Após o enorme sucesso de Postal 2 e uma enorme decepção com Postal 3, a Running with Scissors busca sua redenção: é a promessa da sequência digna! Mais piadas de humor duvidoso, críticas ácidas, violência, e tudo isso no bom e velho estilo do Postal Dude. Mas, realmente vale a pena tentar ressuscitar uma franquia de conceito datado só pra tirar sarro do mundo atual?
Desenvolvimento: Running with Scissors
Distribuição: Running with Scissors
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Ação, Tiro
Classificação: 18 anos
Português: Não
Plataforma: PC
Duração: Sem registros
Polêmicas e conflitos
Uma breve contextualização antes de partir para a história do jogo em si. Postal 3 gerou muitos problemas, e a culpa disso foi principalmente da publisher russa Akella, que apressou para que saísse antes de estar pronto. Isso fez com que a própria Running with Scissors – criadora original da série – desertasse completamente ele e buscasse fazer uma outra sequência de forma independente e com seu próprio ritmo. É possível ler sobre essas polêmicas na página oficial do game no site da desenvolvedora e na descrição de Early Access do Postal 4 na Steam.
Então temos Postal 2: Paradise Lost, um DLC lançado para o segundo título da franquia em 2015 (12 anos depois do lançamento do jogo base) para explicar a ligação entre o segundo e o quarto game, manter o cânone dos fatos e dar uma conclusão para a cidade de Paradise. Comentando um pouco sobre, observando as análises da Steam, posso dizer que aparentemente os fãs abraçaram a ideia e estão apoiando a RWS com os seus projetos – e são muitos os elogios.
O mundo tá chato
Tudo isso nos leva finalmente para POSTAL 4: No Regerts em que, após os acontecimentos de Paradise Lost, Postal Dude decide procurar um lugar menos ruim para morar e viver, e infelizmente no começo da aventura ele acaba perdendo o seu carro e seu trailer num posto de gasolina por ter esquecido de trancá-los. Independente das adversidades e ainda determinado pelo seu cachorro Champ, ele olha para frente e segue andando para a cidade próxima, Edensin – piadoca com inglês de Eden do jardim e Sin de pecado -, na esperança de construir uma nova vida nesse lugar que Deus deu a oportunidade de conhecer e, claro, novas oportunidades para causar e esculachar tudo e todos.
Como se deve esperar, o enredo não é dos mais complexos e as piadas são de muito mal gosto. São alguns anos de diferença desde o segundo game, e aqui eles estão preparados para atualizar as críticas utilizando piadas com pandemia, Donald Trump e todas as polêmicas da sua campanha, Twitter e o politicamente correto, fake news, etc. Ninguém está livre. Entendo que esse tipo de humor de sátira e extremo não seja para todo mundo e, independente de qualquer coisa, todo mundo está sendo zoado. Não parece haver um espectro político claro que possa se encaixar dentro da mensagem que o jogo passa, e isso pra mim valida as críticas de certa forma: não existe favoritismo e não lembro de em algum momento sentir que “pegaram leve” com um tema específico, mas sim é a piada pela piada independente de opinião – que, particularmente, são piadas que eu ri bastante jogando. Se você curte GTA e Saints Row, ou seriados como South Park, provavelmente você não sairá decepcionado
Polêmicas e conflitos Parte 2
Para explicar aspectos da gameplay, também será necessário contar um pouco da história dos video games. Postal 1 foi um jogo de tiro com visão isométrica para PC lançado em 1997, em que o objetivo era literalmente matar tudo e todos, com a premissa do protagonista estar “purificando” o mundo. Obviamente que se envolveu em muitas polêmicas, banido em vários países, usado como tema de processo nos Estados Unidos, levantou a bola da discussão de violência em games, e por aí vai. Mesmo que tenha sido feito muito sensacionalismo em cima do caso, uma crítica válida – que inclusive eu concordo – é que não é uma sensação tão boa sair matando pessoas inocentes sem qualquer motivo como se fosse nada, e a parte de ser um objetivo do jogo foi o principal ponto para ter causado tanta discussão: o game te “manda” matar. Realmente é difícil defender esse ponto, mesmo que nessa época já existisse classificação etária e, obviamente, Postal 1 estivesse devidamente rotulado para maiores de idade, além de estar com avisos de possuir temas sensíveis.
O principal problema era a parte de matar ser um objetivo, e com isso em mente que chegamos em Postal 2. Ironicamente, as missões se baseiam em atividades cotidianas do dia-a-dia, ir comprar leite no mercado, pegar fila no banco, votar, etc. A forma certa de se jogar é sendo bonzinho, e o mais genial é que é praticamente impossível não morrer de tédio ou ficar frustrado fazendo essas coisas. As pessoas são babacas, metade da cidade parece querer te matar, entre outros fatores. Lembra que eu disse que literalmente têm uma missão de pegar fila no banco? Acaba que, indiretamente, você é forçado a matar algumas pessoas, mas é uma escolha completamente pessoal. Pra mim, isso que deixa Postal 2 tão genial, combinado com a história da Running with Scissors e toda a polêmica por trás do primeiro Postal que, aliás, aproveitaram para “aloprar” completamente no 2 quem criticou a empresa.
Aquele jogo que dá pra usar um gato como silenciador
Como proposta, Postal 4 busca uma certa nostalgia do segundo jogo. A gameplay e as mecânicas se assemelham muito ao clássico, a movimentação, como as armas funcionam, layout do HUD, itens, e até a mecânica de mijar foi colocada. Eu fiz streaming para alguns amigos de forma privada e muitos confundiram com um grande mod para o Postal 2, e provavelmente por esses motivos que irá agradar os saudosistas, mas, talvez possa existir alguma dificuldade para quem nunca jogou um FPS mais antigo. Por exemplo, não existe a mira que leva a arma para perto do olho, no caso, funciona de forma parecida com Counter-Strike.
As missões são referências diretas às polêmicas passadas da Running with Scissors, uma mesma missão de pedir assinaturas para um abaixo assinado que estava em postal 2 também está no novo jogo. A primeira atividade que é proposta para o jogador é a de incrivelmente conseguir um emprego, e, pasmem, existe uma missão de limpar fezes espalhadas por uma praça. Nem todas as fases estão nessa “pegada”, e acredito que deram uma variada maior para explorar outros temas, mas os desenvolvedores estão direcionando o estilo das missões para conceitos semelhantes aplicados no segundo título. E isso agora não como crítica, mas como referência e saudosismo.
Velhos hábitos, novos meios
O gráfico de Postal 4 está mais cartunesco, com um leve contorno em volta dos modelos – que pode ser desligado nas opções, se preferir -, sem falar que é possível usar um sistema de metrô (que funciona como um fast travel) e um veículo para se locomover entre os objetivos que, aliás, é uma cadeira de rodas elétrica. Coisas estas que foram implementadas pela tentativa de se fazer algo muito mais livre e aberto que os outros jogos.
O mapa está enorme, e ao decorrer dos dias vão se abrindo outras áreas, mas no lançamento final é esperado que seja ainda maior. No caso, o mundo aberto do segundo jogo não é realmente aberto, mas está mais para corredores interconectados separados por loadings, muito disso por causa das limitações da época e do motor gráfico usado. Esse tipo de liberdade em jogos em primeira pessoa não era algo tão comum e, no geral, os FPS da época eram corredores para o single player ou arenas pequenas para o multiplayer. Em Postal 4, puderam usar do poder de processamento atual para criar um verdadeiro mundo aberto para a série.
Um aspecto extremamente importante para também ser levado em consideração é a liberdade, aquilo que fez com que Postal tivesse seu nome tão falado. Quando testei o jogo, eu parei um momento para brincar com o sandbox e esquecer das missões. Quando era mais novo era algo que me prendia mais, e mesmo hoje em dia não me chamando tanto a atenção, consegui me divertir explodindo pessoas, matando policiais, mijando e fazendo outros vomitarem, decepando cabeças, etc. Tanto a parte de completar missões quanto a de se divertir no mundo aberto estão recebendo os devidos cuidados.
Pelo menos pior que Postal 3 não é
Desde Outubro de 2019 está aberto o Early Access do Postal 4, e nesses aproximadamente 3 anos ele ainda está longe de ser um produto completo. No momento da publicação desta preview, joguei a build 0.3.1.1 de 1 de março. Nesse estado, o jogo possui problemas gravíssimos de performance, sendo quase impossível uma gameplay minimamente estável, sem contar os constantes crashes, paredes sem colisão, quedas para fora do mapa, problemas nas textura, bug de trigger para completar missão, e tudo isso só com o pouco que está implementado. O detalhe maior é que ainda falta muita coisa para ser colocada. Está disponível também apenas 3 dos 5 dias prometidos do produto final, parecendo até que foi dividido em capítulos, como um título da Telltale Games, em que partes são lançadas de tempos em tempos e o conteúdo completo estará apenas disponível depois de meses – que, no caso, esse sistema de “dias da semana” foi usado também em Postal 2.
O mapa não é vazio, mas tem muitos prédios sem qualquer objeto dentro, apenas mostrando algo que futuramente ainda será adicionado. Partes das cutscenes mostram claramente que ainda não estão completas, e dá pra ver que tem uma falta muito grande em certos efeitos e detalhes de missões, tanto secundárias quanto principais – mesmo dos dias que já foram lançados. Mas, depois de todos os problemas, o pior para mim são os loadings entre áreas do mundo aberto. Enquanto estamos andando de carrinho, de repente, tudo congela e surge um loading, uma limitação do game antigo de 20 anos atrás que é uma completa vergonha de se ver em 2021 – é prometido uma otimização que encurte o tempo do carregamento, mas o ideal mesmo é que não tivesse.
Apesar de todos os problemas, é deixado claro que ainda é apenas uma Janky Alpha, e que eles entendem os defeitos e essa situação crítica, além de existir a opção de mandar um report para os desenvolvedores sobre bugs ou recomendações. Mesmo assim, o progresso está sendo constantemente salvo, portanto, quando acontece algum erro ou crash o que foi feito não é tão perdido. Poucas vezes foram que esses acontecimentos bruscos realmente quebraram o ritmo da gameplay.
Só sendo doido para querer jogar isso
No estado atual do alpha, não recomendaria para qualquer um comprar apenas pela curiosidade, mas indicaria se você gosta de jogos de tiro, de humor pesado com sátira, e principalmente se é fã de Postal 2. Ainda não é algo agradável de se jogar no geral, e a real diversão estará em acompanhar o progresso do game e ajudar no desenvolvimento reportando bugs, já que pela experiência em si ainda não vale a pena. Importante também dizer que está disponivel apenas o idioma inglês e sem legendas, e não existe previsão para uma tradução em português, por isso, não recomendaria para alguém que não domina tão bem a lingua inglesa, piadas e trocadilhos não farão tanto sentido sem o devido contexto.
O preço na Steam é corrigido pelo dólar, e buscando pelo histórico de preço já foi a época em que Postal 4 esteve mais barato. Quando entra algum evento de promoção, geralmente é possível ver descontos de até 20%. Não que o jogo seja caro, mas é consideravelmente salgado levando em consideração o produto entregue.
Existem muitas promessas ainda para Postal 4, e sua versão final não parece estar tão perto de sair. Por isso, como fã dos desenvolvedores e do jogo, estarei acompanhando o desenvolvimento, e quando for lançado o jogo completo estarei aqui de novo para certificar se a Running with Scissors conseguiu finalmente se redimir.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong
