Wolfstride é um RPG de turnos sobre lutas de Megazords que, felizmente, não tem os queridos Power Rangers. No lugar deles, temos um “trio parada dura” que se envolve em altas confusões para conseguir dinheiro e sobreviver. Qual foi a melhor forma de fazer isso? Lutando contra outros mechas. Como eles conseguem? Nem eles sabem. Como tudo termina? Com muita lataria destruída, uns parafusos a menos e, às vezes, um bolo de dinheiro. Enquanto isso, você dá umas risadas e se diverte com a situação deles e suas trapalhadas.
Desenvolvimento: OTA IMON Studios
Distribuição: Raw Fury
Jogadores: 1 (local)
Gênero: RPG, Estratégia, Luta
Classificação: 18 anos
Português: Legenda e interface
Plataformas: PC, Switch
Duração: 15 horas (campanha)/25 horas (100%)
Dias de luta, dias de muita aleatoriedade
Embora seja muito divertido e descolado, Wolfstride tem um jeito agressivo de se comunicar com quem joga. Já de início, uma misteriosa garota lhe dá as boas-vindas te chamando de lixo, e isso não é só para chamar a atenção. Durante todo o percurso da narrativa, entre um capítulo e outro, as ofensas não param, mas isso não deixa de ser uma situação engraçada.
Essa marra da personagem é simplória, mas introduz bem todo o espírito do mundo de Wolfstride. O underground e as vidas complicadas existentes ali são um poço de arrependimentos a serem refletidos durante a narrativa, Dominique Shade, um ex-yakuza e protagonista, é o melhor exemplo disso. Como somos o “empresário”, temos que conseguir dinheiro e fazer uns “corres” para isso. Porém, nos envolvemos em histórias e situações que trazem o passado à tona, o que transforma a história em um mar de momentos reflexivos.
Além de Shade, temos o mecânico Duque e o piloto Knife Leopard. Ambos não se diferenciam muito do protagonista, contudo, suas personalidades são facilmente as coisas mais divertidas que existem pois provocam o ar de impaciência de Shade o tempo todo. O trio é o “suco da derrota” e, o que antes era uma busca por dinheiro, agora torna-se uma subida árdua para serem o melhor mecha do mundo, enfrentando robôs gigantes na arena e problemas pessoais ainda maiores no dia a dia. Porém, Wolfstride não é só drama, e os diálogos são extremamente divertidos, ainda que às vezes sejam enormes, trazendo um ar de visual novel.
Trabalhando para lutar
Por incrível que pareça, não é só de lutas de mechas e apostas que os protagonistas sobrevivem. Em Wolfstride precisamos trabalhar para conseguir uma grana e consertar o nosso mecha chamado Cowboy. No entanto, diferente da vida real, os trabalhos são divertidos porque são minigames com ranques. O dinheiro ganho é congruente com a pontuação alcançada em um limite de tempo.
No geral, os minigames são muito divertidos e conseguem dar uma bela animada na jogatina, mas eles são poucos. O primeiro e mais recorrente é o de entregar mercadorias com uma bicicleta, mas, para isso, é necessário evitar vários obstáculos. Repetí-los para juntar o máximo de grana e consertar Cowboy foi bem raro, pois o dinheiro ganho com apostas nas lutas sempre era o suficiente. Em contrapartida, o dinheiro compra felicidade e melhorias muito necessárias para o mecha.
Como Knife Leopard é um amador e Cowboy é uma lata velha reparada com alguns durex e parafusos, existe uma série de melhorias de combate que podem ser compradas com um aspirador de pó. Você não ouviu errado: o treinador de Knife Leopard é um aspirador de pó marrento, mas que vende habilidades de combate iradas como atirar com um rifle ou dar uma voadora no adversário – isso porque nem pernas ele tem. Wolfstride é isso: estilo em combate e ideias inusitadas para fazer piadas.
O ponto alto de tudo
Finalmente é possível falar da parte mais interessante de Wolfstride: as lutas. Por mais que sejam o princípio de todo o jogo, elas demoram para acontecer. As duas primeiras lutas são totalmente parte do tutorial e servem apenas para te mostrar como o combate entre latarias é brutal. Porém, depois é tudo por sua conta, sendo requisitado um estudo para vencer seus oponentes.
Como muitos RPG táticos, aqui temos Pontos de Ação (AP) e de Movimento (MP). Caso queira atacar, se defender ou utilizar alguma ação, será consumido um AP. Por outro lado, ao se movimentar na arena representada por retângulos no inferior da tela, os MPs são consumidos.
O diferencial aqui é a ausência de uma barra de vida principal, pois cada mecha detém quatro pontos corporais que podem ser destruídos. Se qualquer um deles chegar ao zero, funções podem ser perdidas. Com a cabeça arruinada não é possível mirar ao atacar, por exemplo. No entanto, ter o peitoral arruinado é fim de luta, mas também é o local com mais defesa.
Por fim, existem as magias, mas não há poderes mágicos. Elas estão mais para feitiços mecânicos que, ao chegar no limite de fúria, é possibilitado “reviver” ou consertar uma parte arruinada. Essas habilidades mecânicas podem ser conseguidas com melhorias no Hangar.
Ainda que demorem para chegar e tenham todo um preparo, as lutas de mechas em Wolfstride são bem divertidas e precisam de uma bela estratégia. Antes da luta é recomendado saber os pontos fracos do inimigo, as habilidades que devem ser equipadas e tudo mais. Desta forma, a customização é extremamente importante, mas, mesmo com as melhores escolhas, as lutas podem demorar bastante se não souber como combater o seu rival. Isso torna o ar de vitória uma maravilha por conta da animação do time e o entrosamento entre eles.
Estilo para poucos
Além das lutas, outro ponto alto de Wolfstride é sua arte incrível que dá um charme estiloso para o game. A paleta de cores se sustenta nas distintas tonalidades de cinza, preto e branco. Os personagens, na hora de se movimentar por aí, seguem o padrão pixel art. Porém, durante as conversas, menus e cinemáticas tudo parece Visual Novel, com cada personagem recebendo atenção especial por seus detalhes. De tudo que já joguei, Wolfstride tem uma estética visual estilosa e única, coisa que me atraiu facilmente.
Em conjunto com esse charme visual, a trilha sonora arrebenta. Wolfstride traz faixas de rock pesado nas lutas e, na maioria das vezes, um jazz bem calmo dependendo dos locais que visitamos na Rain City. Por falar nela, há sempre os mesmos locais para visitarmos, mas ocasionalmente ocorrem alterações do cenário. Podemos selecionar o local que queremos ir e depois andar por ele procurando o que fazer. Andar, infelizmente, é um sinônimo de Wolfistride. Sempre temos que ficar correndo até o local de interesse ao invés de só irmos direto para ele ao clicar no mapa.
Gostosinho no azeite
Wolfstride representa os passos de um lobo em uma estrada asfaltada lisinha, fazendo do game uma experiência fluída e gostosa de se acompanhar. De tudo que existe na indústria, o título tem seu próprio estilo e sua forma de contar a história dessa trupe atrapalhada. Porém, ainda há alguns tropeços que podem deixar toda jogatina um pouco tediosa. No entanto, Wolfstride coloca tudo lá para o alto com lutas iradas e que trazem o ar da graça para o game no geral.
Cópia de Switch cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong