Na primeira metade do século passado presenciamos o início de um processo de popularização de obras de ficção que exploravam a temática de monstros gigantes destruindo grandes centros urbanos. Nesse sentido, obras como King Kong e Godzilla nos apresentaram personagens icônicos que marcaram e ainda marcam a cultura pop.
Nos anos seguintes, tokusatsus e animes alimentaram essas histórias, adicionando robôs gigantes à equação. Toda equipe dos heróis coloridos de Super Sentai, por exemplo, contava com um robô pronto para livrar o nosso planeta das ameaças de terríveis criaturas. Torci muito para o Change robô e gigante guerreiro Daileon no final dos anos 80 e início dos anos 90. Ultraman, Gundam e Evangelion seguiram caminhos parecidos: criaturas gigantescas batalhando numa luta mortal e causando destruição no processo (pobres maquetes!).
Em 2018, a desenvolvedora indie brasileira Modus Studios Brazil buscou trazer para os games um gostinho dessas batalhas. Focando no gládio de robôs gigantes em arenas tridimensionais é que surge Override. No final de 2020, sem muito alarde, a desenvolvedora lançou a continuação do jogo de luta de arena, para PC, PS 4, PS 5, Switch, Xbox One e Xbox Series S/X, batizado de Override 2: Super Mech League.
Desenvolvimento: Modus Studios Brazil
Distribuição: Modus Games
Jogadores: 1-4 (local e online)
Gênero: Luta
Classificação indicativa: 12 anos
Português: Legendas e interface
Plataformas: PC, PS4, PS5, Switch, Xbox One e Xbox Series X/S
Duração: Sem registros
Batalhas sem motivações
Por mais que seja divertido presenciar as lutas dos gigantes de aço em diversos formatos, existe toda uma trama por trás dessas batalhas. Geralmente, tais obras focam em guerras espaciais e conflitos sociais num mundo tecnologicamente avançado. Os mechas, por mais que sejam suas estrelas, são tratados como armas de uso militar. E as batalhas dos robôs são a alternativa final (e extremada) adotada após esgotados os esforços para se resolver os conflitos dessas histórias.
No primeiro jogo, Mech City Brawl, o mundo é atacado por uma raça de monstros. Para fazer frente à ameaça dessas criaturas, bem ao estilo Círculo de Fogo (Pacific Rim), os governos se unem e criam robôs gigantes para ajudar a raça humana na defesa do planeta. Override 2: Super Mech League, no entanto, deixa essa trama (nada original) de lado e passa a focar apenas nas batalhas entre os mechas gigantes.
Devemos encarar Super Mech League como um grande sandbox onde robôs se enfrentam em arenas que podem ser completamente destruídas. Não há um roteiro mais bem elaborado que possa nos situar no game. O problema é que ao focar unicamente na batalha, a equipe de desenvolvedores acabou entregando algo sem profundidade e motivação.
As ligas dos mechas
Apesar do visual bonito, colorido e com personagens com design muito bacana e diversificado, o game é bem modesto quanto ao conteúdo. Temos basicamente um único modo que dá nome ao jogo: as Ligas. As outras opções são variações mais simples do modo principal: Partida Rápida, Versus e Treinamento. O foco da gameplay está voltado para partidas multiplayer local e online de 1 a 4 jogadores. Apesar do processo de busca de adversários ser demorado e conter alguns lags, até que as batalhas funcionam bem. Nesse sentido, o matchmaking busca sempre jogadores que estejam nivelados às nossas habilidades.
Ao iniciarmos a Liga, nossa primeira missão – que é passada por um NPC de nome Zoe em imagens estáticas – é conseguirmos recursos suficientes para desbloquearmos nosso próprio mecha. Essa personagem humana serve de ponte para nos situar minimamente no jogo e dar um contexto, sem muita profundidade, para as batalhas. Aqui elas são geradas de forma aleatória e ao vencermos recebemos pontuações que aumentam o nosso ranque e nos garante uma quantia de dinheiro para desbloquearmos mechas e adquirirmos itens cosméticos, tanto para o nosso avatar quanto para os robôs, no menu Garagem.
Essas pontuações podem ser “tunadas” se conseguirmos patrocinadores. Na verdade, o patrocínio foi uma forma que os desenvolvedores encontraram de acrescentar de forma mais orgânica objetivos diversos com tempo limitado e que garante uma recompensa extra quando concluídos. Quanto maior for o nosso ranque melhor serão as premiações oferecidas pelos patrocinadores.
Contando com o DLC pago que nos dá acesso ao Ultraman, temos ao todo vinte e um mechas à nossa disposição e oito arenas. Porém, iniciamos a Liga com apenas cinco robôs. O engraçado é que quando conseguimos desbloquear nosso primeiro mecha, os outros que apareciam no menu de seleção de personagens somem e passamos a usar somente aqueles que desbloqueamos na Garagem.
Disputas travadas
Override 2: Super Mech League performa muito bem, ao menos no Xbox Series S. As lutas são bem fluidas, apesar da física tentar emular o peso dos gigantes de aço. O excesso de elementos em tela em alguns cenários e a câmera, por outro lado, prejudicam um pouco a gameplay, principalmente em partidas em grupo (2v2). O foco da câmera em nosso adversário é automático, mas, às vezes, no meio das batalhas ela foca em outro personagem, fazendo com que fiquemos perdidos nas arenas tridimensionais. Podemos mudar a trava do alvo para manual no menu de opções, mas ainda sim a movimentação da câmera incomoda e os combates são confusos.
Os controles, apesar de usarem praticamente todos os botões do joystick, são simples e fáceis de serem executados. Nosso robô pode dar socos e chutes (esquerdo e direito) apertando os botões de “ombro” (LB, LT, RB e RT) e fazer combinações de golpes diversos com esses comandos. Podemos ainda saltar, agarrar, defender, dar uma espécie de dash (Impulsão) e aplicar um golpe especial Supremo que fica disponível quando a barra amarela que fica abaixo da azul de vitalidade fica cheia (apertando o LS). Concentrar energia para dar o golpe Supremo é quase uma missão impossível, pois temos que ficar de olho em focos de luz que surgem no cenário e que preenchem a barra do especial.
O problema é que apesar da variedade de golpes dos mechas, os comandos são basicamente os mesmos, não importa o personagem que escolher. E não há também muitas opções de combo, fazendo com que as disputas sejam um pouco travadas. O acréscimo de Ultraman via DLC pago é bem legal (mas, podia já estar no jogo gratuitamente), principalmente para aqueles que acompanham ou acompanharam em algum momento da vida a série do herói. O personagem conta com movimentos e golpes típicos e aquece o coração dos otakus mundo afora.
Um game indie com recursos limitados
Override 2: Super Mech League se esforça em ser um jogo AAA (até mesmo no preço), mas deixa evidente se tratar de um game indie com recursos limitados. Os menus são simples, os robôs (sem trocadilhos) não possuem vida e não contam até mesmo com voice action. Não há uma história ou um modo campanha para desbravarmos. Como o foco se concentrou todo nas batalhas das Ligas, esperava um pouco mais de zelo nas lutas e na gameplay em si, pelo menos. O desbloqueio de itens cosméticos, usado como estratégia para aumentar a longevidade, não são suficientes para manter nosso interesse nele. Em linhas gerais, apesar de distrair e de apresentar uma variedade considerável de mechas para controlarmos, não temos muito o que explorar no game e as partidas acabam se tornando chatas e repetitivas com o tempo.
Cópia de Xbox Series S cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong