Depois de The Hundred Line: Last Defense Academy, lançado no começo do ano, Kazutaka Kodaka, criador de Danganronpa, está de volta em Shuten Order. Produzida pela Nelio e pela Too Kyo Games em parceria com a Spike Chunsoft, a visual novel é ambiciosa e tenta combinar cinco jogos diferentes em uma única experiência – mas, infelizmente, nem sempre consegue suceder nessa proposta.
Desenvolvimento: Neilo Inc., Too Kyo Games
Distribuição: Spike Chunsoft, EXNOA LLC
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Terror
Classificação: 16 anos (violência, drogas, linguagem imprópria)
Português: Não
Plataformas: PC, Switch
Duração: 32 horas (campanha)
Revivendo em outra pessoa

Shuten Order coloca os jogadores na pele de Rei Shimobe, uma protagonista que morreu, mas recusou a sua morte. Como consequência, sua vida foi estendida, mas sem nenhuma memória de quem era anteriormente. Para voltar a viver de fato e recuperar a sua identidade, Rei precisa passar por um teste.
A história se desenrola numa sociedade que cultua o fim do mundo e reza pela extinção da humanidade – e, aos poucos, essa comunidade cresceu tanto a ponto de se transformar em uma cidade-estado. O catalisador dos eventos do game é o assassinato do fundador de todo esse culto, com a suspeita de que um dos ministros responsáveis pelos diferentes departamentos da cidade seja o culpado.

É nessa que a trama apresentada pelo jogo realmente fica interessante, porque o fundador da seita é justamente o protagonista, que não guarda qualquer lembrança disso. O teste a ser feito envolve descobrir quem é o assassino e conseguir uma confissão direta do responsável. Caso isso não aconteça dentro de um prazo determinado, o mundo efetivamente acaba de vez.
Cinco rotas, cinco jogos

Há cinco rotas distintas na visual novel, e cada uma investiga em detalhes tudo sobre cada um dos ministros. Cada investigação funciona, essencialmente, como um jogo diferente, com uma sub-história própria dentro da narrativa principal de Shuten Order.
Na hora de investigar a Ministra da Segurança, o game dá espaço para um jogo de terror no qual é necessário solucionar quebra-cabeças e escapar de um assassino. Para investigar o Ministro da Justiça, é preciso virar um detetive e resolver um assassinato. Na opção do Ministro da Ciência, é necessário descobrir rotas de sobrevivência seguindo o ponto de vista de vários personagens da visual novel.

Para saber mais sobre a Ministra da Educação, Shuten Order se torna um jogo de romance no qual é preciso se conectar com três heroínas diferentes. Por fim, para investigar o Ministro da Saúde, o objetivo é participar de uma escape room e resolver puzzles com os comentários em tempo real de uma V-Tuber. Todas essas rotas distintas, claro, convergem ao longo da jogatina, sendo preciso concluir todas para encontrar o verdadeiro culpado e evitar o fim do mundo.
Estado técnico estranho

Shuten Order tem uma excelente arte em 2D, com momentos de gameplay nos quais o personagem, em 3D, pode explorar durante os segmentos de visual novel. Porém, há alguns erros que prejudicam a apresentação, como a grafia estranha de alguns textos que surgem ao longo da jogatina, além de um foco em partes dos cenários que contam com uma resolução visivelmente inferior ao restante das artes.
Além disso, a versão de PC, embora competente, tem falhas na integração com o controle. Um puzzle da rota de terror, por exemplo, requer a digitação de uma senha para que o jogador possa progredir na trama. O problema é que só é possível digitá-la com o teclado em vez de poder usar o controle para isso, atrapalhando a jogatina para quem prefere ter o conforto de um joystick em mãos.
Muito lento

Um problema constante, no entanto, é a lentidão de toda a experiência – sem um bom motivo. É natural que uma visual novel tenha muitos diálogos, já que eles são praticamente o pilar do gênero. Shunten Order cumpre esse requisito e conta com vários diálogos, mas tudo é muito mais arrastado do que deveria porque o game passa tempo demais mostrando imagens estáticas, sem nada acontecendo.
A única forma de evitar longos segundos assistindo a transições simples, como uma animação de fade, é recorrer à função de aceleração. Contudo, isso não deveria ser necessário para evitar ficar vendo nada relevante acontecer. A sensação que fica é que os desenvolvedores não respeitam tanto o tempo dos jogadores, porque essa lentidão é injustificável.
É legal, mas devagar
Apesar dos problemas e da lentidão, Shuten Order é uma experiência fascinante. A ideia de unir diferentes estilos de gameplay numa única visual novel funciona, mas poderia ter um desenvolvimento mais ágil e veloz. Ainda assim, o jogo é, de longe, uma das alternativas mais criativas no gênero, não costuma focar tanto na jogabilidade propriamente dita quanto este jogo tentou.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong




