Retro Machina Capa

Review Retro Machina (Switch) – A revolução e a sobrevivência de apenas uma máquina

Sabe quando um amigo fala tanto sobre um jogo que te convence a jogá-lo? Foi mais ou menos isso que houve com Retro Machina. Em uma conversa sobre etroidvanias, meu amigo insistentemente me pediu pra experimentar este, mas ele me ganhou fácil mesmo com o argumento de ser um título brasileiro. 

E sem sombra de dúvidas Retro Machina está aí, como muitos outros títulos tupiniquins pra mostrar que o Brasil tem muito potencial não só para consumir esse mercado de jogos, mas pra desenvolver também! 

Desenvolvimento: Orbit Studio

Distribuição: Super.com

Jogadores: 1 (local)

Gênero: Puzzle, Ação e Aventura

Classificação: Livre

Português: Legendas e interface

Plataformas: PS4, Xbox One, Switch, Xbox Series X/S e PC

DDuração: 6.5 horas (campanha)/8 horas (100%)

O contraste da vida orgânica com a mecânica

Foco da chegada do robô em uma nova área

Em Retro Machina, tomamos o controle de um robô operário que passa a apresentar defeito, fazendo com que ele não cumpra suas funções corretamente. Por esse motivo, ele é visto como inimigo pelos outros robôs e passa a ser atacado por eles. Sua missão é conduzir essa máquina errante, buscando sobreviver e também reparar seu sistema corrompido: a provável causa de seu mau funcionamento. 

Retro Machina nos mostra um mundo devastado, porém deslumbrante. As máquinas foram tudo que restaram, a humanidade já não está presente e tudo que restou foram suas criações e ruínas.

Com uma arte incrível desenhada à mão e rica em detalhes, cada cenário, novos inimigos e paisagens são de encher os olhos. Os criadores se preocuparam com cada particularidade, com a folha dos arbustos se mexendo ao passar por elas, as águas cristalinas que transparecem o fundo dos rios, o vento passando e levando a poeira junto às folhazinhas que voam das árvores, o design dos personagens e seus movimentos. 

Anúncio de um dos modelos da Nucleonics e para que eles eram usados.

E o Retro em seu nome não é em vão. Com muita influência do que seria o futuro em obras de ficção científica das décadas de 50/60/70 ele foi feito. Painéis, placas, revistas, jornais e panfletos são totalmente o sci-fi daquela época. Lembra do desenho Os Jetsons? Digamos que alguns designs lembram um pouco ele. 

Mesmo sendo um jogo isométrico, o cenário possui camadas. Passamos por trás de vários objetos e na frente de diversos outros, evidenciando ainda mais o capricho que tiveram ao construí-lo. Não é como alguns jogos com esse tipo de visão que tudo parece chapado no chão, ou tem uma ou outra árvore ou construção que realmente fica em 3D evidenciando o cenário.

Os efeitos de destruição dos inimigos e armadilhas são muito bem feitos, também. Quando derrotamos os inimigos eles explodem e suas peças saem voando, com fumaça e tudo mais. Tiveram um cuidado esplêndido com tudo e cada detalhe. 

A revolução de apenas uma máquina

Passarela com um robô gigante não terminado

Retro Machina conta com uma jogabilidade fluída, porém, ao mesmo tempo, um pouco lenta. E isso não só pelos movimentos do personagem, mas também quanto ao ritmo de jogo. Como se trata de algo que mistura elementos de puzzle, ação, aventura e tem uma grande pegada de Metroidvania, ele não é frenético em sua jogabilidade e menos ainda em progressão. 

O combate é lento, tanto pela nossa parte quanto pelos inimigos. Isso é ruim? Bem, mais ou menos. Digamos que da parte dos inimigos não seja, já que fica fácil identificar seus movimentos e então preveni-los. Mas quando se trata de “nós”, isso acaba sendo um pouco ruim, já que se estiver executando um golpe não conseguirá utilizar a esquiva, sem contar que demora muito para os poderes serem ativados te deixando vulnerável. Tudo acontece devagar demais, até mesmo a própria execução dos movimentos de ataque e defesa.

Leva um bom tempo até se acostumar com esse ritmo lento de combate, o que pode torná-lo um pouco difícil no começo, pois é necessário movimentos precisos e ter um bom timing para ler os inimigos e atacar ou se esquivar deles. Não que esse combate mais exigente seja o problema em si, apenas poderiam ter movimentos mais ligeiros para incrementá-lo.

Lugares que misturam a natureza com a tecnologia.

Vale ressaltar que algumas vezes o próprio cenário nos trai. Alguns objetos acabam nos atrapalhando e ficamos presos entre eles e os inimigos, ou então algum deles vai parar atrás de uma árvore/arbusto sem se dar conta e acaba sendo alvejado de surpresa. Se juntar isso ao fato de que enfrentamos muitas vezes vários adversários em lugares pequenos e/ou apertados, a desgraça está feita. Pode ser um pouco frustrante de início, principalmente pra quem gosta de sair batendo em tudo e todos. Mas, com o tempo, a prática e pensando bem antes de agir vai ficando bem mais fácil. 

Os botões respondem bem, apesar do ritmo lento para as lutas, e nosso querido robozinho conta com algumas tecnologias bem bacanas. Existem núcleos que utilizamos para seu aprimoramento, adquirindo novas habilidades como: usar uma onda de choque para paralisar os inimigos próximos, um ataque giratório que causa dano elevado, um escudo e o aumento do poder de controlar outras máquinas. Fora, claro, há a possibilidade de aumentar sua vida, energia e o número de kits de reparo que pode carregar. 

Inclusive, essa habilidade de invadir o sistema e controlar outras máquinas é a essência de Retro Machina. Sem o auxílio de seus irmãos mecânicos é impossível resolver os puzzles e avançar. Aos poucos, vamos descobrindo que nossos inimigos são também os melhores aliados que teremos. Alguns robôs pequenos são necessários para passar por pequenos buracos ou tubos e acessar locais que você não pode. Com isso eles são capazes de abrir portas e lhe garantir acesso a novas áreas.

Controlando outro robô

Outros carregam cubos de energia que você jamais poderia sequer tocar, ou então são capazes de nadar e mover plataformas para conseguir atravessar longas distâncias. E a melhor parte? É possível usá-los em batalhas! Literalmente é possível controlar qualquer inimigo, desde os menores aos maiores, além de usá-los para te ajudar a derrotar os demais adversários. Diria que só faltou um botão de autodestruição, porque, após derrotar todos, se o robô em seu controle ainda estiver vivo, será necessário interromper seu controle e destruí-lo também. Por isso, um botão de autodestruição facilitaria muito a vida. 

A exploração é a chave do negócio. A extrema necessidade de vasculhar cada canto é extremamente presente. É uma parte gostosinha, de como você vai desvendando os lugares, acessando novos caminhos e fazendo o backtracking necessário. Sem contar que ele possui um bom mapa para auxiliá-lo em sua aventura, o que facilita muito a exploração e as idas e vindas. Como são cenários grandes com várias interligações e passagens subterrâneas, a necessidade de ter um mapa a mão é bem grande. Sem contar que um Metroidvania sem mapa é bem complicado, pois lembrar todos os pontos que precisa voltar de cabeça não é coisa fácil. Existem ainda alguns pontos de viagem rápida que também ajudam a revisitar os lugares mais facilmente, embora eu acredite que poderiam ter colocado mais alguns, mas acabaram dando uma leve economizada. 

Agora, uma coisa é certa: os puzzles são bem elaborados e parecem ficar mais difíceis conforme avançamos. Não é nada complicado, na verdade, pois são desafios intuitivos, mas que demandam uma boa atenção. Todos são muito bem pensados, por sinal. Contudo, o excesso desses quebra-cabeças ajudam a limitar o ritmo e, por mais que eles sejam legais e bem bolados, a cada nova sala há algum para ser resolvido. Juntando isso a longa exploração necessária para encontrar os upgrades, chegamos ao ponto da evolução extremamente lenta do personagem. Os núcleos necessários para desbloquear novas habilidades são muito escassos. Isso deixou a sensação de que em diversos momentos parecia estar jogando fazia horas e não obtinha resultados.

Agora, ótimos pontos positivos são os colecionáveis e o inventário/menu. Há muitos colecionáveis e de diferentes tipos a serem encontrados por onde passamos e que contam a ruína da humanidade, como o auge da tecnologia, a forte demanda dos robôs, como tudo desmoronou e fez com que os humanos entrassem em colapso, etc. São vários documentos da empresa que criou os robôs, panfletos com marketing, outdoors com propagandas das melhores máquinas da época, entre outros elementos.

Um dos momentos em que o robozinho descobre mais sobre o que aconteceu com os humanos.

Há ainda um “bestiário” com informações dos inimigos que já enfrentamos e controlamos, contando para quê foram criados e em quê eram usados. Toda a construção desse menu, em que há o inventário, os arquivos, mapa e status, ficou muito bom. É tudo retrô, mas, ao mesmo tempo, tecnológico, e digo que acertaram demais  em todos os designs

O único chato no caso dos colecionáveis, principalmente nas revistas e panfletos, é que em alguns existem umas legendas muito pequenas. No geral, há um bom tamanho das letras, mas só em alguns deles mesmo que existe essa dificuldade na leitura. Se jogar no modo portátil do Switch, então, fica ainda mais difícil de ler.

Construindo um futuro

Retro Machina entrega um jogo muito bem feito e interessante, usando mecânicas simples que, bem implementadas, provam o quão boas podem ser. Com um visual deslumbrante e ótimos puzzles, ele é um prato cheio para aqueles apreciadores de Metroidvanias.

Apesar do seu ritmo um pouco lento, é impossível parar de jogar até que o termine. Os colecionáveis te instigam muito a desvendar a queda da humanidade e o que realmente aconteceu com os robôs. Não é só por ser um estúdio brasileiro, mas realmente a Orbit Studio mandou muito bem nesse título. 

Cópia de Switch cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

Retro Machina

7.5

Nota Final

7.5/10

Prós

  • Vários colecionáveis
  • Ótimo background
  • Gráficos muito bonitos e detalhados
  • Bons puzzles

Contras

  • Evolução lenta
  • Legenda pequena em alguns colecionáveis
  • Jogo um pouco arrastado