Capa de A Space for the Unbound

Review A Space for the Unbound (Switch) – Reimaginando as realidades 

Poucos jogos têm a capacidade de nos deixar cansados e depressivos após algumas sessões de jogatina. A Space for the Unbound é um deles, com direito a alerta de gatilho no início da sua execução. Mais uma produção muito bem avaliada da Mojiken chegou no dia 19 de janeiro deste ano para todas as plataformas de consoles atuais e para PC, trazendo aventuras únicas, um visual em pixel art muito lindo e uma mensagem bastante importante na sua narrativa.

Apesar de ter alguns problemas, ele é capaz de cativar um público seleto com uma bela história e com personagens minimamente interessantes. Mas, ainda assim, vale a pena jogá-lo?

Desenvolvimento: Mojiken

Distribuição: Tage Productions

Jogadores: 1 (local) 

Gênero: Ação, Aventura, Puzzle

Classificação: 12 anos

Português: Interface e Legendas

Plataformas: PC, PS4, PS5, Switch, Xbox One, Xbox Series X/S

Duração: 11 horas (campanha)/12 horas (100%)

Um lugar aconchegante

Screenshot de A Space for the Unbound - Vários personagens cativantes e interessantes se espalham pela cidade de Loka, uma vila fictícia da Indonésia

A pequena cidade de Loka, na Indonésia, é onde toda a narrativa de A Space for the Unbound percorrerá uma longa trajetória. Nela, você controla Atma, um simpático rapaz que está no colegial e tem uma boa relação com seus colegas de classe; exceto com alguns valentões da turma, que insistem em provocar quem cruza seus caminhos. Até mesmo o caminho de Raya, sua namorada.

Raya é uma linda garota que leva sempre Atma ao seu limite e traz sempre uma descontração leve e divertida para o dia a dia que ele leva de forma tão sisuda, demonstrando proteção e certa maturidade para com ela. É com ela que uma onda de acontecimentos, cheio de reviravoltas, vem com tudo e abala todo o ecossistema.

Screenshot de A Space for the Unbound - Histórias bonitinhas e curtas vão permear a narrativa e tocar seu coração

Em outros momentos, Atma vai ser uma espécie de um coautor de uma história fabulosa, escrita por Nirmala, uma garota mais nova que adora escrever e que o considera como melhor amigo e seu maior confidente. Parte deste livro é do seu contexto de escrita e é contado desde as primeiras cenas do jogo. Nirmala também sofre com a repressão de seu difícil pai, infelizmente.

É perceptível também que, desde o início, haverá cenários 2D enormes que te obrigam a percorrê-los a pé com o Atma. Mesmo correndo, usando um clique duplo nas setas direcionais ou um toque duplo na alavanca do controle para os lados, a movimentação é bastante lenta (por que não adotar uma viagem rápida de vez em quando ou transições de cutscenes para partes jogáveis, que te deixam no ponto do objetivo, não é mesmo?).

Em contrapartida, o lançamento da Mojiken pressupõe que haja muita contemplação dos seus belos – porém poucos – cenários, uma vez que há poucos momentos de ação. Não à toa, suas paisagens desenhadas são muito bonitas e há riqueza e esmero em mínimos detalhes, todos em uma pixel art muito bem feita.

Resoluções fantásticas

Screenshot de A Space for the Unbound - Referências e muita personalidade se espalham por todos os capítulos de A Space for the Unbound

Além da ambientação muito boa, que te situa nos anos 1990, contamos com uma série de personagens cativantes e interessantes (ou nem todos) que conhecemos pela cidade e que se inter relacionam, além de gatos, patos, um cachorro e outros animais para incrementar o fator fofura no conjunto da obra, na pequena cidade de Loka. Muitos deles têm alguma história para contar e problemas a serem resolvidos pelo mapa ou pelo seu próprio interior. E, sim, é possível entrar numa espécie de subconsciente de vários personagens para resolver questões do seu emocional ou de algum acontecimento passado ruim ao qual ele está preso.

No início, Atma ganha o Grimório Rubro da sua amiga Nirmala, capaz de entrar nesses espaços emocionais de vários e várias personagens. Nesse outro mundo, chamado de Divermenção, Atma desatará nós e enfrentará questões complicadas para libertar a pessoa em questão de pensamentos rotatórios e sentimentos maléficos por meio de resolução de criativos quebra-cabeças e alguns minigames de reflexo.

Screenshot de A Space for the Unbound - Ao longo da gameplay, você terá que lidar com diferentes personagens, de diferentes formas

Se há algo que A Space for the Unbound faz de muito bom, é sua ambientação: em belíssimas cenas pixel art, ele conta histórias curtas e bem cativantes, dignas de “wholesome games” (jogos saudáveis/confortáveis), tendo um poder de imersão gigantesco. Relaxar com o jogo é algo quase inevitável, a não ser por certas situações de quase todos os personagens que ele vai apresentando, as quais pesam demais o seu clima pouco a pouco.

Screenshot de A Space for the Unbound - Opa, mais uma saudosa referência nessa parte!

Os diferentes temas apresentados carregam uma série de questões delicadas que podem engatilhar as piores memórias do passado da pessoa jogadora. E isso, sinceramente, é um ponto que deixa a experiência extremamente cansativa e nada legal. Mesmo com muitos avisos e disclaimers indicando esse potencial risco para quem tenha vivenciado situações ruins, ele é pura tristeza e relações interpessoais conturbadas o tempo inteiro. É uma metralhadora de sentimentos ruins e desconfortáveis. Existe uma recompensa ao final de cada personagem ajudada ou objetivo completado na vila, mas esta é ínfima demais em relação à enorme carga emocional construída até alcançá-la.

Cidade pequena, porém problemática

Screenshot de A Space for the Unbound - Marin é uma amiga muito inteligente de Atma e Raya e terá papel fundamental nas suas tramas

Atma terá que desvendar mistérios de curiosos fatos e surpreendentes atitudes de Raya, além de entender sua relação com a família e com a cidade inteira. Ao longo dessa jornada, muitas coisas estranhas acontecerão nessa pacata cidade e te exigirão uma capacidade mínima nos já citados minigames de lutas com desafios de reflexos e em resolução de rápidos e curtos puzzles, usando seu raciocínio lógico. 

Embora tais momentos empolgantes sejam legais de serem jogados, eles demoram muito para se desenrolar na narrativa. É preciso progredir bastante e ter certo apego ao jogo até que momentos marcantes e realmente interessantes aconteçam.

Screenshot de A Space for the Unbound - Minigames rápidos te exigirão, de diferentes formas, reflexo na ação

Além disso, será legal o exercício de empatia para com diversos personagens que você deverá desempenhar, mesmo com a falsa impressão adicional de rumos diferentes tomados na história através de respostas ou frases durante o diálogo com eles e elas. Nada como uma leve sensação de liberdade de escolha, não é mesmo?

Nenhum desses desafios serão difíceis em muitos momentos, mas todos ficarão mais longos ou trabalhosos, conforme você se aproxima do final. Tais desafios, entretanto, falham demais em atributos de qualidade de vida, principalmente se aliados ao fato de que complexos e grandes cenários vão se desenhando e se espalhando na sua frente, do meio até o final do jogo. Em outras palavras, ele te obriga a “contemplar” os ambientes com lentíssimos movimentos, mesmo no meio de vários de seus puzzles. Economia de tempo às vezes vale ouro em jogos como esse.

Sem trégua para a realidade

Lidar com um jogo que é uma faca de dois gumes é complicado: A Space for the Unbound pode ser em muitos momentos desconfortável e maçante por se estender desnecessariamente com seus puzzles e momentos prolongados da narrativa, bem como pode passar uma energia muito reconfortante e engajante nestes. Vale muito dar uma conferida nesse produto, o qual é muito inspirado em To the Moon e Life is Strange, por exemplo. Entretanto, é importante colocar todos os seus pesos na balança e saber discernir com o que ele oferece.

Ele constrói uma narrativa bem criativa e interessante, pintada numa pixel art única, do início ao final, mas a custos altíssimos no seu meio. Por isso, recomendo também que, se jogar, tenha certa paciência para dar continuidade ao que se desenvolve diante dos seus olhos.

As questões de temas-gatilhos (e haja quantidade de gatilhos para apenas um jogo!) podem ser muito complicadas para várias pessoas, sobretudo num mundo cada vez mais doente mentalmente, mas elas conseguem transmitir uma mensagem emocionante e necessária no final de tudo, mesmo sendo um pouco clichê.

Cópia de Switch cedida pelos produtores

Revisão: Jason Ming Hong

A Space for the Unbound

7

nota final

7.0/10

Prós

  • Narrativa interessante
  • Bela pixel art
  • Puzzles criativos
  • Trilha sonora muito boa

Contras

  • Bastante cansativo na metade final
  • Pouca qualidade de vida
  • Alguns capítulos ficam maçantes muito rápido
  • Temas pesados em excesso
  • Jogabilidade contribui para estender demais a duração