Grand Theft Auto é uma das franquias que fizeram parte da cultura gamer brasileira nos anos 2000. O famoso GTA foi um grande sucesso em nosso país graças ao PlayStation 2 e a pirataria. Até hoje é possível encontrar as dezenas de cópias modificadas de GTA: San Andreas.
Eu fui um dos donos de PS2 que tiveram a oportunidade de jogar os GTA lançados no console. GTA: Vice City e GTA: San Andreas foram títulos nos quais passei um bom tempo me divertindo, seja explodindo carros ou tentando completar suas missões. O anúncio da Definitive Edition em outubro me trouxe um pouco de nostalgia e fiquei animado com a possibilidade de jogá-los novamente. Contudo, a falta de vídeos de jogabilidade e as primeiras imagens divulgadas me deixaram com um pé atrás em relação a essa versão definitiva. Agora que joguei, posso dizer que foi bom ter me segurado.
Desenvolvimento: Grove Street Games
Distribuição: Rockstar Games
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Aventura, Ação
Classificação: 18 anos
Português: Legendas
Plataforma: PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series, PC, Switch
Duração: 24 horas (campanha)
Os anos de ouro da Rockstar
Grand Theft Auto III foi um dos jogos mais revolucionários lançados na geração do PS2. O título não apenas mostrou que era possível criar um mundo aberto que oferece liberdade ao jogador para fazer o que ele desejar, como também serviu de inspiração para muitos outros games.
Lançado em uma época conturbada, logo após os ataques de 11 de setembro e buscando ser uma sátira da cultura americana, GTA 3 chamou a atenção de jogadores e críticos. Sendo o jogo mais vendido em 2001, ele ajudou a Rockstar a se destacar entre os rivais e fez com que a desenvolvedora continuasse com esse sucesso ao produzir sequências.
Grand Theft Auto: Vice City, lançado em 2002, e Grand Theft Auto: San Andreas, em 2004, continuaram com o sucesso de seu antecessor. Estes dois principalmente foram muitos queridos pelos fãs, com muitos gostando da época representada dentro de suas histórias e seus personagens.
Em Grand Theft Auto III seguimos Claude, um criminoso mudo que é traído por sua namorada Catalina, após roubar um banco em Liberty City em 2001. Após conseguir escapar da prisão, o protagonista busca vingança e começa a trabalhar para diversos grupos criminosos da cidade, como a família mafiosa Leone, a Yakuza e um corrupto empresário.
Grand Theft Auto Vice City acontece em 1986, na cidade de Vice City. Tommy Vercetti é um membro da família mafiosa Forelli, uma das maiores de Liberty City, e acaba de ser liberado da prisão após passar 15 anos cumprindo pena. Seu chefe, Sonny Forelli, o envia para Vice City para conseguir drogas para a família, mas Tommy sofre uma emboscada. Agora, em uma cidade desconhecida, o criminoso busca recuperar o dinheiro perdido e se tornar o principal barão do narcotráfico do local.
Já Grand Theft Auto: San Andreas ocorre em 1992. Seguimos Carl Johnson, um jovem negro de Los Santos que, após passar cinco anos em Liberty City, retorna à sua cidade natal para o enterro de sua falecida mãe. CJ descobre que as coisas estão piores do que quando foi embora, com sua gangue, Grove Street Family, despedaçada e o crack marcando presença nas ruas. Junto com seu irmão, Sweet, Carl decide reformar a gangue e recuperar o controle da sua vizinhança.
Os três títulos foram lançados em períodos bem próximos uns dos outros. Porém, é válido dizer que GTA envelheceu mal se comparado aos outros games de sua época. Seus visuais, jogabilidade e certas decisões de design já estão ultrapassados e experimentar os três jogos nos dias atuais acaba sendo um pouco difícil. Por isso, uma edição melhorada foi uma boa ideia quando anunciada originalmente.
Enquanto algumas coisas realmente foram melhoradas, muito da trilogia continua idêntico aos originais. Novos problemas também existem, o que faz com que seja questionado o quão definitivo é este pacote.
A velha experiência GTA
Grand Theft Auto: The Trilogy – The Definitive Edition é um pacote que traz três jogos da franquia GTA que foram lançados no PlayStation 2. Quem jogou os originais irá se sentir em casa, pois a jogabilidade continua idêntica e existem apenas poucas diferenças.
As principais mudanças são: a adição da roda de armas que foi introduzida em Grand Theft Auto V e o sistema de mira livre. São poucas as inovações, e títulos como Grand Theft Auto III necessitavam de uma melhoria a mais em seus controles. Nem mesmo a opção de nadar, que apareceu em San Andreas, foi adicionada nos outros dois games.
Também foi possível perceber que as físicas dos carros mudaram um pouco, com alguns veículos sendo mais difíceis de controlar do que nas versões originais. As animações também tiveram alguns cortes sendo que algumas foram completamente removidas.
Os controles continuam idênticos aos originais, e a única diferença é a possibilidade de acelerar e frear os veículos com os gatilhos. Utilizar armas ainda é bem limitado e a nova mira acaba atrapalhando bastante em certos combates.Grand Theft Auto: San Andreas é o pior exemplo disso, pois utilizar armas de corpo a corpo com o protagonista Carl Johnson acaba sendo uma experiência extremamente complicada visto que a câmera não foca no oponente.
A câmera livre também foi adicionada em Grand Theft Auto 3 e acaba ajudando jogadores a poderem observar o seu redor em busca de ameaças. Contudo, esta era apenas uma das pequenas mudanças que o game precisava, e outras ainda mais essenciais ficaram de fora.
Três jogos, três experiências diferentes
Grand Theft Auto III, Vice City e San Andreas, são três títulos bem similares mecanicamente e utilizam muitos elementos de design semelhantes entre si. Enquanto San Andreas é o que mais se afasta, ao ser comparado lado a lado com os outros, III e Vice City são idênticos com apenas pequenos detalhes mostrando a evolução do segundo em relação ao seu antecessor.
Com isso em mente, é estranho que os três ports passem uma sensação de que cada um foi desenvolvido por empresas diferentes. Existem certos momentos, que notei durante minha experiência, que fez com que eu me questionasse como foi a forma de trabalho da Grove Street Games com a coletânea. Todos os três jogos possuem legendas em português, quedas de quadros de animação por segundos, bugs bizarros e visual repaginado.
Contudo, a experiência em geral tem mudanças entre os games. Um exemplo compartilhado entre GTA III e Vice City que notei foi em relação aos Rampages, missões extras que precisam ser localizadas pelo mundo e recompensam os jogadores com dinheiro após eliminar um certo número de membros de gangue durante um limite de tempo.
Em GTA III, os Rampages são ainda mais difíceis do que no lançamento original, isso porque o jogo não faz com que muitos membros de gangue apareçam, complicando a caça do jogador por eles. Já em Vice City, o oposto acontece e a diferença fica bem evidente.
Já San Andreas é o que mais leva tempo para carregar entre cutscenes. Por que o jogo não foi otimizado igual aos outros é algo que não sei responder. O game também foi no qual mais encontrei problemas entre os três, apresentando muitas quedas nos quadros de animação e alguns erros bem chatos, como personagens andando no chão e missões não finalizando por falta de cenas animadas.
Visuais de chamar atenção
Grand Theft Auto: The Trilogy – The Definitive Edition tem como principal mudança os visuais dos games incluídos no pacote. Utilizando o motor gráfico Unreal Engine 4, a Grove Street Games deu uma repaginada bacana nos gráficos.
Novos efeitos de iluminação são utilizados com resultados diferentes. Em GTA 3 e San Andreas, um pouco do charme dos originais foi perdido e algumas cenas são bastante escuras. Vice City é o total oposto, com a vibe dos anos 80 do título se aproveitando bastante da mudança de efeito de luz.
Os modelos dos veículos são muito bons, com cada um deles sendo bem modelado. O problema está nos pedestres e personagens não controláveis, pois todos estão feios e parecem mais com bonecos retirados de um jogo de baixa qualidade. Vilões que não possuem muita presença na história também sofrem e em algumas cenas é bastante visível a diferença de qualidade dos modelos dos protagonistas com os outros ao seu redor.
As cidades também foram reconstruídas com os novos visuais e, enquanto alguns pedaços ficaram realmente bons, é notável a mudança que o novo motor gráfico causa na ambientação. Graças ao poder dos atuais consoles tivemos a perda da neblina, muito utilizada em GTA 3 e San Andreas por causa das limitações do PS2 na época. Por outro lado, ela também ajudava no clima dos games, e sem ela temos a sensação de algo incompleto.
Por fim, a chuva também sofreu bastante mudanças, passando de algo vísivel mais sem chamar a atenção para um efeito visual muito esquisito e que distrai em alguns casos.
Um Remaster que poderia ter sido melhor
Grand Theft Auto: The Trilogy – The Definitive Edition é um pacote que fica devendo muito para ser considerado a edição definitiva de GTA. Os três títulos são bem divertidos e oferecem bastante conteúdo adicional além de suas histórias. Contudo, os diversos erros que aparecem, modelos esquisitos e a remoção de certos elementos que ajudavam na imersão dos jogos, como músicas, acabam impedindo que esta possa ser a melhor versão a ser adquirida dos games.
A falta de importantes atualizações nas mecânicas dos títulos, principalmente em GTA 3 e Vice City, e as poucas adições não fazem valer o valor cobrado. Vale também ressaltar que encontrei diversos problemas de performance jogando-os num PS4 base, então mantenha isso em mente caso seja seu interesse em adquirir a trilogia em uma plataforma da geração passada.
Cópia de PS4 cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong
Grand Theft Auto: The Trilogy - The Definitive Edition
Prós
- Três clássicos em um único pacote
- Legendas em português
- Jogabilidade continua simples e fácil de se dominar
- Novos efeitos de iluminação são bons
Contras
- Nenhuma melhoria de jogabilidade
- Modelos dos personagens são feios
- Muitos erros e problemas que afetam a experiência
- Não há nenhum conteúdo novo em relação a outros relançamentos
