A pesca, como uma prática milenar, data do período Paleolítico, existindo há cerca de 50 mil anos. Antes tratada como método de subsistência principalmente por comunidades em regiões costeiras, ela é, hoje, além de um dos motores da economia mundial, uma prática esportiva e hobby exercida por milhares. Ultimate Fishing Simulator 2 se propõe a ser exatamente aquilo que seu título antecipa: a experiência definitiva de uma tão antiga atividade humana. Contudo, a esmagadora realidade tende a ser bem decepcionante.
Desenvolvimento: MasterCode, Silent Bear Studio
Distribuição: Ultimate Games S.A.
Jogadores: 1 (local)
Gênero: Simulação
Classificação: Livre
Português: Interface e Legendas
Plataforma: PC
Duração: Sem registros
Dedo na rede e pescaria
Antes de tudo, é preciso ter em mente que, além do objetivo principal comum a qualquer videogame, que é divertir, os simuladores também buscam a maior fidelidade possível ao objeto ou atividade-alvo representada. Convenhamos que a pesca, apesar de ser um esporte, não é lá uma atividade praticada por muitos quando comparada aos tradicionais futebol, vôlei e basquete. Ou seja, ela acaba se tornando algo de nicho.
E justamente por serem de nicho, jogos assim devem – na humilde opinião do autor – trazer mecânicas inovadoras ou que, pelo menos, chamem a atenção de jogadores mais casuais. Definitivamente, não é o caso de Ultimate Fishing Simulator 2.
Nos colocando no controle de um pescador com uma perspectiva de câmera em primeira pessoa, Ultimate Fishing Simulator 2 segue a fórmula estabelecida no título pioneiro. Nossa principal missão é pescar todos os tipos de peixes que os locais dispõem, com recompensas em dinheiro de acordo com o tamanho dos espécimes. Este dinheiro servirá para comprar novos equipamentos para o ofício, o que inclui novas varas, linhas, anzóis, iscas e outros instrumentos.
Na época de seu anúncio, a sequência de Ultimate Fishing Simulator recebeu diversas promessas de upgrade em relação ao seu antecessor. De cara, a primeira delas não cumprida foi sua data de lançamento. Com o acesso antecipado outrora previsto para a segunda metade de 2020, ele só viu a luz do dia em agosto deste ano, dois anos depois do anúncio oficial. Claro que este fato pode ser justificado pela pandemia da Covid-19, que atrasou também o calendário de lançamento de diversos outros estúdios. Mas e quanto às demais promessas?
Quando um peixe escapa do anzol
O primeiro jogo da série trazia uma perspectiva em primeira pessoa. Como uma das grandes mudanças, a Ultimate Games informou que a sequência traria um suporte à terceira pessoa, sendo algo completamente opcional e permitindo que os jogadores vissem seu personagem durante a ação. Junto a isso, teríamos também a possibilidade de ver outros jogadores em um vindouro modo multiplayer, além da adição de uma câmera subaquática.
Destes recursos, apenas a câmera subaquática foi implementada. Estando disponível no modo normal do jogo, sua visualização possibilita que vejamos exatamente quando as iscas forem mordidas, facilitando a captura dos peixes. No modo realista, essa assistência fica indisponível. Porém, não deveria ser de tal forma, e por dois simples motivos.
O primeiro é pela falta de indicação visual na tela quando fisgamos algo. Não existem pop-ups, sinais ou indicadores de nenhum tipo, o que nos força a, assim como na vida real, verificar a boia da vara de pesca sobre a água. Mas isso nos leva ao segundo motivo, que é a falta de renderização de objetos a longa distância. Isso quer dizer que, quanto mais longe você jogar o anzol, menos o verá e, consequentemente, não saberá quando algo o puxar porque sequer vemos movimentações na água. É uma experiência completamente frustrante.
Faça chuva ou faça sol
Continuando esta linha de raciocínio, outras promessas da Ultimate Games envolvem a parte gráfica e alguns quesitos na jogabilidade. De fato, toda a parte visual recebeu uma repaginada, com cores mais vibrantes e cenários melhor desenhados. Contudo, ainda é um trabalho muito inicial, mesmo para uma produção em acesso antecipado.
A física da água, apesar de não beirar o Cyberpunk 2077, não é suficiente para garantir uma boa visibilidade da ação, e a beleza visual mencionada anteriormente vem a custo de otimização, com quedas bruscas de frames e travamentos ocasionais. Além disso, por mais bonitos que possam ser, os mapas disponíveis – seis, ao todo – são ridiculamente pequenos, o que acaba tirando o prazer da exploração para encontrar os melhores lugares de pesca.
Em relação à jogabilidade, a principal ideia dos desenvolvedores era aprimorar o sistema de inteligência artificial dos peixes e conceder-lhes comportamentos próprios, com cada espécie agindo de uma maneira distinta. Assim, eles não seriam gerados apenas a partir do momento em que a isca caísse na água, como acontece no primeiro título da franquia.
É óbvio que nada disso aconteceu. Mesmo que o jogo possua um sistema de clima, a mecânica é puramente estética. Não existem regras como determinadas espécies aparecerem somente em períodos de chuva ou dias ensolarados, ou seja, todos aparecem em qualquer horário. Da mesma forma que, evidentemente, o suposto aprimoramento na IA da vida aquática não passou de conversa fiada.
Potencial ainda não alcançado
Ultimate Fishing Simulator 2 é um avanço se comparado ao primeiro. Porém, a ausência de vários elementos prometidos o tornam vazio de conteúdo e, de maneira nenhuma, justifica o atual preço cobrado na Steam – ou sequer o tempo gasto pelo jogador. De acordo com a equipe de desenvolvimento, é esperado que ele fique em acesso antecipado por, aproximadamente, seis meses. Com fé, os problemas serão resolvidos e o jogo poderá alcançar o potencial que tem.
Cópia de PC cedida pelos produtores
Revisão: Jason Ming Hong