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A História em pixels

Desde a pré-história, nós seres humanos sentimos a necessidade de nos expressar artisticamente e de registrar fatos do nosso cotidiano. O fazemos por meio da arte, utilizando o que temos disponível em cada período. Na época das cavernas utilizamos técnicas rudimentares como a pintura rupestre, como podemos ver nos touros pintados nas grutas de Lascaux na França. Fomos evoluindo e passando a nos expressar com técnicas mais avançadas, como a proporção humana nas belas estátuas do mundo greco-romano, a descoberta da perspectiva no renascimento e a invenção da fotografia na época da  revolução industrial. 

Nos dias de hoje temos técnicas cada vez mais avançadas e impressionantes que podem proporcionar que nossas expressões artísticas se dêem das mais diversas e inovadoras maneiras. A História, portanto, já foi relatada utilizando as mais variadas formas: pintura, escrita, música e mais recentemente o cinema. A partir daí nasce um jeito novo e excitante de explorar, viver – e até mudar – os relatos e fatos históricos. Por meio dos games as opções se diversificam e se ampliam exponencialmente, e isso não é de hoje.

Aperte Start para conhecer a humanidade 

As batalhas aéreas, os lendários pilotos, os fantásticos aviões das grandes guerras serviram de inspiração para vários jogos, como o jogo de Arcade, Red Baron.
As batalhas aéreas, os lendários pilotos, os fantásticos aviões das grandes guerras serviram de inspiração para vários jogos, como o jogo de Arcade, Red Baron.

Desde o Atari 2600, por exemplo, temos jogos que se baseiam na recém terminada guerra do Vietnã como Ikari Warriors. Outros se passavam durante as Grandes Guerras, era o caso do jogo Red Baron, lançado para os Arcades, em que o jogador tomava o controle do ás Von Richthofen, habilidoso piloto alemão da Primeira Guerra Mundial.  

O que eu quero dizer com isso é que desde sua gênese, os jogos eletrônicos, assim como outras formas de arte, relatam e contam a história do mundo. E fazem isso da sua própria maneira, se diferenciando de outras mídias e trazendo imersão, uma possibilidade de vivência única.

As tecnologias avançam e na geração do primeiro Nintendo, MSX e Master System temos um florescer de jogos que são nada mais nada menos que portais para momentos históricos. Um garoto simples, que estava cursando o Ensino Médio, poderia ir ao Período dos Três Reinos em Guerra da China Antiga com o jogo de estratégia por turnos, Romance of Three Kingdoms e mudar a história do Extremo Oriente, ou se preferisse ele poderia flertar com a fantasia durante a Renascença do Leste Europeu em Castlevania, matando seres soturnos e asquerosos na pele de Simon Belmont. 


A jogabilidade do universo

Em Far Cry Primal da Ubisoft, vamos até a Idade da Pedra. Domar feras, guerrear pelo nosso clan e até mesmo falar uma língua ficticia baseada no proto-indo-europeu.
Em Far Cry Primal da Ubisoft, vamos até a Idade da Pedra. Domar feras, guerrear pelo nosso clan e até mesmo falar uma língua ficticia baseada no proto-indo-europeu.

No fim dos anos 90 e começo dos anos 2000, jogos fortemente baseados em fatos históricos iriam explodir, com os RTS (jogos de estratégia em tempo real) como Age of Empires, Total War e o divertido playground histórico chamado Civilization. Nós podemos achar que apenas estes jogos dialogam com a história e chamam a atenção por isso, porém estamos totalmente enganados. Títulos como Medal of Honor já mostravam os horrores da Segunda Guerra, Tenchu falava-nos um pouco da guerra civil Japonesa, e não nos esquecemos também de que enquanto o Iluminismo ocorria nas Colônias do Novo Mundo e na Europa, na mesma europa podiamos controlar Alucard em Castlevania Symphony of The Night adentrando o castelo gótico onde estava o Famigerado Conde Drácula. Isso se estende até hoje com a estourada série Assassin’s Creed, as mais diversas e infelizes guerras ao redor do Mundo nas séries Battlefield e Call of Duty e as aventuras de Kratos e Atreus agora em solo escandinavo, cercado por deuses dos mitos nórdico-germanicos. 


Difícil seria separar os videogames da própria História  – ou até mesmo a pré-história nos casos de jogos como Far Cry Primal por exemplo – os jogos que usam a história do mundo ou que relatam a história são em enorme quantidade, e não seria possível listar todos de forma decente. Vemos até no longe horizonte, nas séries FIFA World Cup da EA. ou Olympic Games 2020 da SEGA, retratos de eventos que estão acontecendo ou que aconteceram há pouco tempo e que, mesmo sendo jogos de esporte, nos mostram de certa forma um pouco da nossa cultura e do nosso quadro político naquele momento. Por exemplo, em FIFA World Cup 98 você poderia jogar e competir usando a Seleção da extinta nação Iugoslavia.

Já nos jogos de aventura ação ou RPG, mesmo dentre os que utilizam da fantasia, podemos ter um vislumbre do que foram momentos marcantes da nossa história neste nosso pequeno planeta. Visitamos o majestoso Egito antigo em AC: Origins, defendemos as ilhas do Japão da ira conquistadora de Kublai Khan em Ghost of Tsushima e encarnamos uma versão caçadora de youkais de William Adams, o real navegador Inglês que se tornaria o primeiro samurai não-japonês, no game da Team Ninja, Nioh

 O mundo: A plataforma da nossa História

A turbulenta e mítica migração de inumeros povos para o oeste selvagem nos Estados Unidos em Red Dead Redemption 2 da Rockstar.
A turbulenta e mítica migração de inumeros povos para o oeste selvagem nos Estados Unidos em Red Dead Redemption 2 da Rockstar.

Vemos que os videogames cobrem os acontecimentos históricos, direta ou indiretamente. Podemos caçar mamutes no Pleistoceno em Ancestors: The Humankind Odyssey e até participar do êxodo Norte-Americano para o Oeste Selvagem em Red Dead Redemption 2. Os games contam a nossa história assim como faziam as pinturas, os livros e os filmes, eles nos colocam imersos dentro de momentos chaves da nossa existência como humanos, nos fazem questionar sobre tais momentos e não teria hipoteses de separar os dois, até porque os videogames já são parte – viva – da história da humanidade.

Então, por mais que um jogo pareça estar distante dos fatos históricos reais, certamente ele tem uma ligação com algum evento histórico. Tentar separar os jogos da história, da filosofia e até das línguas, seria como rasgar uma fotografia em preto e branco enquanto tentar entender a história e aproveitar esse elemento de ação do ser humano no tempo dentro de um jogo seria como colorir a foto. Ao fim, vemos que cada pequena linha de script de desenvolvimento de um jogo, carrega nela toneladas da nossa história nesse planeta.


Revisão por : Jason Ming Hong