Capa de The Medium

Review The Medium (Xbox Series S) – Explorando dois mundos

O medo é um sentimento que acompanha bem de perto a evolução da vida. Com ele, os seres vivos são capazes de evitar encontros que venham a prejudicá-los, fazendo com que sobrevivam. Entretanto, o homem possui um tipo de medo que os animais não possuem: o pavor do inexplicável. Isso é o fator gerador das lendas, mitos, e até mesmo muitas de nossas crenças.

Talvez o maior aspecto desse medo seja sobre o que há além da vida. É isso que The Medium explora, apegando-se à sensação de medo e ao desconhecido mundo após a morte que o próprio jogo criou. Mas será que deu certo essa abordagem? Vamos à análise.

Desenvolvimento: Bloober Team
Distribuição: Bloober Team
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura, Puzzle, Terror
Classificação: 16 anos
Português: Legendas e interface
Plataformas: PC, Xbox Series X/S
Duração: 7 horas (campanha)/9 horas (100%)

Uma história intimista

Uma ótima história sem perder o foco no terror

The Medium gira em torno de Marianne, contando boa parte de sua história enquanto a desenvolve, por meio de uma perspectiva em terceira pessoa, tanto visualmente como narrativamente, pois é a própria Marianne que a traz por meio de relatos.

Ela é uma médium capaz de não somente se comunicar com quem já partiu para o além-vida, mas também de entrar nesse mundo misterioso. Desde sua infância, além de ter que lidar com suas capacidades, Marianne é atormentada por uma misteriosa visão em que uma criança é assassinada em um pequeno píer.

Durante o início do jogo, ela conta um pouco de sua infância e como chegou na vida adulta tendo que lidar com essa habilidade, enquanto dá um pequeno tutorial de jogabilidade. E então, logo depois de alguns eventos, recebe uma misteriosa ligação. O homem do outro lado da linha a conhece e sabe de seus poderes, pedindo para que ela o ajude em um resort chamado Niwa, onde trabalhadores de uma Polônia pós-Segunda Guerra Mundial passavam suas férias quando, também, ocorreu um misterioso massacre.

A melhor forma de contar a história de The Medium é por meio de um jogo.

O jogo se passa grande parte do tempo em Niwa. Marianne utiliza suas habilidades para explorar o local enquanto aprende sobre si mesma e resolve os enigmas para descobrir o que aconteceu. Lá ela encontra Tristeza, o espírito de uma menina que sobreviveu às coisas que também ocorreram no mundo espiritual. Assim, enquanto explora e avança pelos mapas do jogo, a própria Marianne relata o que está acontecendo, mais ou menos como ocorre em Silent Hill: Shattered Memories, com a exceção de que The Medium não é dividido por capítulos.

Quando um roteirista pensa em uma história, ele deve pensar também nas várias formas de contá-la. Muitas vezes vemos narrativas se desenvolverem em livros, dando espaço para a imaginação e para o nível de detalhes que o autor deseja. Quando o roteirista já pensa nas imagens e sons que quer passar, ele faz um filme – e pode ser em músicas também. Mas, quando o roteirista deseja que o espectador passe pela mesma situação e tenha os mesmos sentimentos que o protagonista, a melhor forma de se fazer isso é em um jogo, por causa da tremenda imersão que eles geralmente dão.

The Medium conta uma história que o jogador deve explorar para descobrir, sentir o que Marianne sente e ter a mesma vontade de resolver os mistérios que ela tem. Seu enredo, por ser muito intimista, ajuda na imersão do jogador, da mesma maneira ele também sente a tensão da exploração que ocorre nos dois mundos ao mesmo tempo, sendo um show audiovisual com o intuito de narrar e fazer com que a história seja sentida.

Mais do que quebra-cabeças

É possível focar em objetos no mundo real ou no espiritual.

Como a escolha de contar a história foi em um jogo, The Medium precisa de elementos de jogabilidade. Então ele é, basicamente, de quebra-cabeças focado na exploração e terror, não possuindo combates. 

Marianne coleta itens para solucionar estes quebra-cabeças para abrir portas e dar meios a fim de que ela avance enquanto o enredo é contado. Apesar de ser algo extremamente clichê em jogos do gênero, The Medium inova nesse quesito ao inserir exploração no mundo espiritual, muitas vezes ao mesmo tempo no mundo normal. Isso faz com que a tela fique dividida e o jogador tenha que prestar atenção nos dois lados simultaneamente, sendo um excelente acréscimo à jogabilidade e ambientação.

O jogador controla as duas telas ao mesmo tempo.

Enquanto Marianne está nos dois mundos, existem acessos que só são liberados após alguma intervenção em um deles, seja a utilização de uma chave no mundo normal ou usar um escudo espiritual para passar por mariposas. Além disso, existem momentos em que a personagem deve mergulhar no mundo espiritual, semelhante a uma viagem astral, para conseguir algum acesso no mundo real, ou vice-versa.

Ela possui algumas habilidades como o mergulho e escudo, que são necessários em muitos momentos. Fora eles, Marianne consegue ativar uma visão com perspectiva espiritual, que revela itens e pistas escondidos. Essa visão também é extremamente necessária para sua sobrevivência.

Marianne pode utilizar a Perspectiva para encontrar pistas ou objetos escondidos.

Como disse anteriormente, não existe combate aqui, mas sim uma criatura que, em muitos momentos, persegue o jogador, seja no mundo real ou no espiritual, e Marianne deve reagir de um jeito diferente em cada um desses mundos. O jogo dá as ferramentas necessárias para fuga ou para se esconder, mas cria momentos tensos e aflitivos, fazendo com que o jogador tenha que se concentrar enquanto sente um medo real.

A exploração é essencial, pois não existe um mapa para acompanhar. Esse fator é um pouco facilitado por conta da linearidade, mas ainda existem espaços bem amplos com itens e informações escondidas em vários cantos, sendo necessários muitas idas e voltas para acessar novas áreas.Aquele que explorar é premiado com novas informações sobre o mundo, o jogo, o resort e relatos do massacre, além de conseguir vários troféus do sistema de conquistas da plataforma em que está jogando, sendo possível ganhar todos finalizando apenas uma vez.

Visual

Às vezes a furtividade é necessária.

The Medium foi desenvolvido pensando nos videogames da nova geração. Ele foi projetado para o Xbox Series S e X, o que permite novos e ótimos recursos. O nível de detalhe é absurdo, principalmente na questão de luz e sombra. Por se tratar de algo que procura passar uma ambientação que dê medo, os efeitos de iluminação são essenciais – e aqui eles estão impecáveis -, mesmo quando Marianne está nos dois mundos ao mesmo tempo.

O design dos personagens foi feito de uma maneira que não passe estranheza, mesmo beirando a realidade por causa das texturas. Em relação aos espíritos, a maneira que foram feitos traz sensações de sofrimento, principalmente a criatura que persegue Marianne.

Um detalhe importante, que vale ser mencionado, é sua câmera. Como dito anteriormente, trata-se de um ambiente em três dimensões, sendo que o seu ângulo de foco é fixo nas salas. Resumindo, o game possui câmera fixa semelhante aos antigos Resident Evil, com momentos em que ela se move de forma angular. Isso ajuda na ambientação, pois o jogador não consegue enxergar o que está além da tela.

Não há muito o que falar em relação aos efeitos sonoros. São ótimos e muito bem feitos, principalmente os diálogos e o sentimento que os dubladores conseguiram colocar nas vozes. As músicas são boas, ajudam na ambientação e condizem com o momento, mas nada que mereça um destaque.

Vale a pena?

A qualidade das imagens impressiona.

The Medium poderia ser somente mais um jogo com foco na sobrevivência e no terror, mas acaba sendo mais do que isso. Apesar de utilizar muitos clichês do gênero, os momentos em que o jogador deve explorar dois mundos ao mesmo tempo quebram a expectativa e dão um elemento de exploração a mais no jogo. Além disso, sua história é envolvente e instiga o jogador a querer chegar até o fim.

Recomendo The Medium para quem gosta de games focados na história, com elementos de terror e de quebra cabeça. Mas não recomendo para quem não gosta de jogos sem combate e prefere mais ação, pois ele é bem cadenciado e pode ser lento para algumas pessoas.

Cópia de Xbox Series S cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

The Medium

7

Nota Final

7.0/10

Prós

  • Exploração em duas telas ao mesmo tempo
  • História
  • Clima de terror

Contras

  • Falta de combate
  • Jogabilidade lenta