Valkyria Chronicles capa

Review Valkyria Chronicles (Switch) – Uma obra-prima estilo anime

Quantos jogos baseados em animes e mangás que você viu por aí que provavelmente foi uma grande decepção? Aposto que muitos. Eu mesmo sou um grande fã de Fairy Tail e One Piece, e ambas as séries nunca tiveram adaptações no mundo dos videogames que fizessem jus à qualidade dessas grandes obras japonesas. Talvez um dos poucos que se sobressaiam seja Dragon Ball, mas são tantos jogos que já não conto mais com a criação de Akira Toriyama como um diferencial neste meio.

Mesmo com algum tempo de existência, apenas recentemente tive a oportunidade de conhecer Valkyria Chronicles, uma série de jogos criados por Ryutaro Nonaka e Shuntaro Tanaka e desenvolvida pela divisão SEGA WOW da SEGA, cujo início foi no idoso PlayStation 3 em 2008, com lançamentos remasterizados para Switch e PlayStation 4. As duas sequências, infelizmente, estão presentes apenas no PSP, sendo que o quarto jogo e uma espécie de Musou (Valkyria Revolution) existem para PC, Xbox One e PS4. Mas devo dizer que essa porta de entrada certamente acendeu minha vontade de conhecer todos os quatro Valkyria Chronicles, e eu te conto o motivo.

Desenvolvimento: SEGA WOW
Distribuição: SEGA
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Estratégia, Ação, RPG
Classificação: 16 anos
Português: Não
Plataforma: PC, PS4 e Switch
Duração: 31 horas (campanha)/62.5 horas (100%)

Começando por baixo

Welkin, o novo comandante do Squad 7

Valkyria Chronicles não é um produto baseado em anime – mas recebeu uma adaptação posteriormente – ou obra de alguma outra mídia, mas trata-se de um produto feito para os videogames. Mesmo assim, eu que não sou o tipo de pessoa que costuma prestar atenção e ser cativado por histórias em jogos, preciso muito dizer o quanto Valkyria Chronicles conseguiu me fisgar. Sempre gostei de animes e mangás, e o primeiro Valkyria Chronicles sabe contar muito bem sua história através de cutscenes estilosas em visuais que lembram remotamente uma aquarela, recheada de personagens cativantes, diálogos que importam e dublagens excepcionais – com opções de inglês e japonês.

Todas as atuações transmitem muita emoção e um sentimento pleno de que estamos vendo um anime de alto orçamento. O enredo conta a história de um período fictício que se passa na Europa (em inglês, realmente se chama Europa e não Europe), em meados de 1935, em que as forças da Aliança Imperial resolvem atacar a nação de Gallia por causa de sua riqueza em um minério chamado Ragnite, que pode ser usado como armas anti-tanques ou até mesmo medicina. Para lutar contra essa invasão, o jogador controla principalmente Welkin Gunther, filho de um famoso herói de guerra conhecido como general Belgen Gunther, que lutou na First Europan War (novamente, não é a Europa que conhecemos).

Alicia

Nos primeiros eventos de Valkyria Chronicles, juntamente à sua irmã adotiva Isara, Welkin foge num protótipo de tanque do pai, de codinome Edelweiss, e entra para a milícia Galliana para ajudar na luta contra a invasão imperial. Por conta de certas ocasiões, Welkin acaba se aliando à Alicia Melchiott, uma garota de bandana vermelha que trabalha numa panificadora e faz parte da milícia na cidade de Bruhl, localizada também em Gallia. Com sua performance demonstrada em conjunto com Alicia no local, Welkin recebe o título de tenente e passa a comandar o Esquadrão 7, pertencente ao terceiro regimento da milícia Galliana. Porém, devido à sua recém conquistada liderança, o jovem comandante não possui imediatamente a confiança de seus subordinados e precisa provar sua capacidade tática ao longo do jogo enquanto combate as forças do império.

Uma mistura de turnos, estratégia e tiro

Posso estar errado, mas Valkyria Chronicles apresenta uma jogabilidade única e sem semelhantes. É até possível que existam sistemas parecidos, mas com certeza é a junção de várias mecânicas que vemos por aqui que torna Valkyria Chronicles algo tão incrível. A forma de jogar funciona por turnos e vale para ambos os lados da batalha, cada qual com sua quantidade de CP, que é utilizado como pontos de ação. Após o movimento, o jogador toma controle de uma mira enquanto o tempo é congelado, e precisa atacar o adversário – que possui uma chance de esquiva.

As unidades terrestres consomem apenas um CP, enquanto tanques fazem uso de dois pontos de ação mas compensam com seu poder de fogo. Em cada turno, os combatentes podem andar até a linha limite de sua capacidade de movimentação, e cada classe é dotada de um valor máximo. Ao todo, o jogo oferece tipos de unidades distintas com características únicas. São eles:

  • Scout: soldados básicos que possuem rifles de médio alcance e tiros cadenciados, mas com dano regular. Possuem alta capacidade de movimentação e podem ser posicionados em locais estratégicos, já que reagem à ação inimiga com tiros.
  • Shocktrooper: basicamente a tropa de choque, cujo arsenal conta com metralhadoras e submetralhadoras. Sua resistência a danos é a maior do jogo, mas, em contrapartida, não possuem movimentação tão ampla. Também contra-atacam ao avistarem ação inimiga.
  • Lancer: combatentes que carregam armamentos pesados anti-tanques, cujos disparos lembram um lança-foguetes. De longe a unidade mais agressiva do jogo, mas servem muito mais para derrubar tanques e abrir caminho entre unidades agrupadas. Devido ao tipo de arma que portam, os Lancers não podem reagir à ação inimiga e ficam expostos facilmente durante o turno do adversário.
  • Engineers: aqueles que consertam tanques, desarmam minas terrestres e providenciam munição para o esquadrão. Os Engineers (engenheiros) não aguentam tantos tiros e nem mesmo possuem uma barra de vida tão alta, mas portam o rifle de médio alcance e são dotados de uma capacidade de movimentação alta. Também contra-atacam inimigos.
  • Sniper: soldados que atacam a longas distâncias. Os snipers tem barras de movimentação bem curtas, além de baixo nível de saúde e resistência contra danos. Como a própria descrição da classe já dá a entender, esta unidade deve ser usada fora da linha de fogo. Também não reagem à ação inimiga.
Habilidades em ação

Fora as diferenças atribuídas a cada classe, os personagens também são acompanhados de habilidades únicas que podem dar vantagens ou desvantagens aos mesmos. Por exemplo, certos membros têm a chance de atacar com tiros sem chances de esquiva, enquanto outros possuem vantagens nos danos causados quando estão em ambientes naturais. Quando posicionados próximos uns dos outros e possuírem a funcionalidade de contra-ataque, companheiros também podem atacar inimigos simultaneamente.

Gerencie bem seu esquadrão

É preciso criar uma boa estratégia com todas as classes disponíveis em Valkyria Chronicles, já que cada batalha possui um número limite de unidades – diferente de acordo com o contexto – possíveis de colocar em campo. Fora isso, uma vez que um soldado é derrubado em ação, é necessário que alguém se aproxime do mesmo para resgatá-lo em até três turnos. Caso contrário, sua morte será permanente – exceto personagens importantes no enredo -, e os falecidos não podem ser reutilizados após o conflito. De qualquer forma, existem vários reservas disponíveis para posicionamento no esquadrão.

Treinando seu esquadrão

Ao final de cada batalha, o jogador recebe pontos de experiência e de upgrade para utilizar no Campo de Treinamento e no Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento, respectivamente. O primeiro serve para elevar o nível das classes de suas unidades, além de liberar novas Ordens que funcionam como vantagens e ataques exclusivos durante a batalha. Já o Depto. de P & D é onde melhoramos nosso arsenal de armas e seus atributos diversos como dano e precisão no tiro, e também partes opcionais do tanque Edelweiss – além de sua couraça.

Conteúdo imenso

Cenários extras

Além da excelente história existente em Valkyria Chronicles, a versão de Switch acompanha todo o conteúdo extra lançado na época do PS3, como cenários extras e batalhas jogáveis alheias à história, com enredo contado do ponto de vista imperial, além de um modo Challenge. E mesmo assim, o Skirmish contém um grande número de cenários adicionais para jogar, expandindo ainda mais a durabilidade e o tempo de gameplay. O enredo em si leva cerca de 30 horas para ser finalizado, contando com um final incrível e a possibilidade de um New Game + para jogar todas as missões do modo história novamente.

Obviamente, se você se importar com os eventos contados em Valkyria Chronicles – o que é difícil não acontecer – o tempo aumenta ainda mais por conta das várias cutscenes existentes. Uma pena não terem feito sequer legendas em português para esta versão atualizada, mas pelo menos os diálogos não exigem um nível avançado de inglês para o entendimento. No pior dos casos, há a opção do espanhol como idioma. Se ficar confuso quanto à história e quiser entender melhor sobre o que está acontecendo, Valkyria Chronicles disponibiliza uma seção de glossário e outra de personagens, que funcionam como uma enciclopédia bem detalhada sobre todos os aspectos do jogo.

O que podia melhorar

Posicionando unidades

Nem tudo é perfeito em Valkyria Chronicles, ainda mais por se tratar do primeiro jogo da série. É um pouco decepcionante a versão remasterizada não acompanhar o recurso de aceleração de turno – o fast forward -, que se fez presente no quarto jogo da série, algo que muda completamente o ritmo das batalhas. Não é tão grave a ausência desta funcionalidade, mas chega a cansar quando inimigos tem muitos pontos de ação, pois deixam os turnos bem cansativos. A versão de Switch também não é funciona em 60 fps como no PS4, o que também não é crítico, mas é notável a fluidez no console da concorrência.

Além disso, é um pouco frustrante alguns deslizes de game design do jogo de forma geral. Não é possível abrir novamente o mapa completo quando estamos controlando um personagem, o que impede de visualizar qualquer escada ou algo do tipo que esteja próximo, mas não ao alcance do minimapa localizado no canto inferior esquerdo. Também não podemos curar nossos companheiros, sendo necessário cada personagem utilizar seu próprio item de cura em seu respectivo turno. A imprecisão dos tiros chega a ser ridícula muitas vezes por fazer o combatente errar mesmo estando cara-a-cara com o adversário, o que faz com que você fique com raiva e queira “burlar” o sistema criando um save e carregando a partir daquele ponto até acertar.

Por fim, o jogador não é recompensado exatamente por sua performance ou quantos membros da equipe conseguiu manter vivo em batalhas, mas sim por causa de sua velocidade em encerrar o conflito. Ou seja, quanto mais rápido você cumprir o objetivo, maior seu ranking e experiência adquirida. Injusto? Um pouco. Pois isso nos obriga a agir de forma menos estratégica e, indiretamente, alimenta o vício de save e loading constante – o que seria melhor com comandos semelhantes ao save state de emuladores. Ah, também pode esquecer se quiser reiniciar uma batalha, pois não há esta opção: é necessário perder propositalmente para tal coisa acontecer.

Mesmo com alguns tropeços, é uma obra-prima

Valkyria Chronicles tem estes problemas citados acima, mas mesmo assim consegue ser um excelente jogo de ação e estratégia com elementos de RPG. O gerenciamento de seu esquadrão, a evolução de atributos e a jogabilidade estratégica com turnos é extremamente bem feita, mesmo sendo o primeiro jogo da série.

Ao mesmo tempo, alguns elementos essenciais para o gênero só vieram nos títulos a seguir, mas nada que invalide a importância daquele que deu origem a tudo isso. Se você gosta de uma história cativante e uma narrativa muito bem feita, Valkyria Chronicles é um prato mais do que cheio e se faz muito necessário em sua biblioteca do Nintendo Switch. Se é alguém do tipo que curte animes e mangás, com certeza a história de Welkin e Alicia será algo mais marcante ainda.

Cópia de Switch cedida pelos produtores

Revisão: Kiefer Kawakami