Criado pelos sérvios da Ebb Software e publicado pela Kepler Interactive, Scorn é um jogo de terror imersivo em primeira pessoa que coloca um foco na obscuridade e na solução de puzzles. Depois de um longo período de espera, os produtores finalmente disponibilizaram o título para os jogadores de PC e Xbox Series X/S, com distribuição através da Steam, GOG e Microsoft Store, além da assinatura do Game Pass.
Desenvolvimento: Ebb Software
Distribuição: Kepler Interactive
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Terror
Classificação: 18 anos
Português: Interface
Plataformas: PC, Xbox Series X/S
Duração: 5 horas (campanha)/5 horas (100%)
Simplesmente visceral
Contando com uma narrativa propositadamente abstrata e confusa, a campanha coloca o jogador na pele de um bicho humanoide. A missão do protagonista é explorar o mundo e conseguir desvendar os quebra-cabeças para descobrir o que acontece nesse pesadelo em que o personagem principal aparenta estar preso. Com um forte uso de técnicas de storytelling ambiental, é necessário que tudo seja descoberto, já que não existem objetivos claros, dicas, tutoriais ou opções de acessibilidade. Por conta disso, a duração dessa aventura sangrenta depende exclusivamente do ritmo individual de cada jogador.
Enquanto Scorn é uma garantia de diversão para pessoas acostumadas com títulos de terror focados em desafios, a experiência pode se transformar em frustração e tédio em uma velocidade impressionante para quem não possui muita habilidade neste gênero. É fácil se perder e passar horas sem ter a mínima ideia do que fazer, visto que o sinistro e enorme mapa abre espaço para enormes confusões mentais.
O estilo visual adotado é incrível e insano. Combinando a Unreal Engine com o surrealismo biomecânico característico da obra de H. R. Giger, conhecido por seu trabalho na série de filmes Alien, os desenvolvedores construíram uma ambientação medonha. O level design é uma maluquice, e o conceito por trás dos personagens e itens é impecável. A qualidade das animações impressiona, pois são extremamente fluidas e muito bem detalhadas. No melhor sentido possível, Scorn é nojento e dantesco, e é preciso ter estômago para conseguir aguentar o universo excêntrico e horripilante apresentado pelo título.
Um mundo dúbio
O pessoal da Ebb Software não fez muita questão de explicar como as mecânicas funcionam para o jogador e, por isso, o funcionamento de vários sistemas é confuso. É necessário passar um bom tempo mexendo nos itens e objetos do cenário para entender a utilidade deles no grande esquema das coisas. Esse é certamente um ponto negativo que seria facilmente evitado com a adoção de filosofias de game design intuitivas, que poderiam ter sido adicionadas na experiência sem prejudicar a obscuridade proporcionada pelo universo do jogo. Mesmo com essa vagueza irritante, o dinamismo proporcionado durante a hora de elucidar os quebra-cabeças é sensacional. Os responsáveis implementaram funções completamente interativas, que dão toda a liberdade possível para o desenvolvimento de raciocínios e abordagens diferentes.
Scorn conta com um combate que não foge do padrão dos títulos de FPS. Desnecessária, a funcionalidade não agrega no conjunto da obra. Lutar contra inimigos acaba afetando negativamente a espetacular experiência imersiva e tensa promovida com sucesso durante boa parte da campanha. O sistema de salvamentos é frustrante, dado que o jogo não conta com nenhuma opção para a criação de saves manuais. O jogador é refém dos autosaves realizados em pontos chaves aleatórios de cada um dos cinco atos da história.
O desenho de som também é decepcionante. O trabalho que foi realizado não está à altura do cuidado que a equipe teve nos outros departamentos artísticos. Durante toda a jogatina, a ausência de uma trilha sonora marcante e memorável é notável, deixando a sensação de que algo vital ficou faltando.
Nada de jump scares
Sem nenhum sustinho barato, Scorn é uma aventura escatológica extraordinária, com um terror que vem diretamente do nojo e da tensão. No entanto, o jogo peca em ser desnecessariamente complexo e vago até em funcionalidades cruciais. A equipe de desenvolvimento deveria ter se preocupado em produzir um título cativante e acessível para jogadores com disposição para adentrar um mundo de horror, mas sem paciência para encarar mecânicas ininteligíveis, bizarras e ambíguas.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong