Sendo um dos jogos mais antecipados da Paradox Studios, Victoria 3 finalmente fez a sua estreia no último dia 25 de outubro. Dessa vez, a clássica franquia de estratégia coloca o jogador no controle de uma nação no século XIX, mais especificamente entre os anos de 1836 a 1936. O objetivo, como sempre, é desenvolver o país escolhido e o tornar a primeira potência mundial. Contudo, será que a execução ocorre como planejado?
Desenvolvimento: Paradox Development Studio
Distribuição: Paradox Interactive
Jogadores: 1 (local) e 1-32 (online)
Gênero: Simulação, Estratégia
Classificação: 14 anos
Português: Legendas e interface
Plataformas: PC
Duração: 23,5 horas (campanha)
Moldando um amanhã grandioso
“O ano é 1836. José Joaquín Prieto é General do país Chile. A Revolução Industrial está a todo vapor e traz mudanças sociais impactantes com ela. Já se passaram mais de 20 anos desde que o Congresso de Viena instituiu um esboço de ordem na Europa, mas as inquietações começam a surgir outra vez nas Superpotências. Agora, cabe a você guiar o país Chile à glória ao longo do próximo século.”
Com uma introdução-contexto nos situando sobre a condição sócio-política do Estado selecionado, Victoria 3 tem seu início. Escolhendo o modo de tutorial, o Chile aparece como um dos países recomendados para que possamos aprender sobre as mecânicas que permeiam o título ao passo que avançamos pelos anos rumo ao pleno desenvolvimento. Não gosta do Chile? Não se preocupe: mesmo que alguns países possuam níveis diferentes de dificuldade, somos livres para iniciar com qualquer outro.
No decorrer da gameplay, fica óbvio o intuito dos desenvolvedores e do propósito do jogo: Victoria 3 não é sobre reviver a história. É sobre criá-la. Primeiro, porque essa sempre foi a premissa da franquia e desse nicho do gênero de estratégia. Segundo, porque a carência de eventos verossímeis às suas contrapartes da vida real são um balde de água fria para quem esperava por isso.
Não me entenda mal, eles não são inexistentes. A erupção do Krakatoa, por exemplo, possui uma ocorrência, mas ela não se dá em 1883. A data é aleatória. Levando isso tudo em consideração, é difícil defender essa decisão de level design. Após surfar no hype da Era Vitoriana e invocar do público consumidor um apelo histórico, era de se esperar que Victoria 3 tivesse um mínimo de… bem, história.
Então, apesar de não possuir eventos históricos, pelo menos os eventos fictícios são impactantes na jogabilidade, certo? Errado. Os momentos que mais geram eventos aleatórios são os períodos de tempo nos quais alguma lei está em processo de promulgação. Assim, quando finalmente tomamos decisões neles, as consequências são resumidas a acelerar ou diminuir a velocidade desse processo. Simples assim.
Um Brasil ditatorial-parlamentarista é completamente possível
Falando sobre as mecânicas do jogo em si, é válido mencionar que os detalhes que serão tratados a seguir refletem somente sobre os aspectos mais importantes, dado que nem o próprio tutorial do jogo explica todas as minuciosidades por completo, devido a sua quantidade e complexidade.
Isto dito, saiba que, em Victoria 3, não há uma única maneira de “vencer” as partidas. Na tela principal, antes de um novo save, os jogadores podem escolher dentre cinco modos de jogo: Aprenda o Jogo, Domínio Econômico, Hegemonia, Sociedade Igualitária e Sandbox. À exceção do primeiro e do último, cada um desses modos representa um objetivo primário a ser alcançado após os 100 anos de gameplay. Contudo, a decisão final é sua. Gostaria de conduzir um Brasil monárquico e industrializado? Ou prefere a ironia de uma Grã-Bretanha ditatorial e de religião predominantemente católica? O limite é a sua imaginação.
Para o desenvolvimento das nações, vários indicativos precisam ser observados para garantir o pleno funcionamento da máquina pública. No canto superior da tela, quatro conceitos principais estão dispostos: Burocracia, Autoridade, Influência e Dinheiro.
Burocracia é um artifício utilizado para manter a coesão administrativa e realizar operações cotidianas no país. Normalmente, ela é usada na administração de Comandantes e Rotas Comerciais; Autoridade é um indicador mais relacionado à sociedade, utilizado como uma espécie de moeda para efetuar mudanças internas no país, como na emissão de decretos ou na gerência de Grupos de Interesse; a Influência é usada em Ações Diplomáticas e Pactos com outros países e, por fim, o Dinheiro, que é o principal motor do jogo.
Sobra mecânica, falta desenvolvimento
Aqui, tudo gira em torno do Dinheiro. Manter um fluxo de caixa positivo é o maior desafio do Victoria 3, dado que seu gerenciamento é extremamente complexo justamente por ser uma representação tão fiel à realidade. Dessa forma, conceitos como oferta e demanda de produtos nos mercados internos e externos, inflação, carga tributária e até leis aprovadas pelo governo interferem diretamente em seu planejamento final. Por exemplo, seu sistema econômico é tradicionalista, intervencionista ou alinhado ao Laissez-Faire (Expressão utilizada para identificar um modelo político e econômico de não-intervenção estatal)? A forma de tributação é per capita, baseada em terras ou no consumo? O trabalho escravo é permitido? Os controles migratórios são rígidos? Tudo isso, além de poder ser manejado, tem influência direta no jogo.
Contudo, ainda que várias opções sejam apresentadas, o resultado final beira o deprimente. O ciclo organizacional pode facilmente ser lido como: “verificação de necessidade > construção do meio de produção > nova demanda surge”. E, assim, esse modus operandi pode ser seguido até 1936. Ainda que, como mencionado anteriormente, diversos pormenores afetem o cenário geral, o limite de velocidade dessa produção é o dinheiro, mas quando se compreende esse procedimento, o jogo perde seu fator de imprevisibilidade. Basta esperar alguns anos para que o seu caixa esteja novamente positivo.
Falando brevemente sobre o sistema militar, esse não chega sequer a possuir muitas opções de jogabilidade. As figuras do Generais são os responsáveis pela mobilização das tropas do país e do comando das movimentações. Pela aba de Diplomacia, conseguimos declarar interesse nas regiões-alvos e iniciar os confrontos. Contudo, além de duas únicas possibilidades de estratégia, avanço e defesa de front, as guerras são ganhas praticamente por quem está em maior número. Portanto, se o seu país já não tiver naturalmente um exército numeroso, desista das guerras. Conseguir um aumento no número de tropas é caro, demorado e não vale o esforço.
Um século perdido
“Vasto como um oceano e profundo como um píer” é uma frase encontrada em uma das reviews de usuário disponíveis na seção da Steam e, talvez, o melhor resumo para essa conclusão. Ainda que os gráficos e a trilha sonora de Victoria 3 sejam extremamente bem trabalhados, todos os outros quesitos ainda carecem de um melhor desenvolvimento e aprofundamento. A dúvida é: será que a empresa está disposta a continuar com o investimento?
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Ailton Bueno Dantas