras opções garante o engajamento do jogador. A razão? Bem, nenhuma delas te recompensa propriamente pelo esforço de rejogar as fases seguindo termos de velocidade ou de dificuldade elevados. Se você joga no PC e gosta de conquistas, ao menos terá isso na Steam, mas se jogar no Switch, não terá prêmio algum.
Concluindo
Ao término desta análise, posso dizer que Panzer Paladin certamente cumpre o seu objetivo. Ele acerta em diversos aspectos: conceito de personagens, plot inusitado, jogabilidade, sistema de armas, gráficos e trilha sonora. Por outro lado, peca por não levar mais a fundo alguns dos elementos que insere, mas especialmente por ser tão curto – É até cruel fazer com que nos envolvamos tanto com um jogo sabendo que ele não vai durar tanto assim. Fica aquela sensação amarga de quero mais, sabe? Por ora, nos resta voltar no tempo e curtir outros games retrô, esperando que Flame e Grit surjam novamente para salvar o dia.
Esta review foi feita com uma cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming