O subgênero Survival Horror está meio morto ultimamente, igual a um zumbi. Para se ter uma noção, o último título que chamou a atenção do público foi Resident Evil Village. Há outros games que até podem entrar na lista, mas não representam tão bem o subgênero, como, por exemplo, The Medium.
Caso compartilhe da mesma visão e sente falta de um Survival Horror raiz, quero lhe convidar a conhecer Tormented Souls. De forma simplificada, o título mistura mecânicas e elementos narrativos da tríade de PS1 que me fizeram dormir de luz acesa: Resident Evil, Silent Hill e Alone in the Dark: The New Nightmare. Portanto, apague a luz, reze um pouco e venha lidar com almas atormentadas de forma clássica.
Desenvolvimento: Dual Effect, Abstract Digital
Distribuição: PQube
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação, Aventura
Classificação: 18 anos
Português: Legendas e interface
Plataformas: PC, PS4, PS5, Switch, Xbox One, Xbox Series X/S
Duração: 8.5 horas (campanha)/16 horas (100%)
Querer ver demais pode causar cegueira
Bom, vamos exercitar um pouco a imaginação antes de começar. Pense que, em um dia como qualquer outro, você recebe uma carta contendo a foto de duas crianças. Neste exato momento, sua cabeça é submetida a uma dor curiosa, como um presságio, então, você decide olhar quem é o remetente. Estranhamente, a carta foi enviada de um desconhecido hospital chamado Winderlake. Tudo fica ainda mais bizarro ao pesquisar e descobrir que o local está abandonado há anos. Agora, fica a dúvida: é válido se arriscar por essa curiosa dor? Caroline Walker, a protagonista de Tormented Souls, respondeu sim a essa questão, e não teve uma boa surpresa.
Após seus primeiros passos na misteriosa estrutura hospitalar, a pobre garota acabou nocauteada por um estranho. As coisas ficam ainda piores quando ela acorda, pois está pelada em uma banheira com um cano em sua garganta. Felizmente, todos os órgãos de Caroline estavam seguros, já que a única coisa removida foi o seu olho. Como consequência de sua curiosidade, a caolha está presa em um hospital abandonado, com um padre para lá de estranho e os antigos pacientes nada felizes com o tratamento recebido.
Sinceramente, não dá para culpar Caroline, porque até eu fiquei curioso para saber o que aconteceu com esse hospital e onde ela se encaixa nisso. Tormented Souls faz jus ao seu nome e importuna sua mente com essas questões. Assim como os títulos já citados anteriormente, há muitos arquivos espalhados pelo hospital, com cada um contendo uma pequena peça desse grande quebra-cabeça que é a narrativa. No entanto, infelizmente, há outros aspectos impossíveis de se ignorar que intensificam essa angústia.
Escuro mais hospital abandonado é igual a nictofobia
Se tem uma coisa que é indispensável em um Survival Horror, é aquela ambientação que te faz tremer na base a todo momento. Para conseguir esse feito, desenvolvedores devem criar um local com aparência questionável, música que causa fobia ou, às vezes, um silêncio ensurdecedor misturado com sons perturbadores. Ao misturar tudo isso com perfeição, quem joga dá cada passo orando para que a experiência acabe logo.
Depois de informar um pouco o que ocorreu com Caroline em Tormented Souls, já é possível ter uma noção que esse hospital não é um local de cura. A bagunça, destruição e mensagens nada amigáveis feitas com sangue deturpam até o espírito mais corajoso. Em conjunto, músicas com acordes afiados como as garras dos inimigos arranham a alma através de seus ouvidos. No entanto, a tensão de andar pelos corredores amplia ao descobrirmos que alguns locais não possuem energia, e o escuro nos causa pânico.
Pegando emprestado a principal mecânica de Alone in the Dark: The New Nightmare, Tormented Souls não tem esse nome atoa. Andar pelo escuro não é uma tarefa recompensadora e não te fará ser mais corajoso, mas muito pelo contrário: isso irá matar Caroline. Como a vitalidade é exposta por batimentos cardíacos, isso será um teste falho para ver se o coração da pobre garota está saudável. Usar um isqueiro para iluminar o caminho é o mais recomendado, mas, mesmo assim, as coisas conseguem piorar.
Multiplique por dois tudo que foi dito até agora, já que o aspecto principal de Silent Hill também está aqui. Sem muitas informações, a aparência de um hospital abandonado não fica melhor, visto que é um local em que muitas almas sofreram e morreram. Todos os momentos em que tive que entrar nesse mundo invertido, eu ressentia e apertava pause para questionar por que estava fazendo isso, aí lembrava que era para escrever essa análise. No final, acendia a luz do quarto para melhorar um pouco as coisas – não adiantava muito.
Nada sozinha no escuro
O isqueiro é um engenhoso salva vidas para podermos andar pelo hospital, mas ele não será o suficiente. Como de costume em qualquer Survival Horror, há inimigos espalhados pelas áreas do hospital Winterlake. Para enfrentá-los, contamos com um atirador de pregos bem fuleira e outras armas. Porém, não é possível equipar os dois equipamentos, o que te faz questionar se é válido morrer para o escuro ou para os inimigos.
Após o primeiro jumpscare, comentei no Twitter que teria pesadelos com Wolverines cadeirantes – infelizmente, não estava errado. Os antigos pacientes de Winderlake são perturbadores, digno de parabenização pela criatividade dos desenvolvedores. Os barulhos feitos por eles estão entre o meu top 10 coisas que não desejo a ninguém escutar. Ao entrar em uma sala, uma música tensa assume o papel de apresentar esse perigo, e ambos os sons se alinham covardemente.
Com grande satisfação, Tormented Souls traz um combate funcional, nos permitindo esquivar de certos ataques, deixando a mercê do jogador utilizar essa ferramenta com êxito. No entanto, a nostálgica e problemática câmera travada tende a piorar esses encontros, pois não nos permite enxergar onde o perigo está. Fora que, como a exploração é uma necessidade, ela atrapalha bastante a visão, não nos permitindo prosseguir com muita segurança.
Explorar para que?
Finalizando toda essa experiência de arrepiar os cabelos, um aspecto indispensável para um bom Survival Horror é o leva-e-traz de itens. Em Tormented Souls isso é bem intuitivo e torna as coisas até mais agradáveis. O problema é realmente encontrar os itens necessários para o avançado em Winderlake. No meio tempo dessa procura por itens chaves, vamos explorar o assombroso hospital e encontrar munição para armas e morfina para se curar.
De forma semelhante a Resident Evil, aqui existem as famigeradas – e abençoadas – safe rooms com uma música bem tranquilizadora. O triste dessa notícia é que elas já ficam marcadas no mapa por meio de desenhos, e isso já te faz saber onde entrar. Nelas, também há sempre um gravador para salvar o progresso, e as fitas para isso são um pouco raras.
Em contrapartida, não saber para onde ir é uma baita dor de cabeça pelo tempo de loading ao entrar em portas. Ficar pulando de área em área é algo bem desanimador por esse aspecto. Aliás, os mapas não mostram especificamente onde você está, apenas brilham anunciando o ambiente atual em que se encontra.
Para os fãs do subgênero
Tormented Souls é um must have para quem gosta de Survival Horror. É impossível você não identificar detalhes que marcaram a criação e ascensão do subgênero nos anos 90. Com aquela câmera travada, controle tank, clima tenso e puzzles criativos, o título merece mais atenção dos fãs viúvos dessa maravilhosa experiência. O divisor de sangue é realmente a versão para o Switch, pois as telas de carregamento são muito mais rápidas em outros consoles nos quais Tormented Souls saiu primeiro. Fora isso, a experiência visual não é muito distinta da já apresentada.
Cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong