The Thaumaturge é um RPG situado em uma Varsóvia do começo do século XX que proporciona uma experiência bastante diferenciada. Criado pela Fool’s Theory em parceria com a 11 bit studios, o título apresenta uma história interessante e boas mecânicas de combate, mas tudo é prejudicado por um estado técnico ruim.
Desenvolvimento: Fool’s Theory
Distribuição: 11 bit studios
Jogadores: 1 (local)
Gênero: RPG
Classificação: 14 anos
Português: Não
Plataformas: PC
Duração: 13 horas (campanha)/31 horas (100%)
Voltando a um local tumultuado
Com três atos distintos, a trama tem como cenário todo o contexto sócio-político da Polônia em 1905, quando o país era ocupado pela Rússia. O RPG nos coloca na pele de Wiktor Szulski, um detetive taumaturgo, pessoa considerada uma espécie de milagreiro que pode descobrir informações pessoais e segredos presentes em objetos graças aos seus poderes de percepção, que também o permitem antecipar ações e pensamentos dos outros. O homem é acompanhado por salutors, espíritos sobrenaturais que ficaram atrelados a ele no decorrer de sua vida. Esses seres, que somente taumaturgos podem ver e interagir, auxiliam o protagonista em sua jornada e nos confrontos contra seus rivais.
A história retrata o retorno do protagonista a Varsóvia para o funeral de seu pai, que também foi um taumaturgo. Em meio ao luto, Wiktor herda um grimório mágico, mas que misteriosamente desapareceu. Partindo disso, o homem entra em busca por mais informações sobre o próprio pai e pelo item sumido em todas as camadas da sociedade polonesa – tudo isso enquanto descobre mais sobre os espíritos que vivem na cidade. A narrativa é complexa, ainda mais porque é baseada em acontecimentos e figuras importantes reais, como o místico Rasputin, que acompanha o personagem principal em boa parte da aventura.
O jogo oferece escolhas durante os diálogos com base nos sentimentos do protagonista, dando para moldar a personalidade de WIktor conforme as opções disponíveis nas conversas. Os personagens vão se lembrando das ações do protagonista e os rumos da trama são definidos com base nisso, resultando em uma experiência dinâmica, com 12 finais diferentes. No entanto, o RPG é lamentavelmente prejudicado por problemas técnicos em sua versão para computadores – a única disponível, já que o título não tem previsão de lançamento para consoles.
Desempenho é ruim
Produzido através da Unreal Engine, The Thaumaturge chegou às lojas da Steam, GOG e Epic com vários problemas de desempenho, como stutterings constantes no desenrolar de toda a campanha. O carregamento de texturas é demorado mesmo em um SSD de alta velocidade, prejudicando a apresentação das cutscenes – que seriam muito bem feitas, se não fosse essa falha e alguns NPCs de fundo, que aparecem numa taxa de quadros muito baixa. Além disso, o RPG também sofre com travamentos repentinos nas transições entre fases diferentes.
Embora a performance decepcione, o restante impressiona. As cenas são bem dirigidas e animadas, apesar delas serem um pouco estáticas devido ao escopo mais limitado desse título. O jogo tem suporte nativo para telas ultrawide e conta com uma fotografia sensacional, com tons frios e apagados que transmitem uma excelente impressão das situações retratadas na campanha. O departamento sonoro traz uma trilha sonora original espetacular, mas uma dublagem somente em inglês.
Considerando todo o pano de fundo da narrativa do RPG, é uma pena não contar com a disponibilidade de áudios nos idiomas russos e poloneses, pois isso proporcionaria uma sensação de imersão incrível para a trama. A falta de uma tradução para o português é um outro ponto negativo de The Thaumaturge, dado que a ausência de uma localização impede que muitos que não possuem um grande conhecimento de alguma das sete línguas estrangeiras suportadas entendam os textos do jogo.
Explorando e combatendo
A jogabilidade se dá através de uma câmera isométrica com visuais incríveis, mas com uma movimentação limitada que tem apenas uma opção de zoom. Em geral, a gameplay é bastante linear, sendo necessário usar os poderes de percepção de Wiktor para encontrar o caminho certo em direção aos objetivos que precisam ser cumpridos.
Apesar do jogo ser focado em investigações, basta explorar tudo minuciosamente em busca de observações e pistas para encontrar a conclusão a respeito da tarefa da vez, sem a necessidade de deduzir qualquer coisa. Dessa forma, o protagonista vai ganhando pontos de experiência, úteis para aprimorar suas capacidades através de uma árvore de habilidades, um elemento tradicional dos RPGs.
O sistema de combate é baseado em turnos. As batalhas sempre surgem com algum contexto, e nunca em momentos aleatórios no meio da exploração, como é comum no gênero. As lutas são um tanto lentas, e nelas o protagonista pode sair na porrada contra seus oponentes, além de poder utilizar armas de fogo em adição aos poderes psíquicos dos fenômenos sobrenaturais que o acompanham, no melhor estilo Persona.
É possível selecionar a dificuldade desejada, assim podendo escolher entre ter batalhas desafiadoras ou confrontos fáceis, com um foco maior na história. Porém, o que se destaca nas lutas é o fato delas serem bastantes cinematográficas. Os golpes possuem excelentes animações individuais e tornam a jogabilidade em algo bem envolvente durante todo o tempo, apesar de algumas dessas animações não terem uma transição satisfatória para a gameplay propriamente dita. Se não fossem esses pequenos problemas técnicos, The Thaumaturge seria um RPG totalmente deslumbrante.
Interessantíssimo, mas problemático
The Thaumaturge é um game diferenciado, sendo uma experiência ímpar para os fãs de um bom título narrativo. Apesar da falta de uma tradução, dos problemas de desempenho e da alta linearidade, o jogo traz uma história complexa e uma boa jogabilidade que fazem com que o RPG seja algo que mereça uma atenção.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Ailton Bueno