Ver a palavra “simulator” no nome de alguns jogos se tornou motivo de ceticismo atualmente. Isso acontece já que muitos deles disfarçam algo que será puramente satírico, desvairado e com jogabilidade questionável.
Na contramão, de quem vai na contramão, Ship Graveyard Simulator traz uma experiência bastante relaxante para quem gosta de jogatinas mais tranquilas, sem a urgência de corridas contra o tempo ou exigências complexas. É só você, suas ferramentas, a praia e pilhas enormes de sucata.
Desenvolvimento: Games Incubator
Distribuição: Ultimate Games
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Simulador
Classificação: Livre
Português: Interface e Legendas
Plataforma: PC, PS4 e Xbox One
Duração: 6.5 horas (campanha)/32 horas (100%)
O lixo de uns é o tesouro de outros
Nosso personagem sem nome vive em um pequeno vilarejo à beira do mar e ele é o cara que faz a economia do local funcionar. Todos os dias podemos alugar um barco, que ficará atracado à margem da praia e temos um dia inteiro para poder explorá-lo com nossos utensílios.
A marreta é utilizada para quebrar portas, barris, mastros e demais objetos rígidos das embarcações; o maçarico é necessário para desprender quadros de força e outros aparatos fixados em paredes; o esfregão cuida dos dejetos no chão, como óleo e componentes químicos; e a serra corta qualquer tipo de encanamento. Além disso, há apetrechos para usos mais pontuais, como explosivos, chaves-mestras e a tirolesa.
Tudo o que desmontamos vira materiais diversos, como cobre, alumínio, chumbo, titânio e cromo, para citar alguns. Essa sucata é a principal maneira de arranjar dinheiro, seja vendendo para o comprador local, que pagará uma mixaria por elas, ou entregando quantidades estabelecidas por alguns moradores, que rendem boas recompensas.
Entretanto, uma administração bem pensada dos seus recursos também é necessária. O aluguel dos barcos têm um custo diário, e eles são tomados caso seu caixa vá a zero. Algumas ferramentas precisam de reparo ou combustível, como o caso da serra elétrica e do maçarico. Por fim, há lugares que podem ser melhorados, como a loja, que trará equipamentos melhores, uma fornalha, usada para criar materiais específicos pedidos por algumas pessoas, e o alojamento, que te possibilitará contratar trabalhadores.
Outro aspecto que também pesa na estratégia é que nossa mala tem espaço limitado, por isso não dá para saquear um navio inteiro de uma vez. Temos a liberdade de coletar tudo pelo caminho, mas aí vai de cada jogador priorizar o que pegar primeiro. A caminhonete que pilotamos também conta com uns espaços de armazenamento que podem dar uma mão para transportarmos mais coisas de uma vez no começo da jornada.
Todas as atividades que envolvem demolição, coleta, negociações e repetição, rendem pontos de habilidade que podem ser distribuídos na sua capacidade de manejar cada uma das ferramentas. Isso vai ajudar até na melhora da performance deles, além de baixar os preços dos barcos, itens na loja, aumentar o espaço da nossa mochila e por aí vai.
O que torna tudo isso em Ship Graveyard Simulator tão interessante é que podemos fazer isso no ritmo que quisermos. O grinding pode até ser um pouco pesado para os barcos mais caros, mas é muito tranquilo recuperarmos o dinheiro gasto e ainda triplicar esse valor com algumas idas e vindas. Além disso, basta cancelar o aluguel de um navio, passar para o próximo dia, fazer uma nova reserva, e qualquer um deles pode voltar 100% reformados para serem demolidos de novo.
O navio ficará ali atracado enquanto o jogador mantiver uma reserva, e tivermos dinheiro para pagá-la. Isso nos dá o tempo necessário para marretar cada área possível, do casco à cabine de comando, passando por todo o convés.
Por dentro de um colosso marítimo
Por se tratar de um jogo com uma proposta mais tranquila, não devíamos esperar grandes coisas no aspecto visual e sonoro de Ship Graveyard Simulator. E de fato, o vilarejo e os moradores dele não são lá os mais bonitos. Até nossa caminhonete é bem básica. E a praia… bom, ela tem uns destroços e é isso.
Para a minha surpresa, os barcos realmente são bem feitos, e conforme alugamos embarcações maiores e com mais compartimentos, é muito bacana ver os detalhes internos de cada um deles. Isso vale principalmente para os cargueiros, que têm toneladas de sucatas e elementos para serem revistados e coletados. Ao todo são 15 tipos de embarcações, cada uma com aspectos bastante particulares e atrativos.
Quanto a trilha sonora, ela evoca a paz que um coração praiano precisa, com melodias tranquilas, que realmente me fizeram curtir o fato de estar quatro horas seguidas arrebentando um barco com um serrote e um maçarico no escuro.
Por falar em escuro, temos a passagem do tempo e é inevitável ter que explorar o navio à noite. E é aí que a coisa desanda um pouco, por causa da lanterna. Ela atrapalha em alguns momentos, principalmente nos momentos em que temos que utilizar o maçarico ou a chave mestra, pois sua luz é refletida de uma maneira que tudo fica claro demais.
Outra ferramenta que tem um uso um pouco mais impreciso é a serra. Cada objeto que pode ser convertido em sucata é indicado por um contorno verde. A marcação do serrote é a única que apresenta imprecisão, o que me levou a ter que utilizá-la mais de uma vez em um mesmo lugar para conseguir cortar tudo certinho. Como cada objeto destruído conta para a porcentagem de demolição do barco, em alguns casos tive que serrar o mesmo cano para que a conta fechasse.
Acho que passarei um tempo aqui
Se você está em busca de algo diferente e que não te estresse com muita coisa ao mesmo tempo, recomendo Ship Graveyard Simulator sem pensar duas vezes. Acabei encarando o início com um certo ceticismo, mas fui totalmente fisgado pela proposta simples e leve. Vale a pena gastar umas boas horas à beira da praia a bordo de um grande navio abandonado.
Cópia de PS4 cedida pelos produtores
Revisão: Ailton Bueno
Ship Graveyard Simulator
Prós
- Proposta simples e envolvente
- Não há cobrança de urgência do jogador
- Os barcos possuem uma quantidade bem bacana de detalhes e segredos
- O uso de recursos, como a fornalha e a loja, é bem bolado
- Trilha sonora relaxante
Contras
- O vilarejo e os demais habitantes são muito simplórios
- O indicador de uso da serra não é muito preciso
- Torna-se repetitivo facilmente
- O grinding pode ser pesado para quem não tiver muita paciência
