Samurai Shodown ou Samurai Spirit, como é conhecido no Japão, é um game que nasceu na década de 90 para os arcades com o boom dos jogos de luta na época. Nesta coletânea temos 7 jogos da franquia, sendo 5 deles da sequência numerada e 2 versões “melhoradas”.
Samurai Shodown deixou sua marca no mundo dos games de luta por trazer algumas novidades para a época, como lutas com armas, um bom gore – que jogos com a estética dele não possuíam -, objetos destrutíveis no cenário, barra de poder, zoom in e out nas lutas quando você se aproximava ou se afastava de seu adversário e até companheiros animais que lutavam ao lado de seus donos nas batalhas.
Desenvolvimento: Digital Eclipse
Distribuição: SNK Corporation
Jogadores: 1-2 (local e online)
Gênero: Luta
Classificação: 14 anos
Português: Não
Plataforma: Xbox One, PS4, PC e Switch
Duração: Sem registros
Nostalgia com uma pitada de novidade
A coletânea conta com as versões americanas e japonesas dos games lançados para o arcade. Sendo, assim você pode escolher qual delas prefere jogar. As opções nos jogos em si são bem limitadas, onde se tem apenas o modo arcade e o versus, porém todos os títulos contam com um modo online. Podendo-se jogar partidas ranqueadas, casuais e convidar amigos para um “X1”. Mas infelizmente sem um lobby para mais jogarem em uma mesma sala.
A mudança entre os jogos também é bem simples e prática, rápida e fácil. Não tem loadings demorados, necessidade de ficar saltando entre vários menus ou algo assim. Basta sair do jogo atual que ele já volta para a tela de seleção – uma benção de facilidade.
Nos menus temos algumas opções bem interessantes, como a possibilidade de acessar uma vasta galeria de artworks, vídeo de entrevistas dos criadores dos jogos, vídeo de campeonatos relacionados aos games de Samurai Shodown no Japão, galeria com todas as músicas de cada um dos títulos, resumo da história individual de cada jogo e até ficha técnica dos personagens, tudo separado por categorias.
São muitos extras bacanas para investir um bom tempo conhecendo. O único porém é que não há localização para o português brasileiro
Ao acessarmos os jogos ganhamos algumas opções novas, como mudar o nível de dificuldade e o formato da tela de exibição, deixando ela no aspecto original da época, com direito à borda em formato de um gabinete de arcade que pode ser customizado com várias artes diferentes. Ou então escolher para que a tela se ajuste às TVs modernas, preenchendo a imagem toda com o jogo.
Nesta coletânea temos também uma grande novidade, que é um título inédito: Samurai Shodown V Perfect. Ele só veio ao mundo por meio desta coletânea, já que na época do início do seu desenvolvimento não foi lançado para o Neo Geo, devido à problemas na própria SNK. Principalmente pelo fato de que na época o sexto jogo numerado da franquia já estava em desenvolvimento, o que causou o cancelamento desta última versão de Samurai Shodown V.
De encher os olhos de beleza e o coração de ódio
Certamente que Samurai Shodown tem uma arte linda em seus jogos. Belos sprites, bem detalhados e principalmente grandes! Isso era o ápice da qualidade na década de 90 para os jogos de luta.
Fora os belos modelos de seus personagens, Samurai Shodown conta também com ricos cenários, com um bom detalhamento do ambiente. Seja em cenários que possuem espectadores para as lutas, as paisagens de fundo, os objetos que temos no ambiente, ou o que estiver presente. Tudo é muito bonito em Samurai Shodown desde seu primeiro jogo, chamando atenção para os visuais que são muito bem feitos.
Não só isso, mas também o movimento dos personagens, seus golpes, o encontro das armas quando um ataca e outro defende, tudo é de encher os olhos. Mesmo hoje em dia, você ainda fica impressionado com a qualidade gráfica dos títulos. Imaginem como não foi na época em que foram lançados?!
O tema de um Japão feudal e até mesmo de outros lugares do mundo naquele período foi muito bem representado nas artes dos cenários, já que as lutas não acontecem só na terra do sol nascente. Como um bom jogo feito para arcade, SamSho não poderia ser diferente, e é um tremendo papa ficha! Principalmente os dois primeiros.
Passar o primeiro adversário já é uma vitória e tanto, porque olha… e a tendência, meus amigos, é ir apenas piorando.Se no começo já estava difícil, imagina chegando no final. É torturante cada batalha. Na metade do primeiro jogo eu já estava querendo socar a parede e quebrar meu controle no meio, tacando ele no vídeo game! O ódio veio intensamente.
A inteligência da CPU é daquelas que lê seu pensamento, já sabe o que fazer pra se defender, antes mesmo de você saber o que vai fazer! Frustrante, essa é a palavra que define a dificuldade de Samurai Shodown I e II, nada mais além de frustrante. Pelo menos a partir de Samurai Shodown III a dificuldade ficou um pouco mais equilibrada e você demora mais a passar raiva com o jogo, dá pra ganhar umas lutas no começo sem se descabelar todo de ódio.
Felizmente, para não termos um ataque de nervos – pelo menos não um tão grande -, temos um lindo e salvador (literalmente), save state. Aliás tudo neste jogo funciona com facilidade e praticidade. Salve onde quiser e aí basta dar load que você volta exatamente naquele momento, sem complexidade alguma. Salve no início de cada round se quiser jogar de uma forma mais “justa” – o que já impossível considerando que você está usando um save state, mas realmente, fechar esse jogo sem usá-lo, é só para os ninjas dos games de luta mesmo!
Ou se você for mais desesperado, pode salvar a cada golpe que acertar em seu adversário também, o jogo deixa. Não precisa ficar com vergonha não.
A única coisa que o save state não faz é dar loading em versões diferentes dos jogos. No caso, você jogou e salvou na versão americana e aí quer jogar a versão japonesa para testar, mas quer continuar de onde parou no seu save: sem chances. Os saves e loadings só funcionam em suas versões respectivas. Mas se resolver jogar ambas as versões ao mesmo tempo, ou de repente todos os games também, pode salvar sem medo. Salvar em jogos diferentes ou em suas versões distintas não substitui o save antigo. Seja feliz (ou não) em todos os jogos e suas versões.
A evolução dos samurais
Vamos falar da jogabilidade de Samurai Shodown que, além de sua alta dificuldade, também nos traz uma proposta de não desperdiçar seus movimentos. A alta precisão na execução de um golpe é o caminho da perfeição ou da perdição neste jogo. Qualquer golpe errado, desperdiçado ou mal executado pode lhe custar muito caro.
Jogando contra a máquina você vai aprender na marra a regular seus golpes e esperar os melhores momentos para usá-lo, pois não há outra maneira de vencer. É preciso se aproveitar de cada falha – que são bem raras por sinal – que a inteligência artificial comete contra você, e aí contra-atacar. Se der sorte de pegá-la no vacilo e executar um golpe no momento exato, tenha certeza que será recompensado com um bom dano causado. Isso só prova que a cautela e a paciência são a chave do sucesso em Samurai Shodown.
Enquanto lutamos podemos destruir algumas partes do cenário ou objetos que existem nele para coletarmos ouro, que vale para aumentar nossa pontuação no jogo. Temos ainda alguns itens que aparecem no cenário para nos ajudar ou atrapalhar, depende da perspectiva. Por exemplo: em alguns momentos aparecem comidas no cenário que restauram a vida de quem conseguir pegá-la. Assim como aparecem algumas bombas, que explodem causando dano a quem estiver próximo a ela.
Uma das melhores mecânicas do jogo é a possibilidade de desarmar seu adversário, o deixando vulnerável até que ele consiga recuperar sua arma. Como uma das medidas para equilibrar o jogo, mesmo quando se está perdendo, temos uma barra de fúria que aumenta conforme apanhamos, até que ela comece a piscar loucamente, indicando que podemos fazer um golpe especial que causa um dano alto em nosso adversário. Assim existe a chance de equilibrar a partida.
A única crítica pesada sobre os jogos é que eles possuem uma lista de golpes bem “porquinha”. Daquelas que parece que foi feita pelos estagiários e, pior ainda, pelos estagiários mais preguiçosos. Existem desenhos sem legendas, ou então desenhos em vez das letras que são usadas para configurar os controles. Obviamente que não é muito difícil de decifrar o que os comandos querem dizer, mas a princípio você fica meio “Quê?!”.
Fora que alguns comandos não vem especificados o que são, se representam poderes comuns, golpes especiais, de fúria, etc. Os golpes especiais não possuem descrição das condições que precisam para serem realizados. Menos ainda os comandos básicos aparecem na lista, como pequenos combos, esquivas e afins. Você vai fazendo e descobrindo para o que cada um serve.
O pior é que a descrição de cada jogo no museu conta mais sobre os comandos que podemos executar e suas condições que a própria lista de comando em si. Muitos deles são bem complexos e exigem condições específicas para serem executados, que acabam não listados na lista de comandos. Um modo treino também faz bastante falta nesta coletânea. Para os novatos em SamSho, estes terão de aprender tudo na marra, sem treino ou moleza, vai ter que cair “pro pau” com a CPU e ser o que Deus quiser.
Samurai Shodown (1993)
O início de tudo se dá no ano de 1788, quando Amakusa Tokisada é ressuscitado após fazer um acordo com o demônio Ambrosia. Em seu acordo, Ambrosia daria vida e poder a Amakusa e em troca ele libertaria o demônio no mundo mortal. Quando Amakusa começa a causar o caos na terra, vários guerreiros – movidos por suas próprias razões – são atraídos até a fonte desse caos, seja para detê-lo ou não.
Como sempre temos um primeiro jogo mais travado e menos fluído, o que é comum no início de uma franquia. Samurai Shodown I conta com comandos básicos e outros mais complexos para execução de golpes especiais – os famosos “poderzinhos”. O jogo trouxe uma boa violência, que não era muito comum para obras no estilo de design que Samurai Shodown possuía. O game usa as armas como uma excelente desculpa para trazer um pouco mais de sangue a luta.
Samurai Shodown II (1994)
Continuação direta do primeiro jogo, este se passa no ano seguinte, com Ambrosia sendo trazido de volta ao nosso mundo e à procura de um novo hospedeiro. O terrível demônio toma posse do corpo de uma sacerdotisa chamada Mizuki, buscando se vingar de tudo e todos que o selaram anteriormente.Utilizando e melhorando as mecânicas do primeiro título, Samurai Shodown II, trouxe uma melhoria no desempenho dos personagens, fazendo as batalhas serem mais rápidas e fluidas. E desta vez contava com o comando de golpe de fúria visível em cima de sua barra quando cheia.
Como novidade, o segundo jogo trouxe a esquiva, um ótimo movimento para te salvar de ficar encurralado no canto da tela. O aprimoramento nos gráficos também é bem nítido, com sprites maiores e com cores mais vivas tanto nos personagens quanto nos cenários.
Samurai Shodown III (1995)
Apesar de ser no mesmo ano do primeiro jogo, Samurai Shodown III se passa depois dos acontecimentos com Amakusa e precede o segundo game. Zankuro Minazuki, temido demônio, devastou vários vilarejos no Japão matando muitos inocentes. Causando caos e destruição por onde passa, Zankuro aterroriza o país e, novamente, bravos guerreiros o confrontarão para defender o mundo, incluindo seu filho Shizumaru Hisame.
O terceiro game da série melhorou ainda mais a dinâmica dos golpes nos possibilitando até mesmo a realizar pequenos combos, coisa que era praticamente impossível nos dois anteriores. O esquema de botões também mudou trazendo uma roupagem completamente nova, praticamente um jogo novinho, se não fossem os personagens e o nome já conhecidos.
Agora temos os estilos Slash e Burst, meio que separando a personalidade dos personagens, mostrando que todos podem ter um lado bom e um lado mal. Os estilos compõe variações de golpes novos para cada um, te fazendo experimentar ambos para saber qual agrada mais.
Os gráficos também mudaram um pouco, deixando o jogo mais dark e com mais gore. Fora esses novos estilos, tivemos a chegada de 3 novos modos de luta com os personagens, que serviam como classes, onde cada uma te permitia ter algum atributo. A Beginner te permite bloquear alguns golpes automaticamente, mas diminui seu poder de ataque. Enquanto a Upper Grade te concede uma barra de fúria infinita, porém com a penalidade de não ter defesa. E a Medium Grade, que é meio que o modo normal, sem bônus nem ônus.
Samurai Shodown IV: Amakusa’s Revenge (1996)
A história se passa no mesmo ano de Samurai Shodown 2, 1789. Seus acontecimentos precedem o segundo jogo, mas se passam depois do terceiro. E sim, é meio confusa essa linha do tempo…
Amakusa retorna ao mundo mortal tomando posse de um castelo em Shimabara, que cresce cada dia mais, aumentando seu poder e chamando cada vez mais atenção. Quando Amakusa sequestra Hazuki Kazama para usá-la como fonte de poder para seus planos nefastos, seus irmãos Kazuki e Sogetsu partem para salvá-la.
O castelo também acaba sendo alvo de vários guerreiros que voltam suas atenções ao estranho acontecimento e partem para enfrentar Amakusa.
As mecânicas do terceiro jogo foram mantidas, com mudanças apenas na barra de vida, onde temos duas delas agora em vez de apenas uma. Também ganhamos uma habilidade “suicida”, onde podemos perder um round de propósito para que no próximo comecemos com nossa barra de fúria cheia.
O combate também ficou ainda mais dinâmico e fluído, nos dando maiores possibilidades de combos rápidos. Agora também podemos explodir a barra de fúria, e com isso ganhamos um pequeno tempo onde ela se torna “infinita”, mas após esse tempo acabar não temos mais acesso à esta barra até o final da luta. Com a barra de fúria explodida temos novos e poderosos golpes, que só podem ser acessados neste momento.
Samurai Shodown V
Regressando ainda mais na linha do tempo, o quinto jogo da série se passa no ano de 1786, acontecendo antes de todos os outros. Quando o Japão entra em uma grande recessão, Gaoh inicia uma rebelião contra seu shogun que não fazia nada para salvar seu país do caos. A guerra iniciada chama a atenção de vários guerreiros que escolhem seus lados e se unem à batalha.
Novamente Samurai Shodown abandona seu antigo estilo de jogo, deixando de lado as mecânicas dos estilos Slash e Burst e também reformulando o esquema de botões. Algumas versões Bust dos personagens acabaram se tornando novos guerreiros. Como Nakoruru que teve sua versão Bust transformada em Rera, Kazuki se tornou Enja, Sogetsu se tornou Suija e Haomaru agora era também Rasetsumaru.
Como mecânicas novas temos a Sword Gauge que influencia no dano causado ao adversário, e também a Concentration Gauge que quando ativado deixa seu oponente em slow motion. Curiosidades à parte, o autor de Rurouni Kenshin (Samurai X aqui no Brasil), Nobuhiro Watsuki, teve participação na criação de alguns personagens do jogo. Assim como o mangaka Yasuhiro Nightow, criador de Trigun.
Ambos eram fãs da obra e sua temática, e sempre soltavam uma referência aqui e ali de Samurai Shodown, até serem convidados para participar do design de alguns dos personagens.
Samurai Shodown V Special
A história deste game não é canônica. Sendo considerado um dream match, onde o objetivo é reunir o maior número de personagens e também os mais queridos. Sseu enredo acontece em um linha de tempo e história paralela aos acontecimentos reais de Samurai Shodown. A desculpa para a história é que quando 28 grandes guerreiros se reunirem, eles duelarão até a morte para provar quem é melhor e mais poderoso.
A verdade é que Samurai Shodown V Special é um update do V, tendo melhorado o balanceamento do jogo e também trago todos os 4 chefes anteriores que não eram jogáveis até as mãos dos felizes jogadores. Finalmente Amakusa, Zankuro, Gaoh e Mizuki eram selecionáveis. O jogo também aumentou bastante o nível de violência antes visto nos outros jogos, adicionando até um “Fatality” (Overkill). Movimento que era necessário para desbloquear o verdadeiro chefe no final do game.
Samurai Shodown V Perfect
O mais recente jogo lançado da franquia exclusivamente nesta coletânea, é também uma atualização de Samurai Shodown V, visando corrigir alguns dos erros ainda presentes na versão V Special. Considerado também um dream match, V Perfect não possui história canônica. Sua narrativa acontece devido ao fato de que Kuroko organiza um torneio a mando do Shugunato, buscando os guerreiros mais fortes para participarem dele, e por fim decidir quem de fato merece o título de O Mais Poderoso Guerreiro.
As melhorias em cima deste jogo ficam para a parte sonora e gráfica. Houve uma melhoria na qualidade de som e até mesmo em seu estilo, que mistura um pouco do moderno com a música japonesa tradicional. O jogo ganhou novas animações feitas para as entradas e encerramentos dos personagens. Novamente o balanceamento dad foi regulado e a fluidez em comparação com o Special foi melhorada. Tornando o jogo ainda mais dinâmico.
Conclusão
Para os fãs de SamSho com certeza é uma boa e nostálgica experiência ter todos esses jogos reunidos em um único conteúdo. E para os amantes do gênero luta, Samurai Shodown é um clássico que deve ser jogado, principalmente pelo fato de se diferenciar dos demais títulos da praça.
Então sim, é uma ótima experiência a ser vivida novamente pelos mais old School e aos novos entusiastas dos games de luta, que deveriam saber e experimentar como eram árduas as batalhas em outros tempos.
Este review foi feito com uma cópia de PS4 cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming
Samurai Shodown Neo Geo Collection
Prós
- Save State
- Versões japonesas e americanas
- Modos online
- Museu com muitos extras e curiosidades
Contras
- Alta dificuldade
- Falta de um modo treino
- Lista de golpes muito simples
