Aviso aos navegantes: essa é uma review positiva de Streets of Rage 4. Atenção, repito: eu gosto de Streets of Rage 4 e não pretendo mudar seu pensamento. Vem comigo e você entenderá como é possível gostar da franquia original e ainda apreciar esse game; dentre as minhas razões, a cega nostalgia ficou de fora.
Desenvolvimento: Dotemu, Lizardcube, Guard Crush Games
Distribuição: Dotemu
Jogadores: 1-4 (local) e 1-2 (online)
Gênero: Arcade, Ação, Multiplayer, Luta, Indie
Classificação: 10 anos
Português: Interface e legendas
Plataformas: Switch, PS4, Xbox One e PC
Duração: 3 horas (campanha)/ 19 horas (100%)
Senta que lá vem história
Streets of Rage 4 é a última entrada de uma franquia clássica dos videogames: Streets of Rage (SoR) foi um marco no gênero beat’em up. Jogos com essa mecânica bem simples foram uma febre nos arcades dos anos 80 e 90 no mundo inteiro. Basicamente, você divide o controle com um amigo para andar e bater nos inimigos, recolhendo itens de regeneração de vida ou que sirvam de arma. Claro que dá para jogar solo, mas perde muito da diversão.
O título da franquia no Japão – Bare Knuckle – explica bastante o que é esse tipo de jogo: significa brigar de mãos limpas (sem luvas), mas também tem o sentido de brigar sem regras. É o vale-tudo da briga de rua!
Como todo jogo de fliperama, os beat’em up eram desenhados para comer as fichas dos jogadores – sempre aparecem, em algum momento, ondas de hordas de inimigos injustas. É aí que Streets of Rage brilha: os três jogos foram desenhados exclusivamente para os consoles da Sega, sem passagem pelos arcades, entre 1991 e 1994. Isso significou uma jogabilidade mais limpa e não orientada ao come-fichas. E eu não vou falar das trilhas sonoras de Yuzo Koshiro porque estas merecem uma review à parte.
26 anos à espera de Axel
Desde os anos 90 os jogadores que são fãs de Streets of Rage esperam por uma sequência. Na ausência dela, criaram o Beats of Rage (BOR), que acabou se tornando um projeto autônomo com milhares de modificações – chamado OpenBOR. Se você gosta de jogos de briga de rua 2D, procure os BOR. É um caminho sem volta.
Com essa base de fãs, seria de esperar que Streets of Rage 4 fosse recebido com aclamação. Pessoalmente, recebi esse lançamento no final de abril como um presente em meio à pandemia, gastando um final de semana e um controle do XBOX com ele. Mas muitos jogadores, contemporâneos ou não da franquia original, não tiveram o mesmo entusiasmo. Não vou me ater às críticas que o jogo sofreu por parte de outros jogadores – eles podem escrever suas próprias reviews, isso se não jogaram apenas por YouTube.
1-3 é pouco, 4 é demais?
A trama se passa 22 anos após o último jogo: Axel, Blaze e Adam são policiais “aposentados” que retornam acompanhados de Cherry, a filha de Adam, e Floyd – um personagem massivo com braços mecânicos. O objetivo é limpar as ruas da cidade devido à corrupção promovida pelo casal de irmãos gêmeos chamado Y, que são os filhos do vilão original, Mr. X.
Sério, a história não importa, apesar de remeter a tempos mais simples dos videogames – quando o objetivo era a redenção da cidade violenta, mas não de si mesmo.
O objetivo é sair quebrando caras e coisas ao longo das 12 fases do jogo, encontrando maçãs e perus assados para recuperar energia; sacos e malas de dinheiro para comprar vida extra; canos, bastões, tacos de baseball, granadas, stun guns e qualquer coisa que sirva de auxílio para passar os inimigos. Eventualmente, você vai se deparar com máquinas de fliperama que podem ser eletrocutadas e colocá-lo em fases clássicas dos games anteriores.
Qual botão que bate, mesmo?
Uma característica da série é o aprimoramento da jogabilidade a cada entrada. Rigorosamente, é o que acontece nesse jogo: o game perdeu a velocidade-anfetamina de SoR 3 e apenas a Cherry pode correr nos cenários. Em compensação, seu personagem não precisa virar para trás (para o lado, na verdade, já que é um jogo 2D) para atingir quem estiver às costas.
Os jogos anteriores tinham um botão específico para combos que custavam um naco da barra de energia. Isso foi mantido, mas os combos agora são mais completos, alternando Y e X no Switch ou os dois botões simultaneamente para um especial. Quanto mais hits você acumular, mais você restaura sua energia; em compensação, se você for atingido em meio aos combos, perde toda a energia recuperada.
Essa colisão é problemática: nos games anteriores, seu personagem “tinha a preferência” digamos assim: se estivesse batendo primeiro, não era interrompido. O mesmo não acontece em SoR 4 e isso é muito, mas muito irritante contra inimigos que se deslocam diagonalmente pelo cenário e contra inimigos armados de facas.
Por fim, algo que irrita no primeiro Streets of Rage foi resolvido dessa vez: acabou o botão de power-up, aquele que era muito fácil apertar por acidente. Agora, é necessária uma combinação dos botões X e A.
Batendo em dupla, trio, quarteto…
É possível chegar à tela de créditos finais do jogo em modo solo – só você e sua velha amiga, dona tendinite. Mas o jogo não parece ter sido pensado para isso. Superadas as limitações de hardware da geração 16-bit, há vários inimigos na tela simultaneamente e na última fase, há ondas e ondas de inimigos do mesmo tipo de ataque que chegam a ser irritantes.
Se você não puder fazer um co-op de sofá, pode optar por jogar a campanha online. Além disso, há outros modos de jogo: no modo batalha você luta contra outro jogador como no Street Fighter; no modo arcade você só tem uma ficha e não pode salvar seu progresso; e em desafio dos chefões você tem apenas uma vida para derrotar os chefes de fase.
A principal lacuna é que o co-op local não pode ser combinado ao multiplayer, isto é, apenas um jogador por Switch pode acessar o modo online. A conexão é bem estável no híbrido da Nintendo, ao contrário do caos no final de semana de lançamento do jogo para Xbox Game Pass.
Última fase
A trilha sonora é excelente e atual (especialmente a intro), o que pode chocar os mais puristas que esperavam um eurodance anos 90. Os efeitos sonoros são bons e o jogo tem aquela sensação crucial que define um bom jogo de luta: você sente bem-estar quando os golpes “encaixam”.
No entanto, as mudanças gráficas podem decepcionar os jogadores tradicionais: manteve-se o 2D, mas sai o pixel art e entram os desenhos. A vantagem do SoR 4 é que não tem cenário feio e você ainda pode desbloquear 12 personagens pixelados dos jogos anteriores. Se você tem o hábito de jogar a franquia regularmente, vai sentir uma diferença sensível nos controles e comandos; é um jogo com 4 botões de ação e duas combinações especiais, ao contrário dos tradicionais 3 botões dos games originais da Sega.
Streets of Rage 4 é uma homenagem à altura dos 3 games que o antecederam, resolvendo algumas falhas dos seus antecessores. A nostalgia pode pregar peças; assim como SoR 4 não é perfeito, os anteriores também não são. A diferença principal é que não vivemos mais no tempo dos beat’em up 2D, o que acaba tornando o game apenas mais um do gênero. Infelizmente, esse jogo chegou com duas décadas de atraso, mas pode e deve ser apreciado pelo que é: uma saudação do passado aos jogadores do presente.
Esta review foi feita com uma cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Bia Bock