A comercialização de drogas, mesmo sendo uma atividade ilícita, é também um dos maiores e mais lucrativos ramos de atividade econômica no mundo. Foco de violência e corrupção, infelizmente, torna-se uma fonte de renda para muitas pessoas, sobretudo na América Latina. Envolvendo uma ampla rede de negócios que engloba desde a produção dos narcóticos até sua distribuição, como seria gerir todo esse império clandestino?
Cartel Tycoon é um vindouro jogo de simulação e gerenciamento para PC, desenvolvido pelo pequeno estúdio russo Moon Moose e distribuído pela tinyBuild. Disponível em acesso antecipado desde março, o que podemos esperar?
Desenvolvimento: Moon Moose
Distribuição: tinyBuild
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Estratégia, Simulação
Classificação: 18 anos
Português: Interface e Legendas
Plataformas: PC
Duração: Sem registros
“Eu não estou em perigo. Eu sou o perigo.”
Em seu Modo História, Cartel Tycoon narra a ascensão de César Garcetti, também conhecido como Gusanito, como chefe de um cartel da cidade de Amado. Desempregado e precisando de dinheiro, César faz uma ligação após ver um anúncio de trabalho no jornal – pois é, bem vindo aos anos 80 – e é imediatamente contratado por um homem misterioso. A partir daí, inicia-se sua carreira no mundo do crime.
Cartel Tycoon é completamente ambientado em uma parte fictícia da América Latina, ou seja, os nomes de cidades como Puerto Roja, Foscaní e Los Grandes, juntamente com seus respectivos prefeitos Andrés García, Almagro Torres e Orson William Blake são inventados, podendo ou não ter algumas semelhanças com locais da vida real. Ainda que esse não seja o foco, dado que muitos jogos de gerenciamento não possuem histórias, há aqui um certo desenvolvimento de personagens até satisfatório, que ainda serve para explicar o porquê da necessidade de ter vários tenentes – como explicarei mais à frente.
“Você conhece o negócio e eu conheço a química.”
O objetivo principal, assim como a contraparte do mundo real, sempre será expandir os negócios ao máximo de territórios possíveis e fazer fortuna com a venda dos ilícitos. As primeiras missões servem como uma espécie de tutorial para o jogador aprender a como montar a rede de produção e distribuição de drogas, além de cumprir os requisitos para desbloquear a próxima parte da narrativa do César. A cada nova construção liberada, um balão com informações adicionais é exibido na tela, explicando seu funcionamento. Esses aspectos didáticos contribuem muito para a compreensão dos menos atenciosos e, principalmente, daqueles que não estão familiarizados com o gênero.
À grosso modo, a jogabilidade se dá da seguinte maneira: as plantas são cultivadas em fazendas, processadas em laboratórios e oficinas, guardadas em armazéns e vendidas através de pontos de contrabando, como portos e pistas de pouso. Todas essas propriedades devem ser ligadas por estradas, para permitir a ida e vinda dos recursos por caminhões. E é justamente neste ponto que nos deparamos com uma mecânica singular: a parte financeira do Cartel Tycoon gira em torno de dinheiro sujo e dinheiro limpo.
O dinheiro sujo é conseguido pela comercialização dos entorpecentes em qualquer via: aérea, terrestre ou marítima. Ele é usado na construção e manutenção de prédios e só pode ser manejado pelo subchefe – o César – e seus tenentes. Os tenentes são pessoas contratadas para ajudar o subchefe em suas tarefas, como proteger pontos de tráfico de gangues rivais e negociar vantagens com órgãos públicos.
Por sua vez, o dinheiro limpo só pode ser obtido através da famigerada lavagem de dinheiro por meio de edifícios diversos construídos na cidade, como empresas de táxi, cassinos, parques de diversão e – olha, que surpresa – igrejas. A prática se faz necessária porque algumas coisas só operam com dinheiro limpo, como a construção de estradas de asfalto e a pesquisa para desbloqueio de novas tecnologias. É preciso ser hábil para não deixar nenhum dos dois chegar a zero, sob pena de morte.
Inclusive, essa é a justificativa para a contratação de tenentes leais e obedientes. Em diversas ocasiões dentro do jogo, a morte do subchefe pode ocorrer: em disputas por território, assassinado por um tenente com baixo nível de integridade – mal pago, em outras palavras – executado por autoridades da lei ou morto pelo próprio cartel quando o dinheiro acaba. Se alguma dessas situações acontecer, a campanha pode continuar com a nomeação de um dos tenentes para o cargo de subchefe. No caso de não existir mais nenhum tenente, é game over.
“Seu produto é um refrigerante sabor cola, genérico e mal feito. O meu é Coca-Cola.”
A qualidade gráfica de Cartel Tycoon está bem acima para os padrões que costumamos encontrar em jogos independentes. As cores, sombras e texturas são muito bem trabalhadas e o nível de detalhes ao aproximarmos a câmera é de impressionar. Em conjunto, a trilha sonora consegue ser animada e acompanha perfeitamente a ambientação – pode esperar muitos tambores e violões. As horas gastas, a depender desses aspectos, não serão nem um pouco enfadonhas ou entediantes.
Se tratando de fatores mais técnicos, a otimização e desempenho estão excelentes. Bastam segundos para pularmos as poucas telas de carregamento, mesmo em saves com várias horas de conteúdo e, por isso, pesados. A ausência de bugs, principalmente por se tratar de uma versão em early access, também merece um destaque.
“Nunca cometa o mesmo erro.”
Assim como eu mencionei na review do DLC de Two Point Hospital, A Stitch in Time, é gratificante notar que o principal problema que assombra jogos de gerenciamento, a repetição, tenha sido contornado. Pela história ser gerada de modo procedural, é garantido que as partidas nunca sejam iguais, e essa mecânica se encaixa bem para a proposta do Cartel Tycoon. No momento, apenas os modos História e Mundo Aberto estão disponíveis. Contudo, é esperado a adição de outros dois novos em breve: sobrevivência e multijogador. E levando em consideração o material que temos até aqui, nossas altas expectativas dificilmente serão frustradas.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong
