Capa do jogo Spyro Reignited Trilogy

Review Spyro Reignited Trilogy (Switch) – Do cubismo dos pixels à arte gameficada

Há exatos 21 anos, a Insomniac Games lançava Spyro the Dragon. O jogo foi um sucesso entre o público infanto-juvenil e, como consequência, foi continuado em dois outros títulos: Ripto’s Rage (1999) e Year of the Dragon (2000). Ainda que um quarto capítulo da história do dragãozinho roxo não tenha sido escrito, é certo que ele nunca deixou o nosso imaginário, eternizado nas memórias da infância de muita gente.

Logo, Spryo Reignited Trilogy foi o presente que esperávamos há muito tempo – não da forma como gostaríamos, mas igualmente bem-vindo. Será?

Desenvolvimento: Toys for Bob e Iron Galaxy

Distribuição: Activision

Jogadores:

Gênero: Ação, Aventura

Classificação indicativa: Livre

Português: Dublagem, legendas e interface

Plataformas: PS4, Switch, Xbox One, PC

Duração:12 horas (campanha)/ 34 horas (100%)

Um conto em três partes

Se você não jogou a epopeia tripla de Spyro quando era criança, cabe aqui uma introdução. Na primeira aventura, enfrentamos Gnasty Gnorc, um ogro que petrifica todos os dragões do reino por conta de um ego ridiculamente frágil; Na segunda, conhecemos Riptor, um tirano vindo de outra dimensão que está gradativamente tomando as forças do mundo mágico para si; E, na terceira, temos que resgatar os ovos sequestrados pela maligna Feiticeira – que deseja impedir a repopulação da espécie alada. 

Mas é importante questionar: o que sei sobre os personagens depois que termino a história? Muito pouco. A grande verdade é que o foco de Spyro não é a narrativa. Basicamente somos introduzidos à trama no começo dos jogos, mas ao longo dele temos pouco desenvolvimento acerca das motivações dos vilões – logo eles caem na cilada do “ser vilão” por simplesmente ser mal, a única que foge dessa regra é Bianca, uma das antagonistas de Year of the Dragon.

Pondo essa questão a parte, um ponto bem positivo é que o jogo não te força a começar em Spyro the Dragon e seguir a sequência cronológica: você tem o controle de por onde deseja iniciar a jornada no menu principal. É importante ressaltar, entretanto, que as três histórias estão conectadas de maneira sutil e é interessante jogá-las na ordem para entender algumas das situações ou reconhecer o elenco principal de personagens, mas é bacana que a desenvolvedora tenha nos dado essa liberdade.

Exploração de cenário em Spyro

Mergulhando nos portais

É quando entramos nas escamas do protagonista e mergulhamos nos portais que Spyro brilha. A experiência é muito cativante e antes que você se dê conta, algumas horas do dia já terão passado. O fato do jogo lhe desafiar o tempo todo apenas soma na vontade de permanecer na gameplay. E o que isso quer dizer? As remasterizações possuem uma interface onde acompanhamos o nosso progresso de coleta e só por ela existir, já somos tentados a completar cada fase, cada mundo e, por fim, cada jogo. 

No arquétipo de plataformas, a grande dificuldade enfrentada costuma ser os monstros que encontramos pelo caminho, mas esse não é nem de longe o maior desafio de Spyro. A verdade é que as criaturas são particularmente fáceis de serem vencidas, basta uma bola de fogo ou uma cabeçada para que elas caiam – isso inclui também os chefes. É até engraçado pensar que é na exploração dos cenários que encontramos nosso maior inimigo.

Contando com fases de todo o tipo – praias, desertos, vulcões, castelos, etc. -, a trilogia sempre se mostra muito desafiadora nesse sentido, porque existem tesouros que estão tão absurdamente bem escondidos, que podemos passar vários minutos procurando e não os encontramos em canto algum. Se por um lado isso é muito positivo, porque você extrai do jogo o máximo de tempo possível, já que é preciso verificar cada cantinho para deixar os estágios em 100%; por outro, pode ser bem frustrante.

Essa sensação é agravada quando dependemos do voo, da superinvestida ou de outros talentos combinados para alcançar os tesouros. Veja, a física do jogo funciona tão bem, que pode ser muito complicado realizar as ações necessárias – o que é maravilhoso para os jogadores que gostam de serem instigados através do esforço, mas para os casuais, é um pesadelo. Sim, você vai ter que tentar algumas coisas diversas vezes e vai ficar muito irritado. 

Acha que não pode piorar? Errado. No segundo e no terceiro jogo, nem sempre conseguimos coletar todos os recursos na primeira tentativa. É preciso passar a fase com baixa porcentagem e, vários níveis depois, comprar a habilidade que vai nos permitir fechar os 100%. Mais uma vez, é positivo por te fazer extrair o máximo de tempo do jogo, mas negativo porque há fases que são atravessadas e as quais desejamos nunca mais voltar – porém acabamos precisando. 

O legal dessas duas sequências, aliás, é que elas introduzem os minigames. Mesmo que as missões existam desde o primeiro, é a partir de Ripto’s Rage que as vemos desenvolvidas de maneira mais sólida – por exemplo, precisamos cumprir objetivos durante um jogo de hockey ou enquanto andamos de skate para conquistar recompensas. Para mim, que joguei a trilogia de maneira ininterrupta, esses breves e diferentes momentos foram o respiro que eu precisava para dar continuidade.

Interface de progesso em Spyro Reignited Trilogy

Adeus ao mundo quadrangular

Muito embora algumas remasterizações invistam em produção de novos conteúdos, isso não acontece com Spyro Reignited Trilogy. Ou seja, a experiência de jogo é idêntica, então sabemos exatamente o que esperar ou, no mínimo, recordamos de algumas fases ou cutscenes específicas. Isso não é um grande problema, porque, no geral, o intuito das remasterizações é dar upgrade gráfico e não de material in-game – mas é preciso admitir que eu esperava ver uma ou outra novidade que tornasse essas versões ainda mais interessantes e infelizmente isso não aconteceu.

Se neste aspecto me senti um pouco desapontado, o visual do jogo compensou quase que completamente. A evolução gráfica é notável desde o primeiro minuto, quando vemos a cutscene de introdução. É notável o quão cuidadosamente foram feitas a modelagem, a inserção de texturas nos personagens e nos cenários, o jogo de luz e sombras, a animação fluida de quando as coisas se movimentam, etc. É deslumbrante ver um mundo que antes era inteiramente quadrangular e sem muitos detalhes ser reconstituído dessa maneira.

Eu sei o que você está pensando: “Esse é o propósito de um remaster, eles só fizeram o mínimo, atualizando o jogo graficamente”. Errado. Eu parabenizo a direção de arte do jogo porque ela vai além de deixá-lo bonito, ela se esforça para criar um mundo de detalhes, cujos seres possuem personalidades facilmente distinguíveis pela estética.

Na primeira aventura, quando estamos buscando salvar os dragões petrificados, vemos como eles possuem indumentárias diferentes em cada reino e como todos eles diferem entre si: não há um único que se repita. Criar o character concept de mais de cinquenta dragões é um trabalho que eles não precisavam ter, mas tiveram e isso merece mérito. O mesmo acontece nas duas sequências – dando uma caída apenas na terceira, já que os dragões bebês são bem semelhantes.

É claro que isso não influencia apenas nesses personagens secundários e pouco relevantes, mas em nosso herói, seus companheiros e inimigos. Falando particularmente do Spyro, é impressionante o quanto o melhoramento gráfico do jogo me ajudou a perceber melhor quem é o dragãozinho roxo, tornando-o mais carismático a partir do momento em que passei a reconhecer as emoções dele só de olhá-lo – é engraçado vê-lo desconfiado, se sentindo o tal ou com o cenho franzido mediante falas bizarras. Identificar tudo isso é fundamental para construir a figura dele em nossa mente. 

Para agregar ainda mais ao carisma do jogo, temos um excelente trabalho de dublagem. Sim! O jogo além de possuir tradução completa para o português, também recebeu vozes de atores brasileiros. Como fã de videogames, me sinto muito contemplado e respeitado quando vejo que as empresas possuem a preocupação de fazer o jogo acessível em vários idiomas, inclusive aquele do qual sou nativo. Fico ainda mais feliz quando vejo que este trabalho é bem feito, assim posso jogar sem me preocupar com ativar legendas e perder algo que está acontecendo na tela por ter que ler – às vezes acontece.

Captura de expressão de Spyro

Sobrevoando o Switch

Deixando a admiração de lado e focando na portabilidade para o Nintendo Switch, há duas críticas a serem feitas. 

Embora aconteça de maneira discreta, é possível perceber um tipo de “serrilhamento” nos gráficos do jogo. O que isso quer dizer? Quando observamos com atenção, é possível notar os diversos pontinhos que compõem a imagem do personagem e dos cenários – não todos, óbvio, mas não deveríamos ser capazes de enxergar nenhum deles. Isso é suavizado quando jogando no Dock, mas não totalmente.

Outra problemática que encontrei e que certamente é consequência de uma portabilidade mal feita é o tempo que perdemos aguardando os carregamentos – não apenas para iniciar a fase, mas quando morremos durante ela e vamos recomeçar de um certo ponto. No geral, não afeta tanto assim a experiência, mas é incômodo e certamente sinaliza uma redução mal feita do jogo para o Switch – em questão de tamanho (bytes). Basicamente, o jogo é pesado demais e o console não consegue realizar loading ao mesmo tempo que exibe as imagens.

Um dos dragões resgatados por Spyro

Vale a pena?

Com certeza! Spyro Reignited Trilogy é extremamente divertido, foi um deleite para o olhar e tornou-se um escape para a minha rotina tumultuada, trazendo consigo o sabor doce de nostalgia. Apesar de possuir alguns pontos negativos, eles não tornam esta uma péssima aquisição. Na realidade, apesar de desejar um certo refinamento, sei que alguns dos aspectos ruins que encontrei são apenas herança dos jogos originais. Talvez se fosse produzido um quatro jogo, mais atual, poderíamos encontrar uma narrativa mais bem elaborada e uma exploração menos exaustiva – ou, no mínimo, mais recompensadora.

No que diz respeito à plataforma, eu não costumo analisar e determinar se as pessoas devem ou não jogar nela. Acredito que o Switch traz a vantagem da comodidade: podemos jogar aonde e na hora que quisermos. Contudo, graficamente falando, é bem provável que outros consoles sejam uma melhor opção e, se pensarmos em toda a espera despendida em carregamentos, PC, PS4 e Xbox One certamente deixam o queridinho da Nintendo comendo poeira. No fim das contas, tudo depende do que o jogador valoriza mais e eu espero que esta análise te ajude a refletir a respeito.

Esta review foi feita utilizando uma cópia de Nintendo Switch

Revisão: Samuel Leão

Spyro Reignited Trilogy

8

Nota final

8.0/10

Prós

  • Direção de arte
  • Adaptado para Português
  • Sequência à escolha
  • Interface de progresso
  • Minigames

Contras

  • Narrativa rasa
  • Sem acréscimo de novidades
  • Pode ser cansativo e frustrante
  • Serrilhamento dos gráficos
  • Carregamentos longos