Watch Dogs: Legion é o terceiro título da franquia, e leva as aventuras do Dedsec para Londres, capital da Grã-Bretanha. O título da Ubisoft peca pela repetição de objetivos, mas compensa com uma boa história e temas atuais em uma jornada divertida que mistura porrada, tiroteios e hacks.
Desenvolvimento: Ubisoft
Distribuição: Ubisoft
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação e Aventura
Classificação: 18 anos
Português: Dublagem, legendas e interface
Plataformas: PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X/S e PC
Duração: 17 horas (campanha)/ 47 horas (100%)
Londres chama
Watch Dogs: Legion é situado em Londres, em um futuro não muito distante em que a tecnologia está cada vez mais presente em todos os aspectos da vida das pessoas. Quando atentados à bomba explodem na capital inglesa, o grupo de “hacktivistas” Dedsec é acusado de terrorismo. O jogador, no entanto, sabendo que os ataques foram orquestrados pelo grupo Zero-Day, deve recrutar agentes para o Dedsec e descobrir formas de limpar o nome da equipe.
A partir dos atentados, Londres é tomada pela empresa de segurança privada Albion, de Nigel Cass, um líder inescrupuloso que usa da força bruta para manter a cidade sob controle. Toques de recolher e vistorias dos cidadãos pelos soldados da Albion se tornam comuns na cidade, oprimindo aqueles que não concordam com o uso de força excessiva nas abordagens que sofrem.
O papel do jogador em Legion é liberar Londres das mãos da Albion, acendendo a chama dentro de cada cidadão para criar uma resistência. Qualquer um pode se juntar ao Dedsec e lutar pela liberdade. Basta querer. Em geral, Watch Dogs: Legion é muito competente em sua história, dividindo-se em capítulos com tramas mais contidas que se conectam de maneira interessante em uma trama geral. Há uma boa dose de reviravoltas e mistérios intrigantes que incentivam o jogador a seguir buscando a verdade sobre o Zero-Day, a Albion e os diversos personagens que fazem frente ao Dedsec.
A falha maior de Legion está no fato de o jogo não contar com um protagonista totalmente realizado, desenvolvido e inserido de forma completa e pessoal à trama. O jogador pode recrutar qualquer cidadão londrino para o Dedsec e, consequentemente, transformá-lo em “protagonista”. Entretanto, não há uma “motivação pessoal”, pelo menos não por parte dos personagens controlados pelo jogador.
Um jogo extremamente atual
Um dos pontos mais fortes de Watch Dogs: Legion está em seu roteiro contextualizado de forma bastante atual. O título da Ubisoft faz um paralelo inteligente com o cenário político moderno de países cuja a chamada “onda conservadora de direita” mostrou força nos últimos anos, especialmente Estados Unidos da América e Inglaterra.
Watch Dogs: Legion se coloca nitidamente como crítico à ideologias fascistas e militaristas, tendo como porta-voz de seu posicionamento político um dos podcasts nas rádios clandestinas do jogo, The Buccaneer. A linguagem utilizada pelo podcast é clara, de fácil acesso a qualquer ouvinte/jogador e contextualiza muito bem o mundo de Legion ao mesmo tempo que se mostra completamente relacionável com o mundo atual. Temas como escravidão, racismo e xenofobia são recorrentes na Londres de Legion, e o jogo não se esconde de mostrá-los como algo presente em uma sociedade cuja parcela branca elitista se acha superior a todos.
Outro podcast presente no jogo é o The Bug, cujas críticas tecidas são direcionadas ao avanço tecnológico desenfreado e à falta de privacidade de um mundo em que há câmeras por todos os lados.
Seja a resistência
Watch Dogs: Legion traz um conceito muito interessante para a franquia. A premissa principal sobre a qual o jogo foi desenvolvido é de que o jogador pode recrutar absolutamente qualquer NPC (personagem não-jogável) disponível pelas ruas de Londres. Por mais incrível que pareça, o conceito ganhou vida e se mostrou funcional, embora não sem falhas.
O jogador pode segurar LB (no Xbox) e perfilar qualquer pessoa na rua para saber suas potencialidades e suas fraquezas. Todas as características dos potenciais recrutas são geradas proceduralmente, o que amplia muito as possibilidades do jogador na hora de concluir missões, podendo optar por agentes cujo forte sejam abordagens furtivas, como funcionários de obras e policiais, ou mesmo partir para o “modo Rambo” com assassinos profissionais. Ter um médico na equipe faz o tempo de recuperação de agentes feridos menor, assim como ter um advogado torna o tempo de prisão mais curto.
A variedade de possibilidades é grande, mas é justamente na presença de inúmeros personagens controláveis que Watch Dogs: Legion tropeça. A personalização de equipamentos um tanto quanto limitada no que concerne armas. Em missões mais avançadas, é nítida a vantagem de agentes que utilizam armas com munição letal, sendo mais eficientes que os projéteis de choque não-letais priorizados pelo Dedsec. Além disso, é possível utilizar robôs-aranha para cumprir grande parte dos objetivos de maneira simples, sem oferecer praticamente nenhum perigo/desafio para o jogador. Por que optar por passar raiva se é possível se esgueirar para cima e para baixo com o robôzinho? Não há falta de incentivo na experimentação de estratégias, mas uma delas é nitidamente mais eficaz do que as outras.
A falta de foco em um protagonista fixo, mencionada no tópico anterior, também é fruto desse “recrutamento infinito” de Legion, o que afeta, particularmente falando, o envolvimento do personagem na trama. Além disso, a Ubisoft precisou se atentar a ter vozes diferentes o suficiente para o alto número de personagens. Para evitar vozes se repetindo constantemente, a desenvolvedora optou por alterar digitalmente o tom de voz das vozes dubladas, afinal de contas é impossível ter atores suficiente para dublar a infinidade de pessoas geradas proceduralmente pelo jogo.
O resultado dessas alterações são vozes estridentes aqui e acolá, graças à ênfase em tonalidades agudas; e em “Kylo Rens” para cima e para baixo, com vozes em tons baixos acentuados extremamente esquisitos pela alteração digital feita pelos desenvolvedores, que dá a impressão de os personagens estarem usando moduladores de voz assim como o personagem de Star Wars citado.
As missões de recrutamento também são um ponto questionável. Geradas aleatoriamente, elas tendem a se repetir com certa frequência. Embora o jogador tenha o incentivo de ter uma infinidade de membros em sua equipe, chega um momento que a sensação de “já é o suficiente” se faz presente, graças aos constantes objetivos repetidos.
Liberando Londres
Watch Dogs: Legion oferece diversas atividades para o jogador. O jogo conta com uma quantidade específica de distritos, que podem ser liberados ao enfraquecer a presença da Albion dentro deles e concluir a missão de liberação. Essas missões são curtas, porém criativas, enfatizando aspectos característicos da franquia ao colocar o jogador para cumpri-las utilizando hacks diversos, como em robôs-aranha ou drones de ataque, contraterrorismo e antimotim.
Infelizmente, o jogador acaba indo e vindo aos mesmos locais constantemente, especialmente se estiver cumprindo missões secundárias e de recrutamento em alternância com as missões da história. Mais uma vez, a repetição se mostra o “calcanhar de Aquiles” de Watch Dogs: Legion. O jogo tenta incrementar a lista de atividades com entregas de pacote e minigames de embaixadinha e jogo de dardos mas, no geral, são passatempos dispensáveis.
Cumprir missões e concluir atividades pelo mundo de Watch Dogs: Legion concede pontos de tecnologia, que podem ser utilizados na compra e melhoria de novos dispositivos e hacks. Há desde armas de choque, como pistola, lança-granadas e escopeta, até dispositivos de camuflagem de inimigos abatidos e drones armados com projéteis não-letais; e também hacks de torretas e drones inimigos, com melhorias que permitem que o jogador os invada e os controle manualmente, ou mesmo os faça trair os inimigos.
Um jogo intergeracional
Watch Dogs: Legion foi desenvolvido de maneira cross-gen. Ou seja, tem versões para PS4 e Xbox One, mas também para PS5 e Xbox Series S|X com melhorias diversas. A geração atual de consoles se mostrou um desafio para os desenvolvedores de Legion. O jogo é ambicioso, com uma cidade de Londres repleta de vida. NPCs para todo o lado, carros e drones dividindo espaço pelas ruas e uma riqueza de detalhes absurda na composição dos cenários e locais da capital britânica.
Toda essa riqueza visual vem com um custo, ao menos no Xbox One X: a presença de screen tearing graças às quedas constantes de quadros por segundo. Essas quedas ocorrem principalmente ao dirigir pela cidade e em momentos de tiroteios frenéticos com muitos inimigos, sendo eles humanos e drones.
Watch Dogs: Legion é um jogo que vai passar batido por muitos. Particularmente, acredito que muito do “preconceito” com a franquia vem por conta de críticas pessoais de cada um em relação a sua produtora, Ubisoft. Muitos taxam os jogos da série como “genéricos”, mas esquecem de que, no que concerne jogos de mundo-aberto, eles se destacam por suas mecânicas de hacks, que são implementadas na exploração, no combate e na resolução de quebra-cabeças. Legion é rico nesse aspecto e, em conjunto com sua trama principal e roteiro inteligente, se mostra um jogo bastante atual, bonito e divertido. Repetitivo, sim, mas os pontos positivos compensam essa repetitividade.
Esta review foi feita com uma cópia de Xbox One cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong