Torchlight 3 capa

Review Torchlight 3 (Switch) – Consequências da mudança repentina

Torchlight é uma série que vem há muito tempo sendo aclamada pelos fãs, principalmente por conta da equipe ser parte de antigos membros do desenvolvimento de Diablo 2. Não é à toa que todos os jogos Torchlight possuem semelhanças bem grandes para com a franquia da Blizzard, até mesmo se sobressaindo no quesito qualidade de vida e interface. Torchlight 2 foi lançado há bastante tempo já, e fazem alguns meses desde que tive a oportunidade de analisá-lo em sua versão para o Nintendo Switch. Neste meu texto, ressalto vários pontos que tornam o jogo criado pelos ex-membros de Diablo em algo bem melhor do que sua própria inspiração, mas parece que no terceiro jogo da franquia as coisas fugiram um pouco do controle.

Bom, caso você não saiba, Torchlight 3 na verdade é uma mudança de escopo que nasceu originalmente sob o nome Torchlight Frontiers, um game free-to-play 100% online recheado de microtransações. Porém, devido às críticas, os responsáveis o adaptaram para virar um produto “fechado” e possível de ser jogado offline, além de ter todas as compras internas removidas. Mesmo assim, alguns rastros foram deixados para trás.

Desenvolvimento: Echtra Games
Distribuição: Perfect World
Jogadores: 1-2 (local) e 1-40 (online)
Gênero: Ação, RPG
Classificação: 12 anos
Português: Interface e Legendas
Plataformas: PC, Xbox One, Switch e PS4
Duração: 17 horas (campanha)

A narrativa de sempre

TL3 segue na mesma linha de apresentação

Devo avisar que comparações diretas de Torchlight com Diablo são inevitáveis, mas, mesmo assim, analisarei o jogo de forma isolada em grande parte desse artigo.

Um dos pontos mais glorificados em Diablo sempre foi sua narrativa, e nisso Torchlight sempre ficou devendo muito. Não que eu me importe tanto em um universo gigantesco de personagens e história pra contar, já que sempre gostei bem mais de focar em jogabilidade. De qualquer forma, Torchlight sempre apresentou um enredo jogado, do qual você não faz tanta ideia do que está acontecendo.

Torchlight 3 eleva isso à enésima potência simplesmente lançando o jogador em um navio para a escolha de seu personagem, sem qualquer tipo de introdução à história ou contextualização do jogador com a franquia. Algo que acontece normalmente em MMORPGs, em que a narrativa é quase nula e o jogo investe em gameplay. Errado? Não. Porém, custoso para uma franquia de três jogos que vem construindo reputação há mais de uma década.

Jeito Torchlight de ser

Novas classes

Torchlight 3, assim como sua inspiração, é o que podemos chamar de RPG de ação – para alguns, dungeon crawler. O cerne do jogo é derrotar inimigos aos montes, explorar os locais do mapa, adquirir itens e evoluir seu personagem personalizado. Em termos de jogabilidade, Torchlight sempre possuiu uma essência que esbanja simplicidade, mostrando-se algo mais acessível do que outros jogos do gênero. Novamente, existem algumas classes para serem escolhidas, e são elas:

  • Precisão: personagem com foco em ataques com armas de longa distância, que precisam de munição para continuar atirando.
  • Mago Crepuscular: aquele que utiliza de magias, projéteis e maldições com efeitos negativos no combate.
  • Forjador: o homem-de-lata, com grande vantagem em confrontos próximos que faz uso de um canhão localizado em seu peito.
  • Mestre de ferrovia: mais um com foco em combate corpo-a-corpo, que tem uma habilidade principal de invocação de uma locomotiva que atira.

Além de suas características próprias de combate, cada uma dessas classes oferecem habilidades próprias como nos jogos anteriores, mas a novidade mesmo são as Relíquias, que desbloqueiam poderes que vão além das habilidades próprias dos personagens e permitem a escolha entre cinco tipos: Flagelo, com características venenosas; Sedenta de Sangue, que cura ao mesmo tempo que ataca inimigos; Friocoração, com foco em ataques de gelo; Elétrodo, que dispara eletricidade e causa efeitos de eletrificação nos inimigos; e Flaming Destroyer (único nome sem tradução), com foco no elemento fogo. Combinado com as habilidades padrões de cada classe, as Relíquias são uma grande novidade que expande a estratégia, mas também incluídas sem qualquer explicação ou contexto de sua adição.

Habilidades

No mais, a forma de evoluir o personagem continua quase igual aos jogos anteriores, e o único controle possível de ter sobre os atributos fica a cargo das habilidades em si nesta versão. 

Uma vez que o level sobe, o jogador pode adicionar pontos em uma habilidade única da classe ou desbloquear novas conforme o nível requerido seja atingido. Ao contrário de Torchlight 2, aqui não existe a possibilidade de elevar atributos como força, destreza, magia e afins. Simplesmente qualquer equipamento encontrado pode ser usado, ignorando qualquer fator de nível e requerimentos. Enfim, seu personagem não transmite mais a sensação de ser algo personalizado.

Os pets também estão de volta e agora são mais presentes do que nunca. Ao longo do jogo, encontramos várias jaulas contendo animais que podem ser libertados, e então soltos ou levados à base do jogador. São vários os tipos e cores de animaizinhos existentes – lhamas, morcegos, cães, águias, etc -, e isso Torchlight sempre soube fazer muito bem. Os pets servem como um apoio em confrontos, mas são mais úteis para levar itens ao mercador da cidade para vender, sem que o jogador precise se deslocar até lá para efetivamente “desovar” tudo aquilo que encontrou pelos campos de batalha.

Novidades nem tão boas

Gráficos feios

Em termos de visuais, sons e trilhas sonoras, não há nada que já não se tenha sido visto no primeiro ou segundo jogo. Porém, os gráficos ainda cartunescos receberam uma dose extra de sombra e atualização para se equiparar à qualidade de títulos da geração mais recente, o que acabou deixando bastante a desejar na versão de Switch. No console da Nintendo, além de Torchlight 3 rodar em 30 fps, ainda existem quedas pesadas de framerate em locais com muitos inimigos na tela, atrapalhando bastante a jogabilidade. Por causa do downgrade gráfico, no Switch tudo parece mais lavado e embaçado – e piora no modo portátil -, o que deixou um aspecto meio “bonecão de cera” em várias texturas se comparadas à versão de PC ou até mesmo de consoles da concorrência.

Forte

Torchlight 3 também resolveu “inventar moda” ao tentar inovar, e acrescentou elementos que não agregam tanto como o Forte. Este nada mais é do que um lugar no mapa pelo qual passamos, funcionando como uma espécie de passagem entre uma região e outra, que pertence ao personagem e permite a construção de maquinários para crafting de itensque consomem recursos coletados nos ambientes, como a madeira – e posicionamento de parafernalhas meramente decorativas do inventário. Aqui também é onde guardamos os pets encontrados por todo o jogo, sendo possível de trocar o animalzinho interagindo com uma pequena casinha. Aí você me pergunta “mas qual o propósito disso?”, e eu te digo que, além do crafting, não existe motivo plausível.

Contratos

Missões continuam bem diretas, e isso é um ponto positivo. Mas ainda elas parecem deslocadas da trama uma vez que não adicionam nada à história, em vez disso servindo apenas como tarefas numa checklist que o jogador deve cumprir. Como é o terceiro Torchlight a dar às caras, era esperado minimamente uma mudança em relação ao ponto mais fraco de toda a série. Conversando com os NPCs, recebemos tarefas bem simples, que se resumem em chegar até um local, destruir os inimigos, derrotar o chefe e voltar ao solicitante para obter sua recompensa. Aliás, recompensa esta que nunca parece “premium” o suficiente, sendo que é possível encontrar equipamentos melhores simplesmente derrotando inimigos comuns. Missões paralelas que eram comuns de se encontrar em NPCs vagando pelo mundo em Torchlight 2 também desapareceram, fazendo com que o único objetivo seja sempre voltar à cidade inicial para receber novas quests.

Mapa sem transparência e fixação lateral

O mapa também mudou, e infelizmente para pior. No segundo Torchlight a forma de se localizar era excelente, e um formato de mapa fixo com transparência podia ser configurado na lateral da tela sem interferir na visão do jogador. Em Torchlight 3, resolveram dar duas opções extremas: o mapa de forma minúscula e quase inútil no quesito visualização do local das quests no canto direito superior da tela, ou então gigantesco sem qualquer tipo de transparência alterável em cima do personagem no meio da tela. A decisão foi péssima, pois a única forma viável de entender onde é que eu me encontrava no mapa é posicionando um detalhamento colossal sobreposto na minha tela, ou então pressionando o menu e visualizando o desenho da área de forma completa.

Como dito, vários elementos criados pensando em jogos gratuitos ainda estão presentes em Torchlight 3, e é possível notar isso principalmente nas mecânicas de Contratos. Aqui, existe uma espécie de linha do tempo, com itens a serem desbloqueados conforme o jogador vai avançando e evoluindo o personagem. Essa mecânica lembra bastante as loot boxes, e provavelmente no início do projeto seria algo obtido mais rapidamente utilizando dinheiro real.

Combate

Fora estes problemas todos já citados, Torchlight 3 ainda sofre com bugs estranhos, como uma estatueta que surge de repente ao lado esquerdo da tela e apenas desaparece se entrar no menu de equipamentos do personagem. Já um outro que implica na jogabilidade é o sumiço repentino de seu pet, sendo necessário ir até ao Forte para restaurá-lo. A forma como as informações dos equipamentos são apresentados também é bem estranha, e você nunca tem ideia de qual armamento é realmente melhor do que aquele que você está usando, por exemplo.

Aí você pensa que acabou, mas Torchlight 3 apresenta então o maior retrocesso de toda a franquia: o multiplayer. Segundo os desenvolvedores, o modo co-op online agora foi separado completamente do single player offline para evitar o uso de “cheats”. Ou seja, você não pode usar os mesmos personagens jogando sozinho e com amigos, mas precisará de um grupo especificamente criado para cada ambiente. Isso é extremamente frustrante, e digo sinceramente que matou o multiplayer para mim, já que não quero ser obrigado a começar do zero para poder me aventurar com amigos. 

Um retrocesso tremendo

Prefira Torchlight 2

Torchlight Frontiers certamente teria decepcionado os jogadores por causa de seu formato que fugia à proposta original da série Torchlight, mas pelo menos seria um produto com um propósito bem definido e gratuito. Torchlight 3 deixa claro o quanto sofreu adaptações para se tornar um jogo pago e parecer um produto premium, mas deixou vários sinais de seu antigo formato e muitos bugs pelo caminho. Não é um jogo ruim, mas é muito abaixo do esperado caso você seja alguém que tenha se apaixonado por Torchlight 1 e 2.

Trata-se de um retrocesso gigante em vários aspectos: arbitrário no quesito multiplayer online, lotado de missões repetitivas e cenários muito parecidos, além de ainda ficar em desvantagem se comparado à concorrência que permite mais de uma pessoa jogar no mesmo console. Em time que está ganhando não se mexe, ou pelo menos não se deve tomar decisões que destroem todo o legado daquilo que havia mostrado ser a fórmula do sucesso.

Esta review foi feita com um código de Switch cedido pelos produtores

Revisão: Kiefer Kawakami

Torchlight 3

4.5

Nota final

4.5/10

Prós

  • Online para vários jogadores
  • Habilidades de relíquias
  • Muitos pets

Contras

  • Mapa péssimo
  • Sem pontos de atributo
  • Quests muito repetitivas
  • Gráficos sem definição
  • Bugs