Say No! More, para Nintendo Switch

Review Say No! More (Switch) – Trabalhadores, uni-vos!

Say No! More é um título sugestivo que não deixa dúvidas a que veio: dizer “não!” pode mudar o mundo. O jogador assume o papel de um estagiário que começa a trabalhar em uma grande organização. Neste lugar, dizer “sim” a qualquer pedido absurdo de colegas e superiores é o que garante a manutenção da ordem e da estrutura de poder.

Desenvolvimento: Studio Fizbin
Distribuição: Thunderful Publishing
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura, Simulação
Classificação: Livre
Português: Sim
Plataformas: Switch, PC, iOS
Duração: 2h (campanha)

Um trabalhador com fome é capaz de tudo

"Lembre-se: você não precisa de trabalho ou do capitalismo para se autorrealizar!"

Com um visual poligonal que lembra os primeiros jogos tridimensionais da década de 1990 e cores e música inspiradas na década de 1980, Say No! More apresenta situações exageradas e hilárias para tratar temas sérios sobre relações de trabalho. 

O jogador cria seu personagem e inicia o jogo como um estagiário em seu primeiro dia de trabalho. Carregando seu almoço em uma bela lancheira de unicórnio, o novato aos poucos conhece seus colegas de trabalho e superiores imediatos e se depara com a filosofia que comanda a organização: dizer sim a tudo. O problema que dá início à percepção da injustiça desse sistema é que um dos chefes pede para ficar com o almoço do jogador principal, levando sua lancheira embora. 

Quando o estagiário conhece seu cubículo e vai começar a trabalhar, entra em contato com um velho toca fitas, a partir daí é transportado provisoriamente para um ambiente que lembra a rotina de exercícios físicos de Jane Fonda a fim de, seguindo os ensinamentos de um treinador gigante, aprender a dizer a palavra proibida: não!

Com o novo ensinamento, o estagiário passa a percorrer os corredores da firma negando todos os pedidos que surgem. A palavra “não” (grafada em alguma das opções de idioma) sai da boca do personagem gerando caos e destruição: papéis voam, mesas são viradas, portas derrubadas. Além disso, outros personagens também são impactados pela palavra proibida, sempre com reações hilárias e exageradas.

Rompendo com o sistema

Seus chefes querem que você sempre diga "sim!"

Ao longo dos 8 capítulos bastante lineares que formam a aventura, o personagem principal aprende aos poucos outras formas de dizer “não”: caloroso, frio, preguiçoso e “zureta”, sempre podendo carregar a palavra para gerar um poder maior. Também é capaz de irritar seus colegas com certos gestos: risadas, aplausos irônicos, sons de desdém e sarcasmo.

Enquanto o jogador diz sempre “não”, o jogo vai apresentando, através dos pedidos dos personagens, vários e importantes problemas das relações de trabalho. Desde as clássicas relações autoritárias entre patrões e empregados até fenômenos mais recentes como a confusão proposital entre trabalho e lazer, subordinação e cooperação, Say No! More parece dolorosamente familiar. Os gráficos toscos e animações extra dramáticas não chegam a esconder os comentários e críticas políticas e sociais. Aos poucos, outros temas da luta dos trabalhadores aparecem enquanto o “não” se espalha entre outros estagiários: a sindicalização, o direito ao tempo livre e o respeito às individualidades aparecem e surpreendem positivamente.

Nesse sentido, qualquer jovem adulto pode sentir que já viveu situações de autoritarismo e arbitrariedade. É bem possível que mesmo adolescentes enxerguem semelhanças entre a vida escolar e o ambiente do jogo. E, por isso, o prazer de causar discórdia e simplesmente desprezar o status quo do “sim” é especialmente prazeroso, quase uma experiência catártica.

Apesar do sentimento que proporciona, Say No! More é totalmente linear e há pouca ou nenhuma estratégia envolvida nos diferentes comandos. O personagem se movimenta e participa dos diálogos de forma automática, cabendo ao jogador apenas a escolha do gesto e de como negar cada solicitação. Para um jogo que imagina a ruptura do sistema estabelecido, essa linearidade acaba sendo um grande ponto negativo. Quando a liberdade de atuação é limitada, o “não” passa a ser o único caminho possível e a experiência se torna maçante e previsível rapidamente.

Jogo do não ou não jogo

o estagiário descansa a cabeça sobre a mesa de trabalho.

Ao final, Say No! More deixa uma impressão ao mesmo tempo doce e amarga. Poder atravessar essa história com o poder transformador do “não!” certamente é prazeroso e representado de uma maneira divertida. Também é um jogo que tem sucesso em passar uma lição sem ser pedante ou didático. Ao negar situações de abuso no ambiente de trabalho (infelizmente bem reais), o jogador pode se inspirar e levar essa capacidade de romper o status quo para fora do jogo. Apesar disso, a jogabilidade limitada e a progressão linear tornam a experiência cansativa e repetitiva, reduzindo o interesse. 

Certamente vale a pena jogar Say No! More, um jogo criativo e inovador, mas talvez o ideal seja jogar poucos minutos por vez, apenas naqueles momentos em que precisamos de um lembrete do poder de se revoltar.

Cópia de Switch cedida pelos produtores

Revisão: Kiefer Kawakami

Say No! More

7

Nota Final

7.0/10

Prós

  • Temática relevante e atual
  • O prazer de falar não ao seu chefe
  • Visual favorece o exagero e o caos

Contras

  • Estrutura linear
  • Jogabilidade reduzida