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Review Supraland (Switch) – Uma pequena grande aventura

Quem quando criança nunca se pegou interagindo com seus brinquedos como se eles tivessem vida? Você não? Eu já! Não à toa, vi a animação da Pixar, Toy Story, exaustivamente na época e é uma das minhas favoritas até os dias de hoje. O desenvolvedor alemão David Münnich, da Supra Games, usou um pouco da mística dessa fórmula para nos apresentar um mundo mágico em miniatura. Assim, em abril de 2019, Supraland chegou ao PC e em 22 de outubro deste ano aos consoles de mesa (PS4, Switch e Xbox One) retratando uma pequena grande aventura num sandbox.

Desenvolvimento: Supra Games
Distribuição: Humble Games
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura, Ação, Plataforma, Puzzle
Classificação: 10 anos
Português: Legendas e interface
Plataformas: PC, PS4, Switch e Xbox one
Duração: 13 horas (campanha)/23 horas (100%)

A tragédia da vila dos vermelhos

A vila dos vermelhos amanhece sem água.

Podem ser reis, princesas, super-heróis ou soldados, os brinquedos ganham vida diante da capacidade criativa das mentes envolvidas. Aqui, o mundo que desbravamos é fruto da imaginação de uma criança. De um lado temos o reino dos bonecos de palito vermelho e do outro o reino dos azuis. Na história, a vila dos vermelhos amanhece misteriosamente sem água. O rei, diante desse problema, solicita ao seu filho que investigue o reservatório para encontrar a origem do problema. Lá chegando avistamos alguns bonecos azuis suspeitos, o que nos leva a crer serem eles os responsáveis pela tragédia da vila dos vermelhos.

No caminho, nosso personagem deverá explorar o sandbox, enfrentar perigos diversos até o seu objetivo e interagir com diversos outros bonecos de palitos (alguns deles inspirados em personagens da cultura pop). Sem dar muito spoiler, esses bonecos – divertidos easter eggs, na verdade – reforçam a leveza do roteiro, com piadas que remontam a identidade dos personagens que lhes serviram de inspiração. Esbarrar com eles nos cenários é bastante divertido e garante a aquisição do acessório que adorna suas cabeças (troféus). Em linhas gerais, toda a trama é bem simples e gira em torno da necessidade de conseguirmos chegar à vila dos azuis para buscarmos explicação do rei sobre o problema da falta de água dos vermelhos.

Podia ser melhor

O jogo se passa dentro de um sandbox.

Supraland é um jogo em primeira pessoa de aventura e exploração em plataformas tridimensionais. Segundo David Münnich, jogos como Portal e Metroid lhes serviram de inspiração. O game se utiliza do motor gráfico Unreal Engine e visualmente não faz feio. Os cenários apesar da falta de variedade (afinal, estamos num sandbox) são enormes, coloridos e vibrantes. Porém, o game padece de alguns problemas técnicos: muitas vezes o ambiente é carregado bem na nossa frente; o horizonte é desfocado e alguns inimigos e NPCs surgem do nada na tela. Enfim, ele até que é bonito, mas podia ser melhor!

O problema de performance – é bom frisar – não é algo exclusivo do Nintendo Switch. Os mesmos podem ser observados também na versão do jogo para o Xbox One (disponível no catálogo do Game Pass, diga-se de passagem) e PC. Ao menos a taxa de quadros se mantém estável, apesar da velocidade da câmera causar um pouco de desconforto para vistas mais sensíveis. Eu que nunca tive problema com jogos em primeira pessoa tive que descansar um pouco de tempos em tempos.

Solucione puzzles

Supraland apresenta diversas áreas interconectadas linearmente. Para avançarmos temos que solucionar os diferentes puzzles das arenas que dão acesso às outras áreas. A linearidade do jogo tenta ser compensada justamente por esses quebra-cabeças. Porém, depois de algum tempo a solução dos mesmos se torna repetitiva, por mais que novas mecânicas sejam adicionadas ao longo de nossa aventura. 

Inicialmente, quando somos enviados para o reservatório de água para investigar, obtemos uma espada de madeira que nos auxilia na desobstrução de certas áreas e nos permite combater os inimigos (bonecos de esqueleto). Os combates, no entanto, são burocráticos e enfadonhos. Não há variedade, boss fights e não requerem qualquer tipo de estratégia. Esmague compulsivamente o botão de ataque e derrote o inimigo. A impressão que tive foi de que eles foram colocados ali apenas para dificultar um pouco mais a solução dos puzzles.

Diferentemente do que costumamos presenciar em jogos de exploração, não temos à nossa disposição um mapa para nos situar. E isso pode dificultar um pouco a vida daqueles que gostam de coletar tudo que o jogo tem a oferecer, já que a localização de itens e passagens antes inacessíveis tem que ser decorada pelo jogador para uma visita futura.

Os elementos de Metroidvania

Na banca podemos comprar novas habilidades.

Em nossa jornada vamos adquirindo novas armas, itens e habilidades que nos ajudam a avançar. De início – como dito acima – contamos apenas com uma espadinha de madeira. Mas, com o tempo novas mecânicas são adicionadas, como pulos duplos e triplos que nos permitem alcançar plataformas mais distantes; conjurar um bloco gelatinoso que nos auxilia no acesso à áreas mais altas ou que nos permite pressionar botões que abrem passagens; um super pisão; uma arma chamada MacGuffin ao estilo de Samus Aran, em Metroid Prime; entre outros.

Essas habilidades, no entanto, apesar de nunca serem deixadas de lado durante a jogatina, são inseridas no game sem um contexto específico. A área do sandbox te apresenta um desafio que exige certa habilidade para solução. Você explora um pouco a área e topa (ao acaso) com um item perdido que lhe garante isso. Tá certo que estou buscando lógica num jogo situado numa caixa de areia repleto de brinquedos vivos. Mas, em jogos do gênero isso é mais orgânico e essa aleatoriedade me incomodou.

Alguns desses itens, habilidades e melhorias podem também ser comprados em bancas de vendas diversas, espalhados pelos cenários, se utilizando de moedas que encontramos no jogo. Esses upgrades nos permitem, por exemplo, ampliar o dano causado por nossas armas, aumentar nossa defesa e vitalidade e até mesmo a quantidade máxima de moedas que podemos coletar. Algumas habilidades, no entanto, só são colocadas à venda depois que encontramos e depositamos barris vermelhos na banquinha do mercador. 

Um bom jogo de quebra-cabeça

Os easter eggs são maravilhosos.

O grande destaque dos videogames é a ideia de imersão. É fazer você se sentir o personagem, o herói e desbravar um mundo imaginável na vida real. É engraçado pensar que um game, que emula uma grande brincadeira, falhe um pouco em transmitir essa sensação ao jogador. A experiência em Supraland é rasa, principalmente, por não dar uma identidade ao nosso herói. Não há a dita imersão, e isso dificulta até mesmo certa empatia pelas motivações que movem a história. Aqui ela é, na verdade, apenas um pano de fundo que serve para justificar minimamente nossas ações em tela. Vale destacar que todo o jogo foi desenvolvido por apenas uma única pessoa. Apesar dos problemas técnicos, da ausência de identidade e de ser repetitivo, Supraland é um bom quebra-cabeça. E só!

Esta review foi feita com uma cópia de Switch cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

Supraland

7.5

Nota final

7.5/10

Prós

  • Gráficos bonitos
  • Cenários coloridos
  • Puzzles inteligentes
  • Elementos de Metroidvania

Contras

  • Problemas de performance
  • Combates chatos
  • Ausência de um mapa