Um jogo que talvez tenha ajudado a popularizar os simuladores de “fazenda” foi, com certeza, Stardew Valley. Eles partem da premissa de um personagem cansado da vida na cidade que tenta uma vida no campo. Muitos deles exploram elementos de colheita, plantação, clima e agropecuária no geral, enquanto é necessário administrar seu tempo, seus relacionamentos, e construir equipamentos e meios necessários para a vivência do personagem no jogo. E, claro, estar constantemente fazendo favores para os outros.
Assim, são produtos em que o foco é trabalhar na vida virtual mesmo depois de um dia estressante de trabalho na vida real. Mas, por que gostamos tanto de jogos assim? Bom, todos eles são utópicos e fantasiosos, de forma que uma atividade cansativa é algo divertido – talvez seja por isso. Mas, há um título desse gênero que é bem diferente dos outros, e se passa em um mundo mais fantasioso e utópico: Summer in Mara, e é sobre ele que vou falar aqui.
Desenvolvimento: Chibig
Distribuição: Chibig
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura, Simulação
Classificação: 10 anos
Português: Interface e legendas
Plataformas: Switch, PS4, Xbox One, PC
Duração: 12 horas (campanha)/25 horas (100%)
Um mistério a ser revelado
Em um mundo mágico, habitado por híbridos de humanos e outros animais como peixes, polvos e gatos, uma menina completamente humana foi resgatada de um naufrágio por Haku, uma senhora da raça Quido, que cuidou da criança.
Koa, a menina humana, cresceu sob os sábios ensinamentos de sua avó adotiva, aprendendo a cuidar dos animais, das plantas e de toda a natureza, de forma a respeitá-la e ser grata pelos recursos. Assim, sempre que cortava uma árvore, Koa deveria plantar outra em seu lugar.
Depois de aprender a coletar recursos e criar suas próprias ferramentas, a garota encontra-se sozinha em sua Ilha-casa, com um mistério central para resolver. Logo que consegue meios para navegar, Koa deve desbravar os mares para conhecer o mundo, mas nunca se afastar totalmente de casa.
A história central do jogo gira em torno da abertura de uma passagem na Ilha-casa, de forma que é necessário explorar outros lugares no arquipélago de Mara para resolver mistérios, ajudar necessitados e até levar cartinhas de amor. Tudo isso aumenta sua relação com os NPCs principais, fazendo com que Koa tenha influência e ganhe maturidade.
A história é contada de forma bem lenta, mas dá espaço para quem quer segui-la diretamente e para quem quer conhecer e explorar o mundo. Assim, é possível que o jogador crie sua própria história, no tempo que preferir. Não há limitações de calendário e estações, como ocorre em outros jogos, o que dá uma sensação muito positiva de liberdade, pois o jogador pode fazer suas escolhas no seu tempo, usufruindo o mundo maravilhoso oferecido.
Mais do que plantar e colher
A exploração é inerente ao jogo, que ocorre em um arquipélago chamado Mara. Lá, é necessário navegar nos mares para visitar muitas ilhas, semelhante ao que já foi apresentado em The Legend of Zelda: The Wind Waker. Entretanto, não temos problemas com intempéries que atrapalham a navegação, como direção do vento e tempestades. O barco, para alegria do jogador, vai em uma velocidade bem rápida.
Fora a navegação, é necessário produzir as mais variadas plantações, tanto para própria subsistência como para completar algumas tarefas solicitadas. Para isso, é necessário cultivar a semente em um campo específico e acompanhar diariamente seu crescimento. Além de cultivos, os animais também dão e exigem recursos. Existem também elementos de criação, em que é necessário construir suas ferramentas e edificações, e tudo isso torna Summer in Mara, inclusive, um jogo de simulação.
Entretanto, não é somente isso. Para conseguir as receitas, tanto culinárias como de outras construções, é necessário avançar na história e fazer muitos favores para os outros. Isso permite que Koa evolua sua própria ilha e cultive novos recursos e amigos.
Apesar de apresentar um calhamaço de conceitos pertencentes a outros jogos, Summer in Mara não possui seu foco em um deles, mas a junção de todos os seus elementos de jogabilidade, como criação, colheita, cultivo de vínculos sociais e navegação, serve para deixar claro um sentimento que, talvez, seja aquilo que o jogo queira passar: Sossego
Koa explora diversas ilhas, fazendo amigos de diferentes raças em locais variados, mas é somente em casa que ela consegue criar seus itens e cultivar suas plantações. Isso dá a sensação de pertencimento, onde sua Ilha-casa será sempre seu refúgio, com o objetivo de trazer ao jogador o sentimento de sossego. Além disso, Koa não precisa se preocupar com o tempo, pois as tarefas não possuem validade, plantações crescem sem regá-las – um pouco mais devagar, mas crescem -, animais não exigem alimentos, permitindo ao jogador usufruir do jogo da forma que preferir, a fim de, constantemente, ser elevado ao sentimento constante de sossego.
Visual
Summer in Mara é um jogo bonito. Seus cenários abertos e amplos são a desculpa perfeita para explorar e conhecer esse mundo. Seu visual bem desenhado agrada e ganha pontos pela simplicidade, não apostando em uma arte mais elaborada, pois é a simplicidade que, muitas vezes, dá a sensação de sossego desejada.
Os personagens, super bem coloridos e desenhados com tons alegres, podem até passar uma certa estranheza pela mistura de animais, mas são agradáveis de se conhecer e acompanhar suas histórias. Além disso, é possível personalizar as roupas e a mochila de Koa por meio de tarefas simples.
O cenário é repleto de cores e de vida. Vemos flores, borboletas e até alguns animais. Algumas cenas são majestosamente feitas como uma animação em desenho, logo no início, o que dá ao jogador a curiosidade de conhecer os personagens que são apresentados lá.
Trilha Sonora
Summer in Mara brilha em muitos pontos. O principal deles é, com toda a certeza, sua trilha sonora. As músicas são primorosas, girando em torno de um tema central repetido ao som de violinos, de pianos, corais e até de assobios. Além de guiar o jogador a uma sensação de tranquilidade, faz com que ele guarde na memória esse tema e queira cantar – mesmo que mentalmente – junto com a música.
Todas elas são orquestradas e fogem do tema de navegação e piratas que muitas obras assim possuem, e isso ajuda na quebra da expectativa, gerando um ótimo sentimento de surpresa. Até mesmo de forma isolada, como para escrever este texto, suas músicas são ótimas e inspiradoras.
Esse aspecto possui um único ponto negativo: muitas de suas músicas duram pouco, sendo que o álbum inteiro possui cerca de meio disco: 35 minutos. Mas isso é solucionável, basta escutá-las novamente, pois é impossível de enjoar.
Vale a pena?
Existe um fato que não podemos negar, Summer in Mara é repetitivo. O jogador vai cansar de fazer pequenas tarefas, pois, mesmo que sejam diferentes, são semelhantes em sua essência. Receber uma semente e levar o fruto, criar um determinado item, pegar conchas na praia e muitas outras tarefas assim são repetidas. Mas, muitas delas podem ser burladas apenas indo dormir para apressar o processo, sem nenhum prejuízo.
Mesmo com tanta repetição, o jogo brilha em vários de seus aspectos, além de trazer uma história que vai sendo descoberta aos poucos por meio da exploração. Vale a pena repetir uma série de fatores para apreciar os momentos de sossego que o jogo quer passar, por meio de suas atividades, visuais e músicas.
Recomendo-o para quem gosta de jogos calmos e sem limitações de tempo, para quem gosta de jogos de criação de itens, cultivo e vínculos sociais. Recomendo também para quem precisa de algo para conseguir momentos de paz, e para quem gosta de jogos com trilhas sonoras inspiradoras. Mas não indico para quem está acostumado com algo com mais ação, pois Summer in Mara não possui nenhuma. Gostou do jogo? Quer conhecê-lo? Deixe seus comentários e opiniões aqui.
Cópia de Xbox One cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong
Summer in Mara
Prós
- Liberdade de tempo
- Trilha sonora primorosa
- História e jogabilidade desestressantes
Contras
- Atividades repetitivas
