The Last Case of John Morley é uma aventura narrativa atmosférica que brilha pela ambientação noir e pela escrita, mas tropeça em escolhas de design que tornam a investigação mais guiada do que desafiadora. É um jogo ideal para quem busca história e clima, só não é para quem quer um detetive exigente.
Desenvolvimento: Indigo Studios
Distribuição: Jandu Soft
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura
Classificação: 14 anos (violência, medo, linguagem imprópria)
Português: Legendas e interface
Plataformas: PC, PS5, Xbox Series X|S
Duração: 3 horas (campanha)
Um convite ao passado

O jogo coloca você na pele do detetive John Morley, chamado para reabrir o caso de um antigo assassinato que se transforma em algo mais sinistro à medida que a narrativa avança. A proposta do jogo é claramente focada em narrativa e atmosfera, com segmentos investigativos que servem mais para avançar a história do que para testar deduções complexas.
Além de Morley, a narrativa apresenta um elenco de figuras ambíguas: testemunhas relutantes, antigos colegas com segredos e familiares que guardam ressentimentos. Cada personagem funciona como um espelho para o protagonista, revelando facetas de sua história e forçando escolhas morais que não são apenas sobre resolver um crime, mas sobre aceitar verdades dolorosas. A escrita privilegia diálogos curtos e carregados de subtexto, o que ajuda a construir a atmosfera noir e a sensação de que ninguém é totalmente confiável.
O ritmo da dedução

A jogabilidade alterna exploração em primeira pessoa, coleta de pistas e resolução de puzzles leves. O grande problema é que o jogo frequentemente aponta os pontos de interesse com indicadores visuais e progressão linear, o que reduz a sensação de descoberta e de raciocínio dedutivo puro. Morley muitas vezes “explica” a conclusão em vez de permitir que o jogador a construa sozinho. Há momentos de puzzle ambiental que funcionam bem como pausas, mas faltam mecânicas investigativas profundas (como encadeamento de provas, interrogatórios com ramificações reais ou reconstrução de cronologias complexas) que fãs de jogos como Return of the Obra Dinn ou Sherlock Holmes esperariam.
Os controles são simples e acessíveis: movimentação em primeira pessoa, interação contextual e menus de inventário/pistas diretos. Essa simplicidade ajuda a manter o ritmo, mas também contribui para a sensação de que esse é um jogo fixado “em trilhos”. Há poucas opções de abordagem ou falhas possíveis, o que reduz a rejogabilidade e a sensação de gerência. Mecânicas como reconstituição de cenas ou uso criativo de evidências também são limitadas.
As decisões de game design mais criticáveis são a linearidade excessiva, o uso de marcadores óbvios para pistas e a narrativa que, por vezes, explica demais em vez de deixar o jogador inferir. Essas escolhas tornam o jogo acessível, mas também o tornam menos satisfatório para jogadores que buscam um desafio investigativo profundo. Em alguns trechos, puzzles repetitivos e ritmo irregular quebram a imersão.
Paleta, ruídos e silêncio

O jogo aposta em estética noir, com uma paleta dessaturada, iluminação dramática e cenários detalhados que evocam os anos 1940. Esses elementos visuais sustentam grande parte do charme e da imersão, mesmo quando a fidelidade técnica não é de ponta absoluta.
A direção artística e o design de som trabalham juntos para criar tensão — passos ecoando em corredores vazios, portas rangendo e efeitos ambientais que aumentam a sensação de desconforto. A trilha sonora é discreta e funcional, reforçando momentos de descoberta e tensão sem se tornar memorável, mas cumpre bem seu papel em sustentar a atmosfera sombria
Últimas páginas do diário
Se você procura uma experiência narrativa bem escrita e atmosférica, The Last Case of John Morley entrega momentos memoráveis e um clima noir convincente, comparável a aventuras narrativas modernas que priorizam história sobre mecânica. Mas se espera um simulador de detetive com liberdade e complexidade investigativa, títulos como Return of the Obra Dinn ou mesmo algumas entradas da série Sherlock Holmes oferecem mais desafio e sistemas robustos. No fim, o jogo é recomendado para quem valoriza narrativa e ambientação, mas fica aquém para quem quer um mistério que exija raciocínio profundo.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Júlio Pinheiro




