Yakuza Zero é o retorno da série em grande estilo, trazendo eventos que se passam antes do primeiro jogo da franquia, do longínquo ano de 2006 (no ocidente), na época de ouro do PlayStation 2. Meu primeiro contato com a série trouxe expectativas que foram até mesmo superadas, já que eu esperava algo como um GTA San Andreas – o que era impulsionado pelo marketing ocidenta – e acabei recebendo uma obra muito mais centrada em história e narrativa. Em Yakuza Zero descobrimos como tudo começou na vida do protagonista Kazuma Kiryu e sua relação com o grupo criminoso japonês.
Desenvolvimento: Ryu Ga Gotoku Studio, SEGA
Distribuição: SEGA
Jogadores: 1-2 (local)
Gênero: Aventura, RPG, Luta, Ação
Classificação: 18 anos
Português: Não
Plataformas: PC, PS4 e Xbox One
Duração: 31 horas (campanha)/138 horas (100%)
Kazuma Kiryu e Majima Goro
A história de Yakuza Zero antecede 7 anos o primeiro jogo da série e se passa na década de 80, na maior parte do tempo no distrito fictício de Kamurocho, uma representação da cidade de Kabukicho, localizada em Shinjuku (centro comercial e muito movimentado de Tokyo). No início dos anos 2000 – no mundo real -, Kabukicho ficou bastante conhecida por sofrer fortes influências da máfia japonesa, Yakuza, o que vai ao encontro do lançamento do primeiro jogo da série em 2006 para PS2.
Yakuza Zero recebe o jogador com a trajetória do icônico Kazuma Kiryu ao tentar deixar a família Dojima, da Yakuza, logo após uma cobrança de dívida que acabou em assassinato, com a culpa sendo colocada em Kiryu. Mas sua decisão não é tão fácil assim, já que ele precisa enfrentar alguns líderes do grupo criminoso para poder viver novamente como um civil na sociedade. Por outro lado, também vivemos a história de origem do interessantíssimo Majima Goro, responsável pelo gerenciamento de um dos cabarés (Grand) mais famosos do distrito de Sotenbori, que luta constantemente contra a concorrência além de também possuir um passado com a Yakuza. Entre idas e vindas dos capítulos da história, é comum que o jogo alterne entre um personagem e outro e nos faça conhecer um pouco mais de cada um.
Como pano de fundo, Yakuza Zero apresenta uma rixa entre mafiosos para tomar conta de um lote, algo importante no quesito “controle de territórios”. Com isso, presenciamos várias brigas entre a famigerada Tachibana Real Estate (imobiliária), grupo no qual Kiryu acaba ingressando, e membros da Yakuza que estão interessados em conquistar o local.
Aproveite a história
Para aproveitar ao máximo a experiência que Yakuza Zero busca oferecer, é necessário que o jogador seja do tipo que tem apreço pela história, o que nem de longe é meu caso, mas confesso que foi um dos únicos games que realmente parei para ler todos os diálogos e assistir todas as cutscenes por conta de sua excelente narrativa. Isso é uma faca de dois gumes, já que é bem grande o tempo que o jogador passa assistindo cenas extremamente longas e lendo linhas de textos.
Mesmo assim, a maioria das cenas são bastante intrigantes, humanas e, principalmente, de fortes emoções. É difícil não sentir que são pessoas reais existentes ali, por mais que os gráficos não sejam tão realistas e deixem a desejar em suas animações. Alguns personagens, em específico, provavelmente arrancarão uma lágrima ou deixarão o coração aflito, mesmo da pessoa mais insensível. Kiryu e Majima Goro também não ficam para trás, e ambos possuem fortes personalidades e um grande senso de justiça, o que é engraçado dado o envolvimento de ambos com a máfia.
Yakuza também é um produto bastante cultural e que traz vários elementos do país em que se passa. Isso tudo pode ser observado principalmente optando pela dublagem japonesa, deixando mais nítidos alguns trejeitos, formas e ritmos da fala, além da ambientação icônica do distrito de Kamurocho e Sotenbori. O jogo também sempre explorou bastante o bom humor, na maioria das vezes relacionando isso diretamente com momentos de violência, além de aliar tudo a coisas bizarras e engraçadíssimas que só conseguimos encontrar em produtos japoneses. Acostume-se, Yakuza como franquia é uma loucura, e muitas vezes não se leva a sério.
Beat ‘em up 3D
A jogabilidade de Yakuza Zero se mantém bem parecida com a dos outros títulos, com seu estilo de mundo aberto contido, recheado de missões secundárias, atividades descontraídas e muitas mecânicas de Beat ‘em Up com formas de melhorias do personagem.
Com um estilo focado bastante em briga de rua, as mecânicas de luta seguem um estilo “esmaga botão”, sem deixar de lado o fator esquiva e defesa, testando a habilidade do jogador em ser ágil o suficiente para acertar golpes nos inimigos e escapar do contra ataque. Sem deixar a loucura de lado, os protagonistas aprendem novos estilos de luta simplesmente observando alguém o realizando, o que chega a ser ridículo, mas não deixa de encaixar contextualmente na história.
Ambos os protagonistas possuem três estilos principais de luta cada – liberados conforme decorrer da história -, sendo Kiryu capaz de alternar entre Brawler, um estilo mais padrão com balanceamento entre agilidade e força; Rush, capaz de desferir golpes rápidos e esquivas ágeis, com a consequência de ser menos potente no dano; e Beast, um estilo mais focado em derrubar grupos de inimigos utilizando objetos do cenário. Goro, por sua vez, possui o estilo inicial Thugh, tendo um balanceamento similar ao Brawler de Kiryu, mas com a possibilidade de agarrões; Breaker, que possui técnicas de break dance, giros malucos no chão com a cabeça e golpes giratórios com os pés; e Slugger, uma forma de luta que faz uso de um taco de baseball.
Secretamente, também podemos liberar o quarto estilo de cada personagem após cumprir algumas exigências. Kiryu possui um estilo chamado “O Dragão de Dojima”, e Majima Goro libera o seu “O Cachorro Louco de Shimano”, um estilo ágil que faz o uso de uma adaga.
Além disso, é possível realizar upgrades individualmente em cada um dos estilos desbloqueados, que vai influenciar na eficácia dos golpes e no aumento de saúde do personagem, além de novos movimentos. Isso é feito utilizando o dinheiro do jogo, algo facilmente adquirido em lutas aleatórias nas ruas do distrito ou naturalmente através dos confrontos existentes no enredo.
Segundo plano com muita qualidade
Se tem algo em que Yakuza foi muito bom, certamente é seu lado secundário. Em Yakuza Zero não é diferente, pois existem várias formas de passar o tempo enquanto se ganha dinheiro, imerge um pouco mais na cultura japonesa e até mesmo em fatores importantes da época ambientada, mas principalmente descobre histórias interessantíssimas. São cerca de 100 missões secundárias existentes, somando as disponíveis na história de Kazuma Kiryu e Majima Goro.
Destaque para o momento que experienciei, em que um rapaz entre becos vendendo cogumelos especiais deu margem à interpretações dúbias, mas que no fim das contas estava apenas vendendo, literalmente, cogumelos. Ou então vivemos cenas em que um garotinho tem seu videogame roubado, depois outro ladrão rouba deste primeiro e então outro rouba do segundo, até que a história acaba apresentando um desfecho bem engraçado e inesperado.
Como se não bastasse, somos convidados a substituir um ator em uma série de TV, ou confrontar a responsável por um esquema de tráfico local de roupas íntimas femininas. Não é algo comum encontrar esse tipo de investimento de tempo em missões que não fazem parte da história principal, e de fato você percebe que rápidas tarefas não estão ali apenas para cumprir tabela, mas sim para cativar o jogador e fazê-lo querer sempre revisitar o mundo de Yakuza para conhecer o que existe fora da história principal.
E não para por aí, ainda há atividades secundárias bastante diversificadas. São várias as formas de distrações em Yakuza Zero, como jogar em máquinas de arcade da SEGA, tentativa e erro na máquina de garra com brindes, ir a um local para dirigir carrinhos de controle remoto em uma pista de corrida – com direito à personalização de peças, baterias e afins -, um bar com sinuca, uma pista de boliche, entre outros passatempos.
Outras mecânicas secundárias bastante interessantes são a de compra e gerenciamento de estabelecimentos, que permitem a contratação de funcionários e produzem dinheiro de tempos em tempos; e a de gerenciamento de um cabaré, que permite a contratação de garotas, modificação de seus visuais, upgrades de suas habilidades e ranking, e um mini game divertido de atendimento aos clientes.
Por causa de todo este mundo paralelo à história principal, é muito fácil de perceber quanto amor e dedicação foi usado para desenvolver esse mundo secundário dentro de Yakuza Zero. Cada mecânica é bem completa, polida e divertida ao extremo. Facilmente, quem quiser fazer 100% ultrapassará as 100 horas e nem verá o tempo ir embora.
Uma obra emocionante
Yakuza Zero possui mais de cinco horas de cutscenes, no total, um tempo bastante considerável caso você queira assistir todas sem pular a fim de entender a história. Por outro lado, é um primeiro contato perfeito para novatos na franquia, já que basicamente o enredo trata das origens dos personagens. Já em termos de jogabilidade, Yakuza Zero é impecável e aplica elementos de Beat ‘em Up e RPG em conjunto de forma espetacular. O fator replay também não fica para trás, já que existem várias atividades para realizar e muitas substories para explorar. Por fim, também podemos jogar novamente todas as lutas principais da história, as chamadas Climax Battles.
Seja você um fã de longa data de Yakuza ou um recém-chegado, Yakuza Zero é o título perfeito para iniciar sua jornada ao lado de Kazuma Kiryu. É possível ver o carinho e atenção dados pela Ryu Ga Gotoku e SEGA em cada aspecto do jogo, seja na construção de personagens, mundo ou na forma de contar história. Dificilmente encontramos obras tão bem feitas e tão detalhadas como esta.
Cópia de Xbox One cedida pelos produtores
Revisão: Kiefer Kawakami