Unknown 9: Awakening é um jogo de ação e aventura produzido pela Reflector Entertainment. Parte de um universo transmidiático que abrange podcasts, novels, quadrinhos e até seriados, o título desenvolvido em parceria com a Bandai Namco decepciona por ser uma experiência mecanicamente ruim que se perde em suas próprias ambições.
Desenvolvimento: Reflector Entertainment Ltd.
Distribuição: BANDAI NAMCO Entertainment Inc.
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação
Classificação: 12 anos
Português: Interface e legendas
Plataformas: PC, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X|S
Duração: 9 horas (campanha)
Uma narrativa incompleta
Situada no século XIX, a aventura é estrelada pela atriz Anya Chalotra (conhecida por interpretar Yennifer na série de The Witcher) e nos coloca no comando de Haroona, uma Quaestor. Ela possui a habilidade de transitar entre o mundo normal e o Umbral, uma dimensão que se sobrepõe à realidade. Por ter esses poderes sobrenaturais, ela se torna alvo dos Ascendentes, um grupo que deseja usar esse universo alternativo para alterar o curso da humanidade. Essa facção também foi responsável pela morte de Reika, a mentora da protagonista, que decide entrar em uma jornada de vingança contra eles ao longo da campanha.
Mas o que realmente significa ser uma Quaestor? Quem são os Ascendentes? O que é o Umbral? Esses conceitos são simples de entender (ser uma Quaestor está relacionado aos poderes, e os Ascendentes são os vilões), só que nada disso faz sentido no decorrer da jogatina. O universo de Unknown 9 não é introduzido de uma forma clara e compreensiva, chegando a parecer que Awakening é uma sequência de um título anterior de tanto que game pressupõe que os jogadores já conheçam sobre a trama.
Esse é o primeiro grande lançamento desse projeto multimídia, claramente atraindo uma audiência muito maior do que uma novel ou um podcast. Só faltou apresentar esses elementos da narrativa a esse novo público, já que esse poderia ser o produto da franquia com maior potencial de sucesso – especialmente considerando que a história agradaria os fãs de séries como Uncharted e Tomb Raider.
Jogabilidade derivada ao extremo
É justamente da saga de Nathan Drake que Unknown 9: Awakening tira suas principais inspirações para a jogabilidade – além da protagonista se comportar de uma maneira semelhante à Lara Croft. Assim como Uncharted, a gameplay tenta contar uma narrativa cinematográfica, incluindo até mesmo personagens secundários que acompanham Haroona durante as fases, sempre conversando sobre algo pertinente à trama.
Com puzzles simples e mecânicas de plataforma básicas para atravessar e escalar os cenários, o game tem um sistema de combate focado na furtividade. É necessário usar os poderes de Haroona para derrotar os Ascendentes, sendo possível manipular mentes para fazer com que os adversários se ataquem, mover objetos à distância e até se defender de tiros com um escudo. Se tudo der errado e a protagonista for descoberta por seus oponentes, há a opção de sair na mão contra eles, com um combate corpo a corpo que, embora responsivo, é tenebroso.
Os golpes de Haroona são limitados na maior parte da jogatina devido a uma progressão lentíssima, e os inimigos possuem uma inteligência artificial que é longe de ser desafiadora. Isso se agrava nos momentos em que é preciso lutar contra chefes, pois essas lutas são maçantes e entediantes. Provavelmente, Unknown 9: Awakening seria um jogo melhor se tivesse um foco maior em sua narrativa em vez desses confrontos – porém, os outros aspectos também decepcionam bastante.
Gráficos ruins e bugados
Apesar de ter suporte a tecnologias modernas como o ray tracing, Unknown 9: Awakening apresenta gráficos ultrapassados, com texturas em baixa resolução. Pelo menos, isso resulta diretamente em uma versão de PC leve, com um desempenho agradável. Contudo, o conjunto da obra é totalmente insatisfatório. Os personagens têm modelos mal-acabados, com uma iluminação terrível em relação aos cenários, além de animações faciais pouco expressivas que resultam em cutscenes desinteressantes. Todas as cenas são marcadas por bugs visuais e uma interpretação robótica que não faz jus aos talentos da atriz que protagoniza a aventura.
Unknown 9: Awakening acerta em sua ambientação, principalmente por retratar regiões pouco exploradas em jogos, como uma Portugal gótica e a selva indiana. No entanto, os elogios ficam restritos apenas aos visuais desses locais. O design de fases é péssimo, porque os cenários são repletos de barreiras invisíveis e sem um bom direcionamento sobre onde seguir na campanha. Os próprios NPCs não sabem se comportar adequadamente nesses mapas, muitas vezes andando em lugares aleatórios ou ficando parado no meio da ação enquanto Haroona luta, evidenciando a falta de polimento do jogo.
A Naughty Dog, que criou e aperfeiçoou essa fórmula usada pelos desenvolvedores, sempre pode fazer um esforço extraordinário para entregar experiências impecáveis e livres de falhas técnicas, algo que faltou aqui. Unknown 9: Awakening é um título com um escopo menor e um orçamento limitado, mas tenta ser tão grandioso quanto games que custam mais de 200 milhões de dólares, sem muito sucesso.
Simplesmente abismal
Mesmo com uma infinidade de problemas, Unknown 9: Awakening traz uma proposta interessante – ainda mais pelos locais em que a aventura se passa, fugindo dos padrões dos grandes títulos AAA, embora a fórmula da jogabilidade ironicamente seja a mesma de um dos maiores expoentes desse tipo de jogo. O game desperdiça boas ideias em uma experiência de baixa qualidade, com uma trama pouco compreensível que faz com que toda a execução dessa parte do projeto multimídia fique aquém de seu verdadeiro potencial.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Ailton Bueno